No domingo de Páscoa, exatamente às 18 horas, quando se descortinava no horizonte o exuberante pôr do sol no jalapão, reuniram-se no alto das dunas, os representantes dos povos das águas, das cachoeiras, das dunas, do capim dourado e dos fervedouros para discutirem a situação política do Estado do Tocantins. A tristeza e a preocupação estavam estampadas nas fisionomias dos presentes. A reunião foi convocada em razão das notícias que chegaram da capital sobre a cassação do mandato do governador e a posse do Presidente da Assembleia Legislativa em seu lugar. Outras notícias davam
conta de que seria um governo provisório, pelo prazo de 60 dias, até a eleição direta convocada para o início do mês de junho e depois, em outubro, haveria outra e se for considerada a realização de segundo turno nas duas eleições, seriam quatro eleições no período de 6 meses. Essas informações deixaram os povos boquiabertos e desesperançados. Muitas lágrimas foram derramadas e misturaram-se às águas do Rio Novo.
O representante do povo do capim dourado estava muito contrariado, porque logo agora que a Rede Globo estava mostrando as potencialidades turísticas do Jalapão, mesmo com algumas mentiras, o número de turistas tinha aumentado consideravelmente, fazendo a economia local crescer, gerando empregos e rendas para o povo muito sofrido da região. Com a insegurança política causada pela cassação do governador, ele tinha certeza que o Jalapão seria muito prejudicado.
Já o representante dos fervedouros se perguntava se não seria melhor antecipar as eleições de outubro para julho, fazendo uma eleição só e acabando de vez com as inseguranças políticas. Esses representantes acreditavam que as Leis eleitorais deveriam ser modernizadas para não acontecer fatos como este do Tocantins.
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Mais enfurecido estava o representante do povo das águas, pois achava que os R$ 15 milhões previstos para serem gastos com a eleição suplementar, poderiam ser muito melhor aplicados no Jalapão. Com esses recursos, o Jalapão seria capaz de avançar 50 anos no seu desenvolvimento sustentável.
O representante do povo das cachoeiras, do alto de sua sabedoria, estava mais preocupado com as questões sociais, principalmente com os mais necessitados, porque eles passariam por um período sombrio, sem as assistências necessárias para sobreviverem. Ele disse que o número de desempregados no Estado vai aumentar consideravelmente com a crise política instalada e que as demissões que o governo provisório fizer vão ser compensadas pelas contratações políticas que terá que fazer. Vai trocar 6 por meia dúzia. Ele disse ainda, que tem conhecimento de que o número maior de contratos especiais está nas áreas da saúde e educação e que os contratados são de fundamental importância para o bom funcionamento das respectivas pastas.
Por sua vez, o representante do povo das dunas estava mais preocupado é com a continuidade das ações governamentais. Segundo ele, na hora em que a economia brasileira dá sinais de começar a melhorar, vem essas notícias para desestabilizar o Tocantins. Em 60 dias não dará para mudar o cenário econômico e financeiro do Estado, mesmo com toda a boa vontade e discurso eloquente. Como teremos duas eleições pela frente, é claro que quem estiver à frente do Palácio Araguaia, até as eleições de outubro, vai mesmo é se preocupar com a reeleição e não com as necessidades prementes do Estado. Falar que vai resolver os problemas que o Estado enfrenta, em tão curto prazo de tempo é estar jogando palavras ao vento.
A reunião continuou com muitos debates e, por fim, por unanimidade resolveram chamar uma líder espiritual da região que tinha muita sabedoria e, assim como aquela senhora da novela da Globo, ouvia vozes do além. Achavam que ela poderia esclarecer muitas coisas e orienta-los de como agirem nesta situação de calamidade.
Uma hora depois, chegou a famosa líder espiritual e consultada sobre o assunto pediu que todos tivessem muita paciência e usassem o bom senso para decidirem o que fazer. Lembrou aos representantes dos povos, que até mesmo o governador cassado poderia voltar ao cargo por decisão judicial. Disse que serão muitas ações judiciais que tomarão conta das eleições que podem chegar até ao mês de novembro. Disse ainda, que a busca pelo poder político e financeiro fere os princípios divinos, não por ser errado, mas pelas ferramentas utilizadas pelos políticos para chegar ao poder. Ela afirmou que as
lágrimas continuarão a fazer parte da vida dos tocantinenses, principalmente dos povos do Jalapão, já que os governos investem em todas as regiões do Estado e muito pouco no mundo encantado do Jalapão. Despedindo-se dos representantes pediu a eles que tivessem muito equilíbrio e que não se afastassem de Deus, porque somente ele poderia libertar o Tocantins das persistentes disputas políticas inconsequentes.
Enxugando as lágrimas, os representantes dos povos acharam por bem encerrar a reunião e marcarem outra para o dia 1º de dezembro, para avaliarem os resultados deste processo penoso, triste, inconsequente e que muito mal faz ao Tocantins. Fizeram uma prece em conjunto pedindo a Nosso Senhor Jesus Cristo que libertasse o povo sofrido do Tocantins das mazelas irresponsáveis e persistentes que assolam o Estado a mais de 10 anos.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br