Ninguém entendeu a decisão do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) de ir para o confronto aberto com o governo do presidente Lula em seu discurso no lançamento da 25ª Agrotins, na manhã dessa segunda-feira, 31. Não é uma discussão ideológica, mas pragmática, uma vez que o Tocantins é dependente das transferências de recursos do Orçamento da União e da parceria do Palácio do Planalto nas mais diversas áreas.
CONVERSA COM GLEISI E WAPICHANA
A coluna ouviu alguns representantes do governo federal e a conclusão é unânime: foi muito ruim a fala do governador. Eles revelaram que Wanderlei esteve semana passada com a ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, Gleisi Hoffmann, e com a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, para tratar da manutenção das rodovias estaduais impactadas pela queda da Ponte JK e da pavimentação de trechos que envolvem territórios das aldeias em Tocantínia, temas dos ataques do governador à União.
ESTADO NÃO QUER FAZER AUDIÊNCIA PÚBLICA
O problema, dizem, é que o Estado insiste em dizer que não precisa de audiência pública, mas, por lei federal, é fato que não se faz obra em reserva indígena sem isso. E, para esses representantes da União, agora o Palácio Araguaia ameaça passar por cima da decisão da Funai e tocar a obra sem audiência pública. “E chamar o Ibama pra briga é de uma agressividade de uma pessoa que não tem responsabilidade com relação aos povos originários. Inclusive, a própria estrada não tem consenso dos povos. Ele botou fogo pra cima do coordenador regional da Funai [Bolivar Xerente], porque é Xerente, é da reserva. São tantas aldeias ali, e cada uma tem um funcionamento diferente”, afirmou um dos ouvidos que tem relação direta com o Palácio do Planalto.
DNIT JÁ ASSUMIU A MANUTENÇÃO DAS ESTRADAS
Além disso, a crítica sobre um apoio mais efetivo do governo federal para a manutenção da estrada foi também muito mal recebida. Isso porque o Dnit já assumiu o serviço e já está na região impactada pela queda Ponte JK. Mediado pela senadora Dorinha Seabra Rezende (UB) e pelo deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos), pelo acordo, o Dnit fará imediatamente a manutenção de 80 km de estradas com dispensa de licitação e abriu licitação para, até junho, responder por outros 350 km.
MÉDIA COM GOMES OU COM O AGRO BOLSONARISTA?
Então, tanto de representantes do governo federal quanto de aliados palacianos, não se sabe qual foi a motivação de Wanderlei: fazer média com um público majoritariamente bolsonarista, o do agronegócio; fazer média com Eduardo Gomes (PL), em que deposita toda a sua segurança neste momento e é vice-presidente do Senado; ou outro motivo desconhecido? Fato é que, levado de novo pelo fígado, o governador abriu uma crise enorme com o governo Lula. Tanto que o Fórum Permanente dos Gestores Federais decidiu antecipar para abril uma reunião que faria em maio, após os ataques de Wanderlei ao Palácio do Planalto. Os representantes de Lula no Tocantins avaliam ainda que será muito difícil costurar o estrago feito pela fala do governador.