Caro secretário Fábio Vaz,
Semana passada recebi uma importante personalidade em meu escritório. O visitante elogiou bastante você e fiquei muito satisfeito de ter tido essas boas referências a seu respeito. Assim, me senti à vontade para voltar a escrevê-lo neste momento de impasse no transporte escolar rural para pedir que dê transparência nessa questão. Tenho conversado, secretário, com pelo menos dez empresários do setor e eles passam por inúmeras dificuldades em virtude da falta de pagamento. Não de um mês e meio de 2024, como afirma a sua pasta, mas já há quatro meses. Este ano não receberam um centavo sequer do governo. Quem conseguem trabalhar assim?
Veja, Fábio, todos me dizem que pararam nesta segunda-feira, mas a Secretaria Estadual da Educação afirma em nota à minha redação que “o serviço segue operando normalmente, sem registro de interrupções”. Secretário, desculpe, claramente, é mentira. Eu o afirmo sem qualquer dificuldade, porque acompanho o caso de perto, conversando toda hora com esse pessoal. O que não entendo é por que mentir? Não seria mais correto, transparente e produtivo admitir que há um problema e dizer o que a secretaria está fazendo para corrigir? Afinal, toda gestão enfrenta dificuldades, o importante, nessas situações, é manter a sociedade informada sobre as medidas saneadoras. Isso é básico em cursos de assessoria de comunicação e de gestão de crise.
Na verdade, secretário, parece que o atual governo do Estado optou por faltar com a verdade e omitir informação como prática política. Além desse caso que estamos vivendo, temos ainda o corte do transporte escolar rural de alguns municípios, assunto sobre o qual, muitas semanas depois de vir à tona, sua secretaria nunca esclareceu sobre o que está ocorrendo, quantas cidades e estudantes atingidos. Ao contrário, esses dias emitiu uma nota dizendo que já estava resolvido com Araguaína, Pedro Afonso e Gurupi. As duas primeiras desmentiram a nota e a última disse que a solução é provisória. Por que essa política de escamotear a verdade para se relacionar com a sociedade tocantinense?
Mas não é só sua pasta. Até hoje o governo não assume um fato inquestionável porque expresso em números: o Estado vive um momento de desequilíbrio fiscal. Os sintomas de uma nova crise fiscal já nos assombram e essa situação da Seduc é um deles. A gestão atual assumiu em outubro de 2021 com 40,3% de comprometimento de Receita Corrente Líquida com folha e agora esse índice está em 46,32% — acima do limite de alerta (44,1%) e encostado no limite prudencial (44,55%). Ora, isso é algo concreto, absoluto, sem qualquer margem para ser relativizado. Esses parâmetros são fixados pela Lei de Responsabilidade Fiscal e os 46,32% foram divulgados pelo próprio Palácio. Então, não há o que questionar. O governo tem apenas que dizer o que vai fazer a partir de agora para que esses números comecem a cair. É isso que a sociedade espera.
Contudo, Fábio, o governo prefere tangenciar, mentir e tratar como inimigo quem insiste na necessidade de correção de rumos e em mostrar esses dados. Ou seja, tenta tratar a opinião pública como incapaz de compreender o que está ocorrendo. Mas entendemos perfeitamente e não queremos achincalhar o governo, só que ele tome medidas de ajuste, de forma clara, transparente, madura e responsável. Até porque, secretário, se vocês acertarem, todos ganhamos; se errarem, todos seremos prejudicados.
Assim, insisto na necessidade de a Seduc e o governo passarem a dar transparência às informações que interessam a todos nós. Vocês não vão conseguir esconder a verdade. Só conseguirão ficar de mentirosos diante da opinião pública. Por isso, não sigam mais por esse caminho. Todos estamos vendo com uma claridade solar o que o governo está fazendo, e estamos preocupados.
Saudações democráticas,
CT