A balança comercial brasileira fechou o ano de 2019 com um superávit de 46 bilhões de dólares. Se compararmos com o ano de 2018, que obteve um superávit de 58 bilhões de dólares, podemos verificar que houve uma queda de 20,5%, ou seja, o pior resultado desde 2015.
Mas o que está por trás desta queda acentuada?
[bs-quote quote=”Se por um lado a economia está em processo de adequação, com os governos gastando menos para se enquadrarem à Lei de Responsabilidade Fiscal, por outro, as questões sociais estão sendo deixadas de lado” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/TadeuZerbini180.jpg”][/bs-quote]
Segundo o Secretário de Comércio Exterior, a crise econômica na Argentina que afetou a compra de produtos manufaturados brasileiros e a crise suína na China que reduziu a demanda pela soja foram os nossos principais problemas. Além desses dois fatores, o comércio mundial cresceu apenas 1,2% em 2019, resultado este só comparado ao ano de 2009 quando houve uma enorme crise econômica mundial.
De acordo com o IBGE, no ano de 2019 houve uma retração de 1,1% no setor industrial brasileiro, enquanto o setor teve crescimento de 2,5% em 2017 e de 1% em 2018. Mais uma retração que dificulta o crescimento brasileiro.
Já a bolsa de valores, diante da guerra comercial entre os Estados Unidos e China e das dificuldades econômicas e políticas na Argentina, Venezuela e Chile, perdeu R$ 40 bilhões provenientes de investidores internacionais, mesmo com a reforma da previdência que demonstrou ao mundo a responsabilidade econômica e financeira com os gastos públicos brasileiros.
Neste ano, já saíram R$ 16 bilhões da Bolsa. Os resultados positivos da Bolsa são decorrentes das aplicações dos brasileiros que pela primeira vez superaram os investidores estrangeiros. E isto está acontecendo porque as taxas de juros estão baixas e as aplicações em renda fixa e poupança, em alguns casos, tem seus resultados negativos.
Neste ano, as reformas administrativa e tributária devem entrar em pauta no Congresso Nacional e talvez consigam estimular os investidores internacionais a retornarem ao Brasil para alavancarem novos negócios no setor produtivo, uma vez que o capital especulativo não tem mais espaço.
Se por um lado a economia está em processo de adequação, com os governos gastando menos para se enquadrarem na Lei de Responsabilidade Fiscal, por outro lado, as questões sociais estão sendo deixadas de lado.
Temos ainda 11,6 milhões de desempregados e 38,4 milhões de brasileiros na informalidade. Isto contribui para impactos sociais a médio e longo prazo na previdência.
As áreas da saúde, educação e segurança estão em péssima situação e necessitam de volumosos investimentos para oferecerem dignidade aos menos favorecidos, mesmo que alguns governantes acreditem que é o mercado quem deve regular a economia. O Brasil ainda é um país com grandes dificuldades econômicas e financeiras e seu setor produtivo não está acompanhando as inovações tecnológicas para que possa ser competitivo em um mercado extremamente exigente e eficiente, gerando empregos de qualidade.
Com o decorrer do tempo, por falta de investimentos no setor produtivo, os empregos formais perderam espaço para os informais. Milhões de brasileiros estão trabalhando para aplicativos de transporte e entregas. Milhares de brasileiros com curso superior estão servindo de motoristas para empresas virtuais que nem veículos possuem.
Um país deve saber a medida certa para equilibrar sua economia. Não é mantendo uma inflação de primeiro mundo e gastos restritos à manutenção da máquina pública que fará o país crescer e gerar renda. Deve-se encontrar um ponto de equilíbrio para que os impactos sociais não causem mais danos do que deveriam.
Uma nação precisa de atender toda sua população e não simplesmente beneficiar os formadores de opinião ou aqueles que apoiam o modelo liberal da economia. Tem muitos brasileiros pelo Brasil afora que ainda tem esperança em um mundo melhor e mais justo.
A dívida brasileira é impagável e para que ela diminua os mais pobres vão pagar caro por isto. Com pouco dinheiro disponível para programas sociais como habitação, saúde, educação, saneamento e segurança o distanciamento entre as classes sociais brasileiras aumentam ainda mais.
O Congresso Nacional é o grande responsável pela definição de políticas públicas que possam amenizar a atual situação social e adequar os gastos públicos em um patamar que seja razoável para todas as classes sociais.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br