O prefeito de Araguaína, Ronaldo Dimas, anunciou na tarde desse sábado, 5, que está deixando o PR e, ao lado dos maiores adversários políticos locais, confirmou que vai trabalhar pela eleição do candidato da coligação “Governo de Atitude”, Mauro Carlesse (PHS), na eleição suplementar do dia 3 de junho. Na entrevista coletiva concedida no Hotel Relicário, Dimas justificou o apoio com o municipalismo de Carlesse. “Quando ele fala que vai fazer um governo municipalista demonstra sua boa vontade e há verdade em suas palavras”, garantiu o prefeito.
Segundo ele, isso pode ser confirmado pela movimentação do novo governo para acertar as pendências do Estado com os municípios. Só com Araguaína, esse débito chegaria a R$ 30 milhões. “Então, nós estamos juntos e vamos ganhar essas eleições”, assegurou Dimas.
O prefeito afirmou que o “mínimo” que os municípios precisam é que o Estado cumpra suas obrigações constitucionais com eles, com os repasses de ICMS e saúde, por exemplo. “E não vinham sendo realizadas, mas Carlesse já está pondo em dia [os repasses] com todos os municípios do Tocantins, inclusive conosco, em Araguaína”, contou.
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Ao lado de Dimas, na coletiva do Hotel Relicário, estavam seus principais adversários políticos na cidade: os deputados estaduais Valderez Castelo Branco (PP) e Olyntho Neto (PSDB), os deputados federais Lázaro Botelho (PP) e César Halum (PRB); e também o ex-prefeito e oponente ainda da eleição de 2008, Valuar Barros. A imagem no Hotel Relicário de todos juntos confirma a união das principais forças araguainenses com Carlesse.
Percurso até o apoio
Foi longo o percurso de Dimas até esse sábado, quando, enfim, declarou apoio a Carlesse. Já nos últimos meses de 2017 seus aliados defendiam que o prefeito era a solução para crise de gestão que o Tocantins vivia.
No dia 27 de novembro, Dimas foi surpreendido com uma nota na imprensa do presidente regional do PR, senador Vicentinho Alves, colocando oficialmente o apoio do partido à pre-candidatura do prefeito ao governo do Estado. “O prefeito Ronaldo Dimas reúne a qualificação e o preparo necessários para governar o Estado do Tocantins”, afirmava o parlamentar no documento.
Assediado por aliados, partido e Vicentinho, Dimas aceitou o desafio e anunciou sua pré-candidatura no dia 4 de dezembro, afirmando que queria ter até fevereiro uma frente de partidos em torno dela.
Como isso não ocorreu, coube a um dos mais importantes aliados externar a insatisfação do pré-candidato. No dia 5 de março, o presidente da Câmara de Araguaína, Marcus Marcelo (PR), se posicionou contra a renúncia do prefeito para disputar o governo do Tocantins. “Muitos partidos vêm conversar, mas saem de fininho sem nada de concreto. Uns ainda chegam a dizer que depois que ele renunciar, aí tem conversa. Que coisa é essa? Depois de renunciar? Nós estamos juntos em um projeto novo para o Estado do Tocantins”, desabafou Marcelo.
Imprevisto
Para piorar o cenário, veio a cassação do ex-governador Marcelo Miranda (MDB) e ex-vice-governadora Cláudia Lelis (PV), que tumultuou um quadro que já era de total insegurança política. Diante da indecisão de Dimas, o nome do senador Vicentinho Alves começou a ecoar entre os prefeitos.
Eles se reuniram com o senador para pedir que a candidatura dele na eleição suplementar, e essa movimentação chegou ao conhecimento do Dimas, que, obviamente, não gostou.
Foi assim que no dia 4 de abril, três dias antes do prazo final para desincompatibilização, o prefeito decidiu ficar no comando de Araguaína e desistir da pré-candidatura. Mas saiu do processo magoado com Vicentinho. “Tem a insegurança gerada por essa decisão do TRE [Tribunal Regional Eleitoral], que impede os principais candidatos de estarem na disputa, e a insegurança criada pelo próprio presidente do partido”, disse na época ao CT, ao explicar sua decisão.
Corrida pelo apoio
Com Dimas fora, e ainda magoado com um dos principais candidatos da eleição suplementar, começou uma verdadeira corrida pelo apoio dele. Além de comandar o segundo maior colégio eleitoral de Araguaína, a gestão do prefeito é tida como modelo pela revolução que fez em Araguaína nos últimos cinco anos. A consequência imediata é a enorme popularidade dele na cidade e no entorno.
Dimas se sentou com o candidato do PSB, Carlos Amastha, e as conversas avançaram. Mas também abriu diálogo com o governador interino Mauro Carlesse e ainda com a senadora Kátia Abreu (PDT).
Na época da convenção, nos dias 21 e 22 de abril, sob total pressão para decidir, Dimas viajou para Europa, uma viagem programada, segundo ele, para comemorar seu aniversário. De toda forma, longe do assédio, o prefeito pôde ter calma para decidir. Colocou seus emissários em campo.
Amastha foi o primeiro a ser descartado pela péssima receptividade dada aos enviados de Dimas. “Se nos trata assim como candidato, como seremos tratados se ele virar prefeito?”, questionou um emissário do prefeito ao CT.
De terça, 1º para a madrugada de quarta-feira, 2, Dimas teve uma longa conversa com o pré-candidato a senador Eduardo Gomes (SD), principal articulador de Vicentinho. Gomes saiu animado da conversa, mas a decepção do prefeito com o candidato do PR era profunda.
Na quarta-feira, o prefeito chegou a almoçar com a senadora Kátia Abreu, mas no fim do dia recebeu Carlesse para uma longa conversa em Araguaína, seguida de um animado jantar na companhia dos vereadores da cidade. Ali o martelo foi batido e resultou no apoio anunciado nesse sábado.