O curso de Odontologia do Centro Universitário Luterano de Palmas (Ceulp/Ulbra) é referência no Estado do Tocantins. Parte disso se dá a ampla infraestrutura do curso: laboratórios, clínica própria, consultório modelo, equipamentos modernos, entre outros. Mas a formação de um bom profissional de saúde não depende apenas dos equipamentos que ele usa, mas também da sua capacidade de gerir situações e do seu grau de comprometimento com as pessoas. Conversamos com a professora e coordenadora do curso, Tássia Silvana Borges, que falou sobre todos os tipos de serviços prestados à comunidade e sobre projetos envolvendo o atendimento a indígenas e a pessoas com necessidades especiais.
Leia a seguir a íntegra da entrevista:
Na sua visão, enquanto coordenadora, o que o curso de Odontologia do Ceulp traz de especial?
Tássia: O curso de Odontologia aqui tem um diferencial muito grande que é a parte de estágios, que deixa o nosso aluno preparado para todas as realidades. Dentro do curso o aluno passa por atendimento e não só conhecimento como é na maioria dos cursos no Brasil, que eles só conhecem os locais. Então nosso aluno atende como um cirurgião dentista dentro de uma Unidade Básica de Saúde, de um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), dentro de uma UPA, em forma de plantão e dentro de um hospital, junto com os cirurgiões que lá atuam, tanto na oncologia, quanto na cirurgia bucomaxilofacial, então esse é um diferencial que pouquíssimos lugares têm. Nossos alunos passam pelo nível primário, secundário e terciário de atenção que são todas as áreas que o cirurgião dentista pode atuar, fora o consultório que é a experiência que eles têm aqui dentro da clínica de Odontologia. E além disso eu vejo a parte do projeto dos indígenas que é um dos poucos que tem o acesso às aldeias, junto com o DSEI (Distrito Sanitário Especial Indígena) que é do Ministério da Saúde Indígena. Nós temos um projeto de pesquisa que começou no início deste ano, aprovado junto ao comitê de ética, CONEP (Comissão Nacional de Ética em Pesquisa) em Brasília e criamos o primeiro Centro de Especialidades Odontológicas Indígena de uma universidade particular do Norte do país. Então eu acho que esse é o maior diferencial que a gente têm para o nosso aluno, a vivência nas mais variadas áreas de atuação e com diferentes etnias.
Qual a importância de estágios como esses na formação acadêmica de um aluno?Tássia: Dentro da faculdade eles vêem o ideal, que é onde tem tudo e então eles vêem a realidade na Unidade Básica, em um centro de especialidades, uma UPA e um hospital como é o nosso HGP. E por exemplo, na UPA o aluno faz plantão de doze horas, diurno ou noturno, ele está sempre acompanhado de professor em qualquer um desses lugares, mas por ele estar nessa pressão de: “eu não sei o que vai chegar, eu não sei o que eu vou precisar fazer”, já apareceu de ter de fazer sutura de face, que é algo que aqui (na clínica do centro universitário), a gente não tem, porque não chega pra gente, mas chega lá na UPA. Aqui, por exemplo, ele não atende um trauma, a criança caiu, ou até mesmo adulto e quebrou um dente, porque aqui não chega essa urgência, a nossa urgência é dor, então no estágio ele fica com um universo muito diferente para atender e isso expande a sua visão. No CEO isso também acontece, porque lá ele pega as especialidades, precisa se dedicar à cirurgia complexa, que é um procedimento que a unidade básica não faz. Nós entendemos que isso vai capacitá-lo para que quando ele vá para o mercado de trabalho, ele não sofra com essas mudanças e sim diga: “eu já passei por isso, eu sei como é”.
O que você poderia destacar sobre a infraestrutura do curso?
Tássia: Hoje todos os nossos laboratórios têm uma câmera com a qual o professor consegue fazer o procedimento, filmar, passar a imagem para a televisão e os alunos podem acompanhar em tempo real. E isso para qualquer procedimento: uma técnica restauradora, a parte da endodontia, cirurgia de laboratório… Antes ficavam vinte alunos ao redor do professor, tentando acompanhar o procedimento e essa tecnologia permite que agora eles vejam muito melhor. A gente tem um consultório modelo que tem relação com a clínica, então o paciente e o professor ficam dentro do consultório, num lugar mais reservado, mas tudo é transmitido em tempo real para a clínica onde ficam os alunos e eles podem ver todos os procedimentos realizados.
Também contamos com panorâmica e tele, que são exames de radiografia que facilitam muito o nosso atendimento e dos pacientes, porque se ele precisar de uma panorâmica ele já faz aqui, o paciente também não se perde, não precisa sair daqui para fazer. E a gente tem a radiografia digital, as chamadas periapicais digitais que também são uma grande inovação na parte de tecnologia, (saiba mais sobre esses equipamentos aqui) e esse processo tecnológico é dinâmico e muito rápido. Também é importante ressaltar que como estrutura, a gente tem um laboratório de ensino que é a sala dos grupos de pesquisa e extensão, então eles têm uma sala específica dentro da faculdade onde guardam todos os equipamentos e materiais. Sem contar que nós estamos na fase de implantação do banco de dentes, o biobanco. Funciona da seguinte forma: todos os dentes hoje, que são extraídos, ou o paciente leva pra casa, caso ele queira, ou ele joga fora, no lixo. Só que o dente é um órgão e por isso, há diversas atividades de pesquisa e de extensão que podemos realizar. Por exemplo, o aluno que está no terceiro semestre começa a estudar Cariologia e ele quer estudar como isso se desenvolve, então ele usa dente humano para fazer, só que esse dente vem de fora e a gente não sabe qual é a procedência desse dente, então há uma questão ética envolvida muito forte. Há alunos que compram dentes, eles vão até uma unidade básica, até um CEO, uma UPA, até os próprios vizinhos, parentes quem têm, quem trabalha junto com dentistas… Às vezes o dentista extrai e quando o paciente não quer levar, ele mesmo guarda o dente e, ou ele vai dar esse dente para o estudante de Odontologia, ou vai vender, isso no Brasil todo. Hoje tem pouquíssimas universidades que tem banco de dentes, porque é um processo muito difícil de conseguir, precisa ter um espaço físico, um funcionário, um professor responsável e precisa passar no comitê de ética para regularizar. De acordo com pesquisas aqui em Palmas nós não contamos com esse serviço e as cidades ao redor também não. Então a princípio a nossa instituição é a única que está nesse trâmite e isso vai ser uma facilidade para o nosso aluno, que vai poder ter dentes regularizados para usar nas técnicas e fazer as pesquisas, o que é também um diferencial, porque a gente pode fazer pesquisa com graduação, mestrado, doutorado, tudo com esses dentes e também vamos poder fazer troca entre as universidades, entre nós e quem tem banco de dentes fora do estado.
A clínica do curso de Odontologia é aberta à toda a comunidade, quais são os atendimentos prestados?
Tássia: Nós temos o serviço de radiografia, que é a panorâmica e a periapical, só que além disso nós prestamos todos os tipos de atendimento à comunidade e o paciente vai ser atendido em todas as especialidades, nós temos: restauração, tratamento de canal, todos os tipos de prótese, sejam fixas ou aquelas de tirar e colocar que são as PPRs e as próteses totais, todas a gente oferece aqui. Nós fazemos também todos os tipos de cirurgia que conseguimos no nosso próprio bloco cirúrgico, sem que precisemos de um hospital e dentro da odontopediatria a gente faz a parte de aparelhos removíveis, que é ortodontia preventiva e interceptadora. Em geral, todos esses atendimentos para a comunidade hoje custam quinze reais a cada vinda desse paciente. Porém como a gente tem um convênio com a prefeitura, aqueles alunos em campo de estágio, que observam um paciente que precisa de um atendimento que esse campo de estágio não tem como realizar, faz o encaminhamento do paciente para cá e ele não paga o atendimento, porque ele é um paciente SUS. Os demais procedimentos todos são quinze reais e alguns têm tabela de laboratório, que envolvem as próteses. Por fim, nós temos uma parceria formada com a APAE e atendemos pacientes com qualquer tipo necessidade especial da APAE e da comunidade em geral, em um dia específico da semana. A gente faz um atendimento diferenciado, porque esse paciente precisa de um lugar mais reservado, mais tranquilo, porque a gente atende paciente down, autista, cadeirante.
Você relatou que além disso, vocês são autorizados como CEO indígena, como esse trabalho funciona?
Tássia: Dentro do atendimento aos indígenas, nós temos um projeto de extensão e um de pesquisa. Todo ano a matéria de “Odonto e Sociedade III” conhece uma aldeia. Então na primeira edição a gente foi para a Ilha do Bananal, e na segunda agora, a gente foi para Itacajá, na aldeia Pedra Branca. Os alunos vão, conhecem a aldeia, fazem o levantamento de saúde bucal desses indígenas, vêem o que eles precisam, fazem orientação de higiene, escovação supervisionada, aplicam flúor e até fazem teatro, que às vezes é uma coisa que eles nunca viram, então é diferente para eles e para os alunos. Nessa última edição nós levamos os consultórios móveis e fizemos o atendimento a essa população dentro da aldeia. Quando a gente volta, a gente passa uma lista dos pacientes que precisam de atendimento para o DSEI e ele faz a marcação desses pacientes para que sejam agendados na nossa clínica, então a gente sempre tem paciente indígena aqui dentro do Ceulp/Ulbra sendo atendido.
O curso de Odontologia do Ceulp/Ulbra tem cinco anos, acabou de formar a primeira turma e agora seus alunos estão ingressando no mercado de trabalho. Quais as principais áreas em que os egressos têm atuado?
Tássia: Está bastante dividido. A nossa primeira turma era de 48 alunos e dentre esses, um grupo está indo para mestrado e doutorado para dar aula; temos grande parte deles no serviço público, espalhados entre Tocantins, Maranhão e Pará, porque era de onde eles vinham e agora retornaram para trabalhar nas suas cidades e grande parte deles está nas clínicas populares ou consultórios particulares.
Quais as principais linhas de pesquisas do curso?
Tássia: Nós temos hoje linhas relacionadas a parte de radiologia, de imaginologia e diagnósticos, a área de prevenção e promoção da saúde e a área de materiais odontológicos, que é para se estudar como são os materiais e a sua utilização. O aluno que faz TCC precisa estar vinculado a uma dessas linhas, porque o professor também está vinculado a uma delas, então a gente consegue ter uma sequência das linhas de pesquisa e temos ótimas experiências. Na nossa primeira turma, a grande maioria dos alunos apresentou trabalhos relacionados a seus TCCs e às linhas de pesquisa, em jornadas do Ceulp e em jornadas fora, como o SBPqO (Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica) que é o encontro de todos os pesquisadores da odontologia, que acontece sempre em São Paulo, uma vez ao ano e mais de 90% da primeira turma apresentou seus trabalhos lá também. Destes apresentados, temos artigos publicados em revistas científicas internacionais. Temos tido um ótimo retorno dos nossos alunos na área de pesquisa.
Perfil
Tássia Silvana Borges possui graduação em Odontologia pela Universidade de Santa Cruz do Sul, Mestrado em Promoção da Saúde pela Universidade de Santa Cruz do Sul e Doutorado em Odontologia pela Universidade Luterana do Brasil. É docente do Ceulp/Ulbra há três anos e em 2019 assumiu a coordenação do curso de Odontologia.
Mais informações sobre o curso de Odontologia pode entrar em contato pelo telefone 3219-8077.
(Da assessoria de imprensa)