Estimados leitores e leitoras! Tudo bem com vocês? O que acharam da decisão do nosso Presidente da República de dispensar do visto de entrada no Brasil os cidadãos dos EUA, Canadá, Austrália e Japão? E a reciprocidade? Esses cidadãos podem entrar e saírem do nosso país quando quiserem. E nós? Será que o governo americano vai permitir a entrada de brasileiros nos Estados Unidos sem o devido visto e sem as investigações necessárias? De jeito nenhum. E a prisão do Temer? Prisão para substituir a condução coercitiva? Pode?
A Inquisição foi um movimento político-religioso que ocorreu entre os séculos XII ao XVIII na Europa e nas Américas. O objetivo era buscar o arrependimento daqueles considerados hereges pela Igreja Católica e condenar as teorias contrárias aos dogmas do cristianismo. A palavra “heresia” vem do grego e quer dizer escolha. Portanto, o herege era um fiel cristão que fazia uma escolha contrária ao que afirmava a doutrina. Muitos estudiosos consideram o herege como um “revolucionário”, pois ele defendia suas ideias, mesmo correndo o risco de ser condenado à pena de morte.
[bs-quote quote=”Hoje, no Brasil, temos a ditadura das redes sociais. Existem brasileiros que não aceitam que outros brasileiros pensem diferente deles” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/TadeuZerbini60.jpg”][/bs-quote]
Na Idade Moderna, quando houve a ruptura entre a Igreja Católica e Lutero, as regiões conquistadas pelos protestantes também sofreram a Inquisição. É preciso alertar que o termo “inquisição protestante” é usado para ilustrar a perseguição que Calvino, Lutero e Zuínglio empreenderam aos católicos, cientistas e humanistas. Desta maneira, as principais vítimas da perseguição protestante foram os católicos que se recusaram a se converter ao protestantismo. Também foram condenadas pessoas acusadas de adultério, bruxaria e seitas como a dos anabatistas. Na Alemanha, bandos protestantes esfolaram os monges da abadia de São Bernardo, em Bremen, passaram sal em suas carnes vivas e depois os penduraram no campanário. Em Augsburgo, em 1528, cerca de 170 anabatistas (se tiverem algum tempo, leiam sobre eles) foram aprisionados por ordem do Poder Público. Muitos foram queimados vivos; outros foram marcados com ferro em brasa nas bochechas ou tiveram a língua cortada.
As lembranças dos tribunais de exceção e arbítrio somam-se as de Adolf Hitler (1889-1945), Josef Stalin (1879-1953), Augusto Pinochet (1915-2006), Idi Amin Dada (1920-2003), Saddam Hussein (1937-2006) e muitos outros pelo mundo afora. A história nos mostra, com precisão, o que aconteceu quando a democracia e os direitos individuais foram sufocados por ditaduras sangrentas e irresponsáveis.
Pensar diferente, é crime?
Hoje, no Brasil, temos a ditadura das redes sociais. Existem brasileiros que não aceitam que outros brasileiros pensem diferente deles. Já falaram por aí que a unanimidade é “burra”. Por isto existem os parlamentos onde as convicções de cada eleitor são representadas por deputados e senadores, mesmo que não agradem os mais radicais.
A Constituição Brasileira é a segurança do povo e das instituições. Quando ela passa a ser desrespeitada o perigo de atos de exceção e arbítrio se fazem presentes. As Leis passaram a ser utilizadas e interpretadas de acordo com a formação ideológica de cada um. As prisões temporárias e preventivas passaram a substituir a condução coercitiva. Temos acompanhado pelo país afora os promotores públicos, delegados e juízes de primeira instância solicitando e determinando prisões que poderiam ser simplesmente substituídas por intimações para depoimento com hora marcada. Se as intimações não forem atendidas, aí sim, se faça a prisão. O mais interessante, é que as prisões são acompanhadas por repórteres e jornalistas para que possam divulgar as “operações”. Se prende antes de saber se realmente a pessoa é culpada. Isto é um perigo. Pode acontecer com qualquer um de nós.
A sede por prisões sensacionalistas pelos veículos de comunicação, principalmente das TVs abertas, chegam ao cúmulo do absurdo. Ao mesmo tempo que divulgam as informações, que aumentam o seu ibope, também passaram a criminalizar a gestão pública. Todos os dias levam informações sobre as condições de hospitais, estradas e pontes, mas para prestar informações sobre o que está sendo bem feito, é preciso que alguém pague. Tudo está ficando banalizado.
Tenho observado que as redes sociais passaram a ser o reduto de muitas pessoas inescrupulosas que atacam a tudo e a todos, como se fossem os donos da verdade e, se alguém ousar discordar deles, os adjetivos impróprios são disparados na mesma hora. Pessoas covardes e insanas agora descobriram que as redes sociais são as válvulas de escape para suas convicções. Doa a quem doer. Esses são os justiceiros do século XXI. Irresponsáveis, malignos e inconsequentes.
Os tribunais de exceção e arbítrio agora são virtuais. Não se usa mais queimar pessoas em praças públicas, agora o método utilizado é o linchamento moral em praças virtuais.
Volto a repetir o que falei no início do texto: a palavra “heresia” vem do grego e quer dizer “escolha”. Isto quer dizer que se você pensa diferente dos que estão no poder, ou dos que acham que são donos da verdade, você é um herege.
Todo mundo deve pensar dentro da “caixa”, porque se pensar fora dela será considerado um herege.
Você se considera um herege?
Cuidado.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br