A Polícia Federal (PF) deflagrou na manhã desta quarta-feira, 6, mais uma operação oriunda da Reis do Gado, de 2016, que atingiu em cheio a família do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) – preso preventivamente desde 26 de setembro. Batizada de Replicantes, a ação contou com cerca de 50 agentes e cumpriu um mandado de prisão preventiva e outros dois de prisão temporária contra Franklin Douglas, Alex Câmara e Carlos Cavalcante Mudim Araújo, respectivamente. A investigação indica existência de um esquema de desvios de recursos públicos mediante contratos com o grupo Exata, formado por uma empresa de mesmo nome, além da gráfica WR e da Prime Copiadora.
Direcionamento de licitação
O inquérito policial desmembrado da Reis do Gado após a cassação de Marcelo Miranda aponta indícios de contratação fraudulenta das empresas do grupo Exata com a Secretaria de Educação (Seduc) para fins de enriquecimento ilícito de seu administrador, Franklin Douglas Alves Lemes, e da família Miranda. Conforme a investigação, o ex-governador Brito Miranda e Júnior Miranda também agiam através de Alex Câmara e Carlos Mundim para favorecer as copiadoras e gráficas nos procedimentos licitatórios e até intervir diretamente nos processos de pagamento destes contratos.
Mais de R$ 27 milhões em contratos
Mesmo não diretamente, a Polícia Federal argumenta que o conjunto probatório indica que Franklin Douglas é o verdadeiro administrador das sociedades empresárias que firmaram contratos com a Seduc na administração de Marcelo Miranda. A corporação cita que a WR chegou a ser contratada pela pasta por R$ 5.924.890,00, a Exata por R$ 9.572.928,36 e a Prime por R$ 12.383.781,20 em diferentes períodos. Com isto o mesmo grupo angariou mais de R$ 27 milhões em contratos firmados com a secretaria.
Escutas telefônicas
Escutas telefônicas autorizadas pela Justiça apontam Alex Câmara como o responsável por tratar do pagamento dos contratos das respectivas empresas, articulando um favorecimento, como a agilização dos pagamentos. No inquérito é anexado conversas dele com um servidor da Secretaria da Fazenda (Sefaz), Edson Almeida; com o então ajudante de ordens de Marcelo Miranda, coronel Parrião; e até com Brito Miranda. O teor dos diálogos são sobre processos administrativos envolvendo as gráficas e até para organizar um encontro com o ex-governador no Palácio Araguaia.
Cenourão confirmou relação com família Miranda
Alvo da Operação Carotenóides, o ex-chefe de gabinete e ex-secretário estadual da administração de Marcelo Miranda, Elmar Batista Borges, teria confirmado uma série de indícios apurados pela investigação, conforme afirma a Polícia Federal. Em depoimento, o também conhecido como Cenourão disse que recebeu do ex-governador dinheiro em espécie para comprar um carro e que acredita que a quantia tinha sido entregue ao ex-mandatário por Franklin Douglas, acrescentando que o empresário era o “mais próximo de Marcelo” e que tinha “livre acesso ao gabinete” do então governador.
Membro de comissão de licitação indicado por Júnior
Cenourão também teria dito em depoimento à Polícia Federal que Júnior Miranda – irmão do ex-governador – era o responsável por articular o direcionamento das licitações e que partiu dele a indicação Carlos Mudim para assumir a comissão de licitação da Seduc. Ele ainda narra que a secretária na época, Wanessa Sechim, tentou barrar alguns procedimentos licitatórios de interesse do clã e chegou a pedir a demissão de Mudim, mas o pedido não foi atendido por intervenção de Brito junto a Marcelo.
Intimidação a jornalistas
A Polícia Federal relata ainda episódios de intimidação a jornalistas, um contra Lailton Costa, do Jornal do Tocantins; e outro contra Ana Paula Rehbein, da TV Anhanguera. O primeiro foi procurado por uma série de pessoas diferentes – incluindo o próprio Franklin Douglas – para ser dissuadido da divulgação matéria que tratava dos contratos do grupo Exata com o governo estadual. Ele registrou boletim de ocorrência após a ex-esposa ter recebido ligação para informar detalhes de sua vida pessoal. Já a repórter televisiva responsável por acompanhar os desdobramentos da Reis do Gado teria recebido recado intimidador de uma ligação anônima feita à recepção da emissora.