Caros foliões,
Para evitar revolta social, em 27 a.C, o imperador romano Otávio Augusto procurou manter a plebe, que vivia em condições miseráveis, minimamente satisfeita. Para isso, distribuía pão e trigo em Roma e realizava lutas de gladiadores e corridas de bigas no Coliseu e no Circo Máximo. A prática ficou conhecida como a política do pão e circo. Ela demonstra que a autoridade não tem qualquer preocupação com as condições de vida de seu povo. Apenas quer mantê-lo distraído para não se rebelar, enquanto a casta privilegiada se empanturra do que há de bom e de melhor.
O prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos, tomou, portanto, a contramão da política do pão e circo ao decidir não realizar o carnaval e o Capital da Fé neste ano, diante do cenário caótico que lhe obrigará a descascar um abacaxi de R$ 300 milhões, a montanha de dívida que afirmou ter herdado neste início de gestão. Assim, o que estava à frente dele era: apelar para a prática do imperador Otávio Augusto e fingir que está tudo sob controle para não frustrar os cidadãos que esperam a festança anual, aprofundando o grave cenário que sua equipe relata; ou abrir o jogo, mostrar o descomunal desafio que se ergue e cancelar os festejos para colocar as contas do município em dia.
Prezados foliões, todos que somos chefes de família já estivemos alguma vez diante desse de dilema: ou equilibrar as contas com responsabilidade pensando no bem-estar futuro da família, ou ir à pândega, como se não houvesse amanhã. E sabemos qual a opção adulta, madura e que garantirá o conforto de todos.
Por isso, amigos, não tenho dúvida de que o prefeito agiu corretamente, mostrando enorme responsabilidade com a coisa pública ao escolher o caminho mais difícil para um político, que é frustrar a expectativa de parte da população. Acima de tudo, deixou evidente que está comprometido com o equilíbrio das contas da Capital, que sempre se orgulhou do ostentar o triplo A junto à Secretaria do Tesouro Nacional.
E isso não é meramente para enfeitar a tela do monitor quando alguém for consultar a situação do município no site da STN. Mas tem uma razão prática: esse reconhecimento de alta qualidade no trato fiscal se refletirá quando Palmas buscar recursos, por exemplo, para adquirir ônibus e assim melhorar o transporte público, para asfaltar quadras ou construir pontes.
Com o controle dos gastos, o município terá condições de realizar um excelente Capital da Fé e um carnaval democrático para todos em 2026. É um período de festas importante não só para o lazer de alguns e espiritualização de outros, mas também para a economia. Porém, diante do quadro trazido por Eduardo, um gasto nesta efeméride agora será daquele tipo em que o molho sai mais caro que o peixe. Alguns podem lucrar, mas às custas de maior endividamento do município — ou seja, do cidadão –, e isso pode resultar em mais desabastecimento de postos de saúde, mais atrasos no pagamento da empresa do lixo e mais dificuldades para resolver o grave problema do transporte coletivo.
Nada impede, óbvio, que a iniciativa privada promova festas para atrair aqueles aficcionados pelo carnaval.
Dessa forma, caros foliões, a frustração agora é para que, em 2026, Arlequim volte a chorar pelo amor da Colombina no meio da multidão, com pão, circo e tudo que tem direito, mas num cenário de prosperidade.
Saudações democráticas,
CT