O aumento de 16,38% que o Senado aprovou na noite dessa quarta-feira, 7, deve gerar um rombo de R$ 4 bilhões para União e Estados, segundo cálculos técnicos da Câmara dos Deputados. Ou seja, já não basta a situação caótica das contas públicas e o Poder Judiciário empurra mais esse abacaxi para os novos presidente e governadores descascarem.
Em dezembro do ano passado, o STF suspendeu a decisão do presidente Michel Temer de adiar o aumento do funcionalismo federal para 2019, o que geraria uma economia de R$ 4,4 bilhões em 2018. Agora vem com essa proposta de aumento para eles de 16,38%, com as contas públicas em frangalhos.
[bs-quote quote=”A tragédia das contas públicas é que ninguém quer ceder, ninguém quer sacrificar, mas todos, e não só o Judiciário, vivem num mundo de faz de contas, irreal, totalmente fantasioso” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
O STF é um Poder desconectado da realidade. Suas Excelências vivem numa bolha, um pedaço da Suíça no Brasil, e não conseguem enxergar que exercem a magistratura num país que patina na sua marcha histórica e, por isso, ainda não conseguiu se encontrar com o desenvolvimento. O problema desse aumento não é elevar o salário do ministro de R$ 33 mil para R$ 39 mil. O desastre para as contas públicas é o efeito cascata que isso provocará.
O governador Mauro Carlesse (PHS), como outros colegas eleitos e reeleitos por todo o País, se debruça para fazer uma reengenharia das contas para ver como vai administrar a partir de janeiro. Uma coisa é mais que certa: milhares de pessoas por todo o Brasil vão perder empregos, investimentos serão cortados e, por esses dois motivos, haverá menos dinheiro circulando na economia, o que, num primeiro momento, vai agravar um pouco mais uma crise que ainda não abrandou, sobretudo num Estado como Tocantins, onde o Poder Público é um agente econômico fundamental.
Assim, como agora recomeçar a calcular para incorporar nas contas essa bucha enviada pelos senadores aos seus Estados, de forma totalmente irresponsável? Já pensou se a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do subteto do funcionalismo tivesse sido aprovada pela Assembleia? O pepino agora seria ainda maior do que o previsto. O governo Carlesse se livrou de um castigo que sequer imaginava a dimensão.
Em geral, o Judiciário é o Poder com os salários mais fora da realidade do Brasil. Inflaram demais suas folhas e hoje vivem de pires na mão “conversando” com Executivo e Legislativo para conseguir sempre um pouco a mais para fechar suas contas. Esse “conversar”, diante de uma classe política com “cabritos” no Judiciário maior do que o de muitos bandidos comuns, não é bem um “conversar”. Soa como uma sentença transitada em julgado.
Como o Senado, frequentado por gente de péssima estirpe como Romero Jucá (MDB-RR) e Renan Calheiros (MDB-AL), terá moral para dizer não ao STF? Faz o que os ministros quiserem e mais um pouco, se preciso.
A tragédia das contas públicas é que ninguém quer ceder, ninguém quer sacrificar, mas todos, e não só o Judiciário, vivem num mundo de faz de contas, irreal, totalmente fantasioso. É o prédio suntuoso construído com recursos de um povo miserável, convites para solenidades impressos com todo requinte a um custo acintoso, publicações com papeis e formatos mais caros que existem no mercado gráfico, carros zero anuais com combustível por conta do contribuinte, o imoral auxílio-moradia.
Enfim, não se pensa o Brasil, não há interesse público, não há preocupação com o fato de termos hoje 12,5 milhões de desempregados, um déficit fiscal previsto de R$ 149,18 bilhões para 2018, justamente por conta da irresponsabilidade das autoridades de Executivo, Legislativo e Judiciário de todas as instâncias. Eliminar esse déficit exigirá sacrifício monumental de toda a população brasileira. Pelo jeito, menos dos togados e daqueles vinculados a seus salários.
Mas, refém do Judiciário por conta de suas vidas comprometidas com o crime, grande parte dos senadores não tinha mesmo como votar diferente diante da faca no pescoço. O pior é que temos um presidente tão refém da magistratura quanto seus colegas de Senado e que, por isso, também não terá moral para vetar esse abuso contra a população.
É o que dá votar em quem não presta.
CT, Palmas, 8 de novembro de 2018.