A exoneração do diretor de Investimento do Instituto de Previdência Social do Município de Palmas (PreviPalmas), Fábio Martins Costa, desnudou de vez a trágica situação do órgão criado para garantir a aposentadoria dos servidores do município. É difícil crer que um diretor sozinho, por sua conta, liberou investimentos de R$ 50 milhões em fundos de risco, aqueles mesmos que deram prejuízos que chegam a R$ 1 bilhão para o Instituto de Gestão Previdenciária do Estado (Igeprev).
Na verdade, o ex-diretor tem a obrigação de vir a público e dar a sua versão. O CT está ansioso e curioso para ouvi-lo. Ou fala, ou carrega sozinho a cruz, saindo da história como o único vilão. É isso? Queremos muito conversar com sr. Fábio Martins Costa.
[bs-quote quote=”Amastha garantiu ao CT que não fazia investimentos do fundo que não fossem junto à Caixa e Banco do Brasil, extremamente seguros. Parece que mudou de ideia” style=”default” align=”left” color=”#ffffff” author_name=”Cleber Toledo” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
De toda forma, o PreviPalmas vive hoje os dramas terríveis que o Igeprev enfrentou há quatro anos. Os mesmos personagens maléficos, conseguindo convencer um fundo de previdência próprio — sabe-se lá com quais atrativos — a aplicar milhões de reais de forma absurda e desnecessariamente arriscada.
A afirmação do prefeito Carlos Amastha (PSB) no vídeo publicado no Facebook de que os servidores do municípios podem ficar “tranquilos” simplesmente não convence. O funcionalismo municipal tem motivos de sobra para não dormir. Vejam: ao mesmo tempo que Amastha diz que o “dinheiro não corre risco nenhum”, também fala que:
1. Está tomando “todas as medidas para que esse dinheiro volte para Palmas”. Hum? Não é só pedir? Não é só sacar? Não é só fazer uma transferência bancária simples?
2. Que o secretário de Finanças, Christian Zini, e o procurador-geral do município, Públio Borges, estão em São Paulo para “uma série de reuniões” com os investidores para “cumprimento da determinação do prefeito” de reaver o dinheiro. Se está tudo tão garantido, por que uma série de reuniões?
3. Que “não acontecendo [vitória nas negociações], procederemos judicialmente”. Como “judicialmente”? Afinal, não está tudo tranquilo?
Ou seja, não há nenhuma garantia de que o servidor veja novamente os R$ 30 milhões, fora outros R$ 20 milhões que seguem pelo mesmo ralo dos fundos de altíssimos riscos, na mão dos mesmos lixos que deram prejuízo já quase bilionário ao Igeprev.
O especialista em mercado financeiro ouvido pelo CT é o grande responsável por essas irregularidades virem a público. Ele levantou todas as informações técnicas junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao Ministério da Previdência Social e outros órgãos. Deu tudo mastigado à imprensa do Estado. Foi o nosso “garganta profunda”, a fonte misteriosa do jornal Washington Post que revelou todo o Caso Watergate, escândalo que derrubou o presidente americano Richard Nixon nos anos 1970. A orientação dele também teve o mesmo sentido do “garganta profunda” dos Estados Unidos: sigam o rastro do dinheiro. Essa fonte que conhece tudo do mercado financeiro garante que os servidores de Palmas podem esquecer os R$ 30 milhões.
Como o “garganta profunda” palmense explicou ao CT, o Regulamento do Fundo de Investimento em Participações (FIP) Cais Mauá do Brasil Infraestutura, em seu artigo terceiro, prevê que o prazo de retenção dos investimentos é de 144 meses (12 anos), podendo ser prorrogado por igual período. Ou seja, esses R$ 30 milhões do PreviPalmas podem ficar retidos por 24 anos, e só ao final desse período o fundo dos servidores de Palmas saberá se houve lucro ou prejuízo.
Então, ficar tranquilo? Como? É melhor não dormir um segundo, ir para cima da gestão da Capital e cobrar.
Em meio à queda de braço com procurador do município Antônio Chrysippo de Aguiar, que o prefeito não queria de forma alguma no Conselho do PreviPalmas, Amastha garantiu ao CT que não fazia investimentos do fundo que não fossem junto à Caixa e Banco do Brasil, extremamente seguros. Parece que mudou de ideia. Como observou o “garganta profunda” sobre a aplicação da Tercon, que recebeu os R$ 20 milhões do PreviPalmas, “tiraram de um fundo da Caixa Econômica Federal com 770 regimes próprios de previdência e aplicaram em um que só tem um, o próprio PreviPalmas”.
Qual a lógica disso? Fariam isso se os recursos fossem deles?
Esta é uma história que só está começando. Vem muitos capítulos por aí.
Aguardemos. E, servidores municipais, orem muito.
CT, Palmas, 13 de março de 2018.