O Bico do Papagaio é onde a Covid-19 mais avança no Tocantins. Em cinco dias, o número de casos cresceu 111,6%, saindo de 86 no domingo, 10, para 182 contabilizados nesta sexta-feira, 15, conforme o Boletim Epidemiológico do governo estadual. Além disso, a região já registra a mortes de dez pessoas, de acordo com levantamento da Coluna do CT. Diante desse quadro, o Centro de Apoio Operacional da Saúde (Caosaúde) do Ministério Público do Tocantins (MPTO) já havia defendido a estruturação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital de Regional de Augustinópolis (HRAug). Entretanto, a unidade já vem enfrentando problemas.
Escassez de EPIs e adoecimento de profissionais
Em relato à Coluna do CT, a enfermeira Raquel Machado Borges afirma que a unidade já conseguiu se “adequar” para separar uma ala para a Covid-19, mas elenca como “problema mais sério” a “escassez” dos equipamentos de proteção individual (EPIs). “A gente não consegue trocar máscaras e capotes quando necessários”, relata. A servidora destaca que a situação chega a prejudicar a força de trabalho da unidade. “O nosso montante de pessoal está diminuindo demais porque está todo mundo adoecendo porque não tem EPIs”, emenda.
Demais funcionários não tem equipamento adequados
O problema se estende para os demais profissionais da unidade, o que a enfermeira nefrologista, intensivista e epidemiologista vê como um fator agravante. “Pessoal da limpeza, que trabalha com rouparia, da manutenção, da portaria estão com EPIs inadequados. Como estamos sendo referência da Covid-19, qualquer pessoa que adentra à instituição tem que ser considerada um potencial [doente]. Nossos funcionários estão inadequadamente preparados para receber estes pacientes”, aponta Raquel Machado, citando que estes servidores tem máscaras mais comuns, o que não condiz com o nível de segurança que precisam.
Precisa de melhor definição de alas e funções
Raquel Machado ilustra o problema desta diferença. “A ala do tratamento da Covid-19 tem toda a paramentação, mas fica aquela questão: uma pessoa que acabou de ir a óbito passa por todo pessoal que não está paramentado. Esta dinâmica é que a direção do hospital ainda não conseguiu entender”, conta a enfermeira, que cobra ainda uma definição melhor do hospital sobre a divisão da atuação dos profissionais, separando aqueles exclusivos para o tratamento do novo coronavírus.
Profissionais sobrecarregados
A enfermeira acrescenta que o HRAug não tem respiradores e nem profissionais suficientes para a total adequação do serviço, citando que enfermeiros já estão sobrecarregados. Como exemplo, Raquel Machado aponta que a unidade tem apenas um maqueiro, tendo o mesmo profissional que atender potencial portadores da Covid-19 e outros tipos pacientes “Eles ainda não se acostumaram a se portar diante de uma doença de contato direto”, acrescenta.
O que está em jogo é a vida dos servidores
Raquel Machado afirma que esta dinâmica é perigosa para os servidores, com o fator agravante do crescimento do número de diagnosticados como novo coronavírus. “O que está em jogo é a vida dos próprios profissionais da saúde e dos que estão no apoio. Se nós não nos dedicarmos a isto, o que vai acontecer: este pessoal que está no apoio vai se contaminar e acabar contaminando o pessoal da saúde”, resume a enfermeira, que já adianta o colapso: “Está chegando muitos casos. Provavelmente nosso hospital não vai dar conta dessa situação. Esta é a parte mais grave”, encerra.
São 13 leitos clínicos exclusivos para Covid-19
A Sesau respondeu ao pedido de nota da Coluna do CT em nota enviada no dia 29 de maio. No texto, a pasta afirma que está sendo viabilizada a instalação de leitos de UTI na HRAug, que já conta com 13 leitos clínicos exclusivos para a Covid-19. A secretaria garante que entregará mais três clínicos na segunda-feira, 1º de junho.
Leia a íntegra da manifestação:
“NOTA
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que está sendo viabilizada a instalação de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no Hospital Regional de Augustinópolis (HRAug), hoje a unidade conta com 13 leitos clínicos para Covid-19, e está sendo providenciada a ampliação dessa oferta. Na próxima segunda-feira,01, serão entregues mais três leitos clínicos.
A Secretaria esclarece que ajustes estruturais estão em fase final e que a área técnica está reavaliando as demais alas da estrutura da unidade hospitalar para implementação de novos leitos clínicos.
Palmas, 29 de maio de 2020
Secretaria de Estado da Saúde
Governo do Tocantins”