Com a antecipação das disputas eleitorais de 2018, algo que começa a se desenhar na cabeça de pensadores políticos é que as eleições ordinárias de outubro podem ter menos candidatos do que a suplementar. Essa disputa com vários postulantes estava prevista para o pleito normal, mas, com a cassação do ex-governador Marcelo Miranda (MDB), e a necessidade de sua substituição, tudo mudou.
A eleição suplementar só foi, digamos, totalmente boa mesmo para dois dos candidatos, o senador Vicentinho Alves (PR) e o ex-juiz Márlon Reis (Rede). O republicano já tinha até retirado seu nome da corrida pelo Palácio Araguaia no início do segundo semestre do ano passado. Estava preparado para se lançar à reeleição ao Senado, quando surgiu a suplementar e vislumbrou a grande oportunidade de realizar seu sonho de chegar ao governo do Tocantins. Em tese, a despeito dos acordos políticos, se tudo der errado para Vicentinho, ele ainda poderia tocar seu projeto de reeleição em outubro.
Márlon Reis chegou a Palmas em agosto de 2017, apresentando-se como candidato a governador. Apesar de ser um filho da terra, o ex-juiz, conhecido nacional e internacionalmente como um dos pais da Lei da Ficha Limpa, era até então um ilustre desconhecido para seus conterrâneos. Assim, para disputar o Palácio Araguaia em outubro, teria primeiro que se apresentar ao povo do seu Estado.
[bs-quote quote=”Quem for para o segundo turno se habilita como forte concorrente ao “terceiro turno”, além de Márlon Reis, para quem apenas um bom desempenho neste primeiro turno já será suficiente para qualificá-lo para disputar as eleições ordinárias” style=”default” align=”left” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Dessa forma, o projeto político-eleitoral de Márlon ganhou grande impulso com a eleição suplementar. Com ela, pôde intensificar a andança pelo Estado, participar de entrevistas e debates em instituições e imprensa, onde está ocupando um espaço que dificilmente teria se não fosse por este pleito inesperado. Agora ocupa tempo de rádio e TV para entrar nos lares tocantinenses. Assim, quando chegar agosto, Márlon já será um nome bem conhecido por seus conterrâneos. Além disso, existe a expectativa de que sua votação surpreenda, uma vez que está identificado como a novidade dessa sucessão, diante de um eleitorado, principalmente dos centros maiores, que, decepcionado, busca um substituto para o “antigo novo” que envelheceu muito rápido.
De outro lado, a suplementar não foi bom para o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB), para a senadora Kátia Abreu (PDT) e de certa forma também para o governador interino Mauro Carlesse (PHS). No caso de Amastha, pelo já cansativo debate da desincompatibilização. Ele tinha todo o projeto preparado para outubro, mas, com a cassação de Marcelo, se viu obrigado antecipá-lo. Para isso, porém, precisou entrar nesse campo jurídico minado. Continuará sangrando até o final e esse desgaste pode custar não só sua eleição agora, mas até mesmo inviabilizá-lo para outubro.
A candidatura de Kátia vem ganhando musculatura. Se chegar a vencer, ficará numa situação delicada. Isso porque, para assumir o governo do Estado, precisará renunciar ao mandato de senadora e passar a vaga em definitivo ao primeiro suplente Donizeti Nogueira (PT), sem qualquer garantia de que será reeleita em outubro.
A grande vantagem competitiva de Kátia era justamente o fato de poder disputar a eleição de outubro no mandato de senadora. Se perdesse continuaria no Senado por mais quatro anos e tudo bem. Agora a situação mudou de figura. Com a renúncia, no caso de ganhar em junho, se perder em outubro, ficará sem mandato.
No caso de Carlesse, a vantagem óbvia da cassação de Marcelo é que ele virou governador interino e pôde dar à sua candidatura uma musculatura que não conseguiria apenas como presidente da Assembleia. Contudo, também precisa vencer. Caso contrário, só poderá ser candidato a governador em outubro, já que, por ter ocupado o cargo de chefe do Executivo com menos de seis meses da eleição, estará impedido de disputar qualquer outra vaga nas eleições ordinárias. Se for derrotado em junho, isso será péssimo. Porque voltará a ser apenas presidente da Assembleia, sem todos os holofotes e o peso da caneta para reconstruir uma candidatura altamente competitiva para a disputa que começará em seguida.
Por isso, a tendência é de que o número de candidatos efetivamente competitivos em outubro seja menor do que nesta eleição suplementar. Quem for para o segundo turno se habilita como forte concorrente ao “terceiro turno”, além de Márlon Reis, para quem apenas um bom desempenho neste primeiro turno já será suficiente para qualificá-lo para disputar as eleições ordinárias.
Os demais derrotados terão muita dificuldade de se reconstruir a tempo para novo enfrentamento. Assim, poderão ter que redimensionar os projetos.
CT, Palmas, 18 de maio de 2018.