O resultado da eleição suplementar foi a vitória da tese da força dos líderes no interior do Tocantins. Ficou claro. Mas eles precisam entender o sonoro recado dos eleitores que não votaram ou que se rebelaram nos centros maiores.
A coluna sempre defendeu que nos principais colégios do Estado os eleitores tinham mais autonomia para a decisão do voto, mas que os caciques locais ainda imperavam soberanos no interior profundo. Pois foram essas duas realidades as responsáveis pela boa atuação do candidato Carlos Amastha nos maiores colégios eleitorais e, ao mesmo tempo, por sua derrota nesse domingo, 3.
Amastha já entrou nesta campanha desgastado por todos os erros que cometeu em Palmas desde dezembro e pelas polêmicas que vieram à tona. Afinal, ficou claro que de nova política só o discurso, na prática o que havia era o “novo marketing”. Com isso, os que se abstiveram ou votaram branco e nulo não reconheceram no pessebista o “novo” que ele jurava ser.
Para ir ao segundo turno, o ex-prefeito tinha que ter conseguido uma votação expressiva nos principais colégios, porque, no interiorzão, ele não contava com líderes e havia dificuldades de entrar pelas bobagens que passou a falar dos caciques depois de sua reeleição em 2016.
Amastha surpreendeu ao vencer ou ter excelente colocação em colégios importantes, como Araguaína, Paraíso, entre outros. Contudo, o fenômeno Márlon Reis (Rede), na verdade, a grande novidade da eleição e o verdadeiro novo deste processo, frustrou os planos do ex-prefeito de Palmas. Com quase 57 mil votos, Márlon tirou eleitores de Amastha e isso foi decisivo para o pessebista não ter passado para o segundo turno.
[bs-quote quote=”Se não houver uma clara mudança de mentalidade, que resulte em políticas públicas mais eficientes, em que o interesse público seja o alvo prioritário, vai aparecer um outsider que efetivamente represente uma “nova política”, e que não fique do campo do discurso fácil do “novo marketing”, e os derrotará” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Passou aquele que tinha forte liderança no interiorzão, Vicentinho Alves (PR). Graças à sua força junto a prefeitos e vereadores, o senador conseguiu os votinhos a mais que precisava para superar Amastha na emocionante final da apuração. Contudo, o republicano precisa agora rever as estratégias nos principais colégios eleitorais do Estado, onde foi muito mal. Perdeu em casa, Porto Nacional, ficou na penúltima colocação em Palmas, Tocantinópolis e Gurupi; e o quarto em Araguaína, Paraíso e Colinas, vencendo apenas em Dianópolis e Taguatinga. Todos esses colégios serão fundamentais neste segundo turno.
Além de Márlon Reis, destaque para o governador interino Mauro Carlesse (PHS). Ninguém imaginava que ele iria tão longe, ao colocar cerca de 50 mil votos de frente sobre o segundo colocado. Fez a lição de casa e garantiu 56,75% dos votos válidos em sua cidade, quase três vezes mais que o segundo colocado. Derrotou seu adversário no segundo turno, Vicentinho, na própria terra, Porto Nacional, e fez excelente votação em Palmas, Araguaína, Paraíso, Colinas — o dobro da votação da segunda colocada, Kátia Abreu (PDT) —, entre outros. Chega, assim, turbinado para o segundo turno, e Vicentinho terá um obstáculo gigantesco a suplantar.
A senadora Kátia Abreu, cuja qualificação não se discute, tropeçou no que a coluna sempre observou: sua gigantesca rejeição por todo o Estado, que beira os 40%, tornando o teto dela muito baixo. Na verdade, a parlamentar tem sua segunda decepção eleitoral no Tocantins, já que em 2014 quase foi derrotada ao Senado pelo ex-deputado federal Eduardo Gomes (SD). Ganhou por menos de um ponto, beneficiada por pesquisas para lá de questionáveis do Ibope. Contudo, Kátia fez esta campanha suplementar com muito equilíbrio e discutindo temas importantes para o Estado. Perdeu a mão na última semana, ao atacar frontalmente Vicentinho no palanque, o que ainda não havia feito até então; e veio a divulgação da carta tresloucada do presidiário Luiz Inácio Lula da Silva, pelas mãos de uma personalidade mais rejeitada do que ele, a irritante presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). Por fim, a quatro dias das eleição, teve a publicação de uma pesquisa Ibope feita no início de maio. Tudo isso deixou a sensação de Titanic fazendo água.
No geral, os quase 44% dos eleitores que não votaram ou sequer foram às urnas e a derrota dos políticos tradicionais em cidades importantes como Araguaína e Paraíso mandaram um claro recado. Amastha, só com Célio Moura (PT), seu vice, em Araguaína, deu uma taca em todos os “donos dos votos” da cidade. Ao lado de Carlesse estavam nada menos do que dois deputados federais (César Halum, PRB; e Lázaro Botelho, Progressistas), três deputados estaduais (Olyntho Neto, PSDB, Luana Ribeiro, PSDB, e Valderez Castelo Branco, Progressistas) e o prefeito Ronaldo Dimas (sem partido). Ao lado de Vicentinho havia o vice-prefeito Fraudneis Fiomare (PSC) e dois deputados estaduais (Elenil da Penha e Jorge Frederico, ambos do MDB). Todos tomaram uma sonora, histórica, inesquecível e indiscutível taca.
Em Paraíso, a história se repetiu: Amastha derrotou o prefeito Moisés Avelino (MDB), entusiasta de Vicentinho, que amargou a quarta posição, atrás até mesmo de Márlon Reis; e o deputado estadual Osires Damaso (PSC), aliado de Kátia na cidade.
Assim, fica evidente que há um corredor imenso para projetos alternativos crescerem no Tocantins, uma vez que a insatisfação com a representação política é gigantesca e só aumenta a cada eleição. Os nomes tradicionais precisam repensar suas práticas, fazer uma política realmente mais voltada para as necessidades da população e não para si, para suas famílias e com fim de aumentar o patrimônio.
Se não houver uma clara mudança de mentalidade, que resulte em políticas públicas mais eficientes, em que o interesse público seja o alvo prioritário, vai aparecer um outsider que efetivamente represente uma “nova política”, e que não fique do campo do discurso fácil do “novo marketing”, e os derrotará.
Ou a classe política se adequa ao novo Brasil que está nascendo, ou vai toda ela encerrar sua carreira. E torço muito para que isso ocorra.
CT, Palmas, 4 de junho de 2018.