Vemos aqui e ali movimentos da bancada federal do Tocantins e de deputados estaduais para criar universidades no norte do Estado e estender campus da Unitins para outras cidades. Cabe uma reflexão muito séria por parte dos formadores de opinião, autoridades e todo cidadão com o mínimo de responsabilidade. Mais uma vez se vê uma movimentação claramente de viés eleitoreiro, sem pensar as consequências dessas “bondades” para as contas públicas. Ou seja, os mesmos erros do passado que nos trouxeram à profunda crise fiscal que enfrentamos.
[bs-quote quote=”Seria muito mais eficaz e barato para o contribuinte, fortalecer os campi dos centros maiores e criar um programa de custeio básico dos acadêmicos de outros municípios que passem no vestibular, do que criar e manter um ‘monstrengo’ caríssimo em cidades em que muita vezes sequer há demanda para preencher todas as vagas oferecidas” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
É muito simpático e eleitoralmente lucrativo propor criação de universidade pública e extensão de campus. A comunidade beneficiada ficará muito grata, o “pai” da ideia tem seu nome eternizado e, consequentemente, abocanhará para todo o sempre uma grande quantidade de votos. De outro lado, não resta dúvida de que a criação dessas instituições, dentro de uma realidade orçamentária viável, promove o desenvolvimento do município, fixa os jovens na própria comunidade, já que não precisam se deslocar para centros maiores em busca de formação superior, e alegra todas as famílias. Mas a expressão-chave aqui é “dentro de uma realidade orçamentária viável”.
Da forma politiqueira que a criação de universidades está sendo proposta, o que está se projetando são apenas problemas para médio e longo prazos. Com as contas dos governos federal e estadual em frangalhos, num canetaço de cunho eleitoreiro pode-se ceder à pressão e implantar essas instituições. No entanto, quem administra a coisa pública sabe muito bem que não existe nada mais fácil do que construir creches, escolas, hospitais e universidades. O problema é mantê-los.
O governo petista se gabava de ter criado 18 universidades federais. Aí se pergunta: como elas estão? Como está hoje a qualidade de ensino, de estrutura, em relação há 20 ou 30 anos? Estão passando pela maior dificuldade financeira de sua história. Construções iniciadas não são concluídas e faltam recursos para os insumos mais básicos. Esses são os relatos que chegam de todo o Brasil.
Diante da irresponsabilidade dos governos petistas com as contas públicas, os orçamentos tiveram que ser cortados, investimentos minimizados e construções simplesmente abandonadas para algum dia serem retomadas. Por quê? De novo: porque é fácil criar universidade e hospitais, o problema é manter.
Estamos diante de ampliações de campi e criação de universidades sem o mínimo planejamento, focando apenas a próxima eleição e a perpetuação no Poder. Por essa lógica, primeiro se constrói, ganha-se a eleição e depois pensa como sustentar o “elefante branco”.
Seria muito mais eficaz e barato para o contribuinte, fortalecer os campi dos centros maiores e criar um programa de custeio básico dos acadêmicos de outros municípios que passem no vestibular, do que criar e manter um “monstrengo” caríssimo em cidades em que muitas vezes sequer há demanda para preencher todas as vagas oferecidas.
Brincam e fazem graça às custas do dinheiro do contribuinte, sem a menor responsabilidade, sem qualquer compromisso com o futuro do País, de forma populista e descaradamente eleitoreira.
Assim, de um lado os governos — porque chegaram ao limite e não há outro caminho possível — fazem um esforço hercúleo para ajustar as contas públicas, de outro, parlamentares movimentam comunidades para arrebentar os cofres, sem qualquer planejamento ou pudor.
A sociedade, pelo menos a parte pensante dela, precisa ter o mínimo de bom senso e fazer uma discussão madura, séria, não se deixar levar pela vontade deste e daquele de criar mais um curral eleitoral. Muito menos deve-se cair na piada sem graça de que uma bancada vai garantir anualmente emendas parlamentares para manutenção do “elefante branco”. Até quando? E se a bancada for toda renovada na eleição seguinte? Os sucessores terão esse compromisso? Qual a garantia? E se o governo mudar a política de destinação e liberação de emendas? Não cola. Promessa fragilíssima.
O ideal seria que toda cidade-polo tivesse uma excelente universidade, promovendo a cultura, o ensino, a pesquisa e o desenvolvimento regional. Contudo, não há recursos para isso. Primeiro precisamos organizar as contas dos entes públicos, instalar a cultura da responsabilidade fiscal, desenvolver o País e, aí sim, alcançar esse sonho.
Fora isso é quimera, mera utopia que vai resultar numa tremenda frustração. Em pouco tempo os veículos de comunicação estarão “denunciando” abandono, salários defasados, falta de insumos, de investimentos, etc, etc. Uma novela mais do que repetitiva e cansativa. Ou seja, é um caos mais do previsível.
O pior é que teremos o Poder Público ainda mais enfiado em crises financeiras porque não teve a coragem de dar um basta à politicagem.
Ou mudamos nossa mentalidade, ou nunca alcançaremos o efetivo desenvolvimento, sempre nos nossos voos de galinha.
CT, Palmas, 23 de abril de 2019.