O advogado Edson Alecrim, que acompanhava Danielle Christina Lustosa Grohs no processo de separação, disse que acredita que a causa do crime foi divisão de bens. “Para mim, a causa do crime foi divisão de bens. Ele [Álvaro Ferreira Dias] havia procurado a Danielle várias vezes, pressionando para que ela fizesse com ele um ato de união estável. Ela disse que acabou fazendo esse documento com o Álvaro ainda em dezembro, mesmo com a ordem restritiva e apesar dos fatos ocorridos no passado”, comentou.
O advogado revela ainda que não sabe quais foram os argumentos usados pelo médico para convencer Danielle a assinar o documento e revela que em 2017 o médico havia formulado acordo semelhante com a ex-namorada, Marla Cristina Barbosa Santos, filha da advogada de defesa de Álvaro, que foi presa nessa quarta-feira, 17.
Conforme o advogado, Álvaro e Danielle nunca se casaram oficialmente e quando a professora pediu a separação surgiu entre o casal a necessidade da partilha de bens.
Alecrim explica que neste momento o médico teria afirmado a Danielle que não dividiria nada com ela. “Ambos tem juntos um patrimônio de R$ 4 milhões, conforme consta no processo. Embora eles vivessem em uma união estável, não havia documento comprovando a relação. Após separados e com a ordem restritiva, o médico conseguiu convencer Danielle a ir ao cartório e documentar a união estável”, afirma o advogado.
O crime foi planejado
Para ele, o médico planejou a morte de Danielle. “A casa em que o casal morava fica em um grande lote que, além da residência principal, possui mais duas unidades habitacionais que Danielle cedeu para duas famílias da igreja que frequentava, que estavam morando no local. O médico entrou em luta corporal com um dos moradores, chegou a fazer ameaças, e as pessoas que moravam nas casas deixaram o local uma semana antes do crime, após serem intimidadas por Álvaro. Danielle ficou sozinha na casa e no local já não havia testemunhas”, conta Alecrim.
O advogado revela ainda que no dia 16 de dezembro de 2017, apesar da ordem restritiva, o médico esteve na casa da professora, agrediu Danielle, que ligou para Alecrim. “Orientei que ela fosse à delegacia, ao IML e fizesse o exame de corpo de delito. Em função dessa agressão, a polícia foi até a residência e deu ordem de prisão ao médico, que resistiu à prisão, atacou um dos policiais, e deixou a casa preso e gritando que voltaria para matar Danielle. Os policiais testemunharam e um dos militares até registrou uma ocorrência contra o médico”.
Alecrim relatou também, que após o ocorrido, Danielle voltou para casa e no domingo enviou uma mensagem para ele, informando que se arrependia de ter assinado a união estável com Álvaro e que queria ir ao cartório na segunda-feira seguinte revogar o documento.
Ainda, de acordo com o advogado, ambos então marcaram de ir ao cartório no dia 18 às 9 horas. Entre o dia 17 e o dia 18, Danielle deixou de visualizar seu Whatsapp e não atendeu mais aos telefonemas da mãe ou dele. “Falei com Danielle pela última vez na noite do domingo. Mandei mensagens na segunda-feira e fui para a porta da casa dela, mas ela não atendia”, lembrou Alecrim.
Ele informou ainda que deduziu que a professora havia então saído para trabalhar em uma escola em Buritirana, onde lecionava, e ficou aguardando que ela retornasse suas ligações. Por volta das 16 horas ele estranhou que Danielle não tivesse entrado em contato nem com ele, nem com a mãe dela e resolveu acionar a polícia. “A mãe de Danielle também acionou a delegacia da mulher, pois desde a meia-noite de domingo não havia conseguido manter qualquer contato com a filha. Ela disse que Danielle havia enviado uma última mensagem dizendo ‘mamãe eu sempre vou te amar’. A mãe dela informou na delegacia que sabia que a filha jamais enviaria tal mensagem sem estar enfrentando uma situação de perigo”, revela Alecrim.
Cena do crime
O advogado conta que quando entrou na casa de Danielle, na tarde do dia 18 de dezembro, com a polícia, a porta da frente estava fechada e a porta da cozinha estava aberta. Danielle já estava sem vida, na cama, de bruços. A professora tinha dez cachorros, que ficaram presos no quarto com ela. “Por essa razão, quando batemos no portão os cachorros não latiram, porque estavam no quarto com Danielle. Então quem matou a Danielle deixou os cachorros presos com ela”, explica Alecrim.
De acordo com ele, a professora estava com o rosto afundado, como se tivesse sido jogada contra a parede. Alecrim relata, com profunda tristeza, que Danielle foi morta com requintes de crueldade, após uso de força bruta. Alecrim ainda chama a atenção do Judiciário sobre casos semelhantes ao de Danielle. “É muito difícil você ver uma pessoa querida, conhecida de tanto tempo, terminar desta forma. É preciso que as mulheres denunciem, que não se submetam a períodos tão longos de agressão por parte de seus companheiros, para que esses finais trágicos sejam evitados. A justiça precisa ser mais rígida. Não havia motivos, com todos os antecedentes do Álvaro, para que ele fosse solto depois da agressão que cometeu contra Danielle”, defende o advogado.
Testemunhas
Conforme o advogado, dois vizinhos da professora testemunharam a presença do médico no local do crime, no dia da morte de Danielle. “Um deles o viu deixar a casa às 7 horas e outro ouviu o barulho do portão eletrônico da casa às 7 horas. “O que a família, os amigos, todos que amam e admiram Danielle querem é que o autor deste crime seja submetido à pena máxima. Ele foi solto sem fiança, apenas porque tinha endereço fixo, emprego estável e era médico, ou seja, o juiz considerou que por essas razões ele era uma pessoa de reputação ilibada. Se ele tivesse permanecido preso, provavelmente isso não teria acontecido”, finaliza Alecrim.
Pena máxima
Após a Secretaria da Segurança Pública (SSP) divulgar na terça-feira, 16, que o laudo de exame necroscópico realizado pelo IML em Danielle Christina apontar que a morte da professora ocorreu em decorrência de asfixia por estrangulamento, o advogado revelou que família quer pena máxima para o autor do crime.
O advogado enfatizou também que o pedido da defesa à Justiça é que o médico Álvaro Ferreira Dias, suspeito pelo crime, seja enquadrado por homicídio qualificado, por motivo torpe, crime hediondo.
“Foi um crime bárbaro o que ocorreu com a Danielle. Ela não merecia esse tipo de tratamento. O que a família quer é a condenação do Álvaro por pelo menos 30 anos. A família quer que o Judiciário cumpra sua função, que a Justiça condene o assassino e que ele permaneça preso no decorrer do processo”, conta Alecrim.
Alecrim lembrou que a vítima conviveu por 19 anos com o médico e confirmou que havia uma ordem de restrição para que Álvaro mantivesse uma distância de 500 metros de Danielle. “Desde 2016 ela tinha essa medida protetiva. Já havia sido agredida fisicamente pelo ex-marido, além das agressões verbais, que eram contínuas na vida do casal”, finalizou o advogado.
Defesa do médico
No dia 22 de dezembro, a defesa do médico Álvaro Silva disse ao CT que tudo que se diz sobre seu cliente “é mentira”. “Ele [Álvaro] está sendo acusado de um crime que tem como provar que não cometeu, porque não estava em Palmas”, garantiu a advogada do suspeito, que preferiu não ser identificada.
Segundo a defesa, o médico saiu da prisão para uma chácara de amigos fora de Palmas. “O que o pessoal que estava com ele tem a dizer já descarta qualquer possibilidade que ele tenha sido o autor desse crime, porque da chácara, no outro dia, ele foi direto para o aeroporto de Uber e embarcou às 7 horas”, afirmou a advogada.
Relacionamento “conturbado”
Apesar de negar as denúncias de agressão, a advogada confirmou que o relacionamento de Álvaro e Danielle era “conturbado”. Segundo ela, eles estavam com processo de separação em andamento, mas haviam reatado há poucos dias e no dia 6 de dezembro chegaram a fazer uma declaração de união estável.
“No dia do acontecimento ele não invadiu a casa. Ele já estava morando lá porque ela falou que já tinha revogado a medida protetiva. Ela que foi atrás querendo voltar. Tudo questão de bens materiais porque ele pagava pensão pra ela de 30% do salário dele e morava na casa que era dos dois, enquanto Álvaro pagava aluguel”.
Entenda o caso
Danielle foi encontrada sem vida no início da noite do dia 18 de dezembro do ano passado, em sua residência, na Quadra 1.104 Sul, em Palmas.
No dia 20 de dezembro, Simara Lustosa, mãe de Danielle, falou sobre o relacionamento “tumultuado” da vítima com o ex-marido. Emocionada, revelou que ele tinha o comportamento “extremamente agressivo” e de “psicopata”: “Danielle dizia que tinha medo dele”.
No dia 22, Edson Ferreira Alecrim, advogado da professora relatou que outras pessoas já haviam sofrido agressão e ameaças do ex-marido da vítima, inclusive ele. Para o advogado, todos os fatos “levam a crer” que o médico é o suspeito do crime.
“Ela falava que o Álvaro sempre foi agressivo, brigavam, ele batia nela e ela sempre tolerando pra ver se a pessoa mudava, mas ela disse que não tinha jeito. No sábado [16] ele tentou estrangular ela e como não conseguiu ameaçou matar ela”.
Prisão
Em trabalho conjunto, a Polícia Civil de Palmas, Goiás e São Paulo conseguiu prender na quinta-feira, 11, na cidade de Anápolis (GO), Álvaro Ferreira Silva. O médico, que foi transferido para Palmas na sexta-feira, 12, vai cumprir a prisão temporária decretada pela Justiça de 30 dias, por crime de homicídio hediondo.
Silva já respondia a processos por violência doméstica e existia até uma medida protetiva que o obrigava a manter 500 metros de distância da professora. Dois dias antes do crime, Danielle registrou mais um boletim de ocorrência por agressão.
Nesta terça-feira, 16, a Secretaria de Segurança Pública do Tocantins (SSP/TO) confirmou que o resultado do laudo necroscópico, realizado pelo Instituto Médico Legal de Palmas (IML) apontou que a professora Danielle morreu de asfixia mecânica por esganadura.
Nessa quarta-feira, 17, Marla Cristina Barbosa dos Santos, 42 anos, ex-namorada do médico Álvaro Ferreira da Silva, foi presa. Ela foi capturada, mediante cumprimento a mandado de prisão temporária de 30 dias, quando estava próxima à residência de sua mãe, na Quadra 403 Sul, em Palmas.
O advogado Paulo Roberto da Silva, que defende Marla Cristina disse que o pedido de prisão da sua cliente foi somente para esclarecer os fatos. “A polícia queria saber se ela tinha alguma informação, ou se teve participação no crime que vitimou a professora Danielle Cristina Lustosa Grohs. Ela prestou depoimento, colaborou e a própria polícia entendeu que não há necessidade dela permanecer presa. Ficou claro que ela não participou do crime”, contou o advogado lembrando que já solicitou um pedido de liberdade para Marla.
Na quinta-feira, 18, o advogado contou que sua cliente afirmou que foi espancada e estuprada na noite dessa quarta-feira, 17, dentro do Presídio Feminino de Palmas. “Ela foi submetida a exame de corpo de delito, que comprovou que ela está machucada”, garantiu o advogado.
O advogado disse ainda que levou a situação ao conhecimento do secretário da Cidadania e Justiça, Glauber de Oliveira, e pediu providências. “Vou acionar a Comissão Nacional de Direitos Humanos e a Justiça. Já registramos a ocorrência policial nesse sentido. Ela foi presa por suspeita de participação de um crime de violência contra a mulher. Aí de repente pegam essa mesma mulher e colocam em um presídio para comenterem violência contra ela. É uma coisa absurda! Depois de ouvida, o delegado não achou culpa nela”, falou Paulo Roberto.