O governador Mauro Carlesse (PHS) deve enviar à Assembleia um substitutivo ao projeto de lei orçamentária nos próximos dias. Os deputados já aguardam a nova peça, que pode atrasar ainda mais o trâmite do Orçamento de 2019, que já deveria ter sido aprovado em 31 de dezembro. O objetivo do Palácio Araguaia — fica cada dia mais claro — é adiar ao máximo a aprovação para protelar também os gastos e, assim, melhorar o desempenho fiscal do Estado no primeiro quadrimestre, que fecha em abril. Mas qual o custo social e econômico disso para o Tocantins? Está ficando preocupante.
[bs-quote quote=”Adiar mais uma vez este ajuste seria um crime contra o futuro do Estado, mas acelerá-lo, ignorando as graves demandas sociais, é desumano, demonstra insensibilidade do gestor, porque vai exigir sacrifícios muito além dos que a sociedade já está tendo que suportar, sobretudo os mais carentes” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Complexos de Delegacias Especializadas de Palmas e a Delegacia de Pedro Afonso já foram, de forma humilhante, despejadas. O CT tem trazido a situação desesperadora dos professores que estão lecionando sem contrato e sem salários, entre muitos outros problemas que comprometem a já difícil situação social e econômica de um Estado que tem no Poder Público uma importante mola propulsora.
Poucos defendem tanto este ajuste fiscal como este colunista. É a minha pregação há pelo menos seis anos. No último governo Siqueira Campos (2011-2014) pareceu, no início, que viraria realidade, mas a máquina voltou a ser inchada por pressão — sempre deles — dos deputados. Na gestão Marcelo Miranda (2015-2018) houve uma tímida tentativa de enxugamento, mas o governo foi entregue a Carlesse com 58% de sua Receita Corrente Líquida comprometida com folha.
Diante da gravidade da situação fiscal em que o Tocantins se encontrava, o ajuste anunciado no início deste ano foi motivo de comemoração para este colunista. Carlesse teve a coragem de encarar este desafio, que não é fácil para nenhum governante porque envolve um profundo desgaste. Por isso, não foi surpresa a gritaria geral com as fortes medidas divulgadas em janeiro e início de fevereiro, ainda que realmente houvessem exageros, como a coluna apontou na época, no caso da saúde. Mas, depois de colocar a banda na rua, vão se afinando os instrumentos.
No entanto, esse ajuste do Estado não pode vislumbrar unicamente os empréstimos junto à Caixa e tentar acelerar a recuperação de sua saúde fiscal com esse objetivo exclusivo. Um pacote de recuperação desta magnitude, como estamos assistindo, já é um sacrifício monumental à sociedade. Querer recuperar anos de abusos e falta de planejamento de uma só vez só fará aumentar o sofrimento e o caos social.
O Estado deve ter pressa, sim, na sua recuperação, na obtenção do empréstimo para a Ponte de Porto Nacional e para outras importantes, mas não tem o direito de perder a dimensão do humano. O gestor não deve olhar para uma planilha e ver só números. É fundamental humanizar essa análise.
Adiar mais uma vez este ajuste seria um crime contra o futuro do Estado, mas acelerá-lo, ignorando as graves demandas sociais, é desumano, demonstra insensibilidade do gestor, porque vai exigir sacrifícios muito além dos que a sociedade já está tendo que suportar, sobretudo os mais carentes.
Assim, já passou, e muito, da hora deste orçamento ser aprovado e o Estado iniciar sua volta à normalidade e ao desenvolvimento, com um ajuste gradual de suas contas, considerando as necessidades prementes de um povo para lá de sofrido.
CT, Palmas, 13 de março de 2019.