Antigamente, nas cidades do interior, “piza” significava surra. Os pais falavam assim para as crianças: “se você não parar de me “amolar” vou te dar uma piza, ai você vai ver o que é bom”. O termo saiu de moda, mas continua a significar surra.
Já, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), tradução de Programme for International Student Assessment, é um estudo comparativo internacional, realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). O Pisa oferece informações sobre o desempenho dos estudantes na faixa etária dos 15 anos, vinculando dados em relação à aprendizagem e também aos principais fatores que moldam sua aprendizagem, dentro e fora da escola. Desde sua primeira edição, em 2000, o número de países e economias participantes tem aumentado a cada ciclo. O Brasil participa do Pisa desde o início da avaliação.
[bs-quote quote=”A piza que estamos levando é de governos irresponsáveis de todas as esferas, medíocres e tolerantes que não se preocupam com o fracasso dos nossos jovens que não conseguem sair do círculo vicioso da pobreza e da falta de políticas públicas responsáveis e permanentes” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/TadeuZerbini180.jpg”][/bs-quote]
As avaliações abrangem três áreas do conhecimento: Leitura, Matemática e Ciências. Além de observar tais competências, o Pisa coleta informações para a elaboração de indicadores contextuais que possibilitam relacionar o desempenho dos alunos a variáveis demográficas, socioeconômicas e educacionais. Essas informações são coletadas por meio da aplicação de questionários específicos para os alunos, para os professores e para as escolas.
Será que levamos uma “piza” no pisa?
Observei, no decorrer da semana, que quase todos os veículos de comunicação alardearam negativamente o resultado brasileiro, como se estivéssemos condenados ao fracasso.
O simples de fato do Brasil participar de uma avaliação que, necessariamente ele não precisava participar, demonstra que estamos no caminho certo. Tenho discutido as metodologias de pesquisas que nos são apresentadas pelas diversas instituições brasileiras e internacionais. Comparar o Brasil com países como Reino Unido, Estados Unidos, Hong Kong, Suécia e Canadá é como comparar “alhos com bugalhos”. Quando comparado a esses países, o Brasil não foi bem no resultado do Pisa, mas se compararmos os resultados do Brasil com os do México, Chile, Argentina e Peru, a situação é outra.
O que quero dizer é que educação não é um pacote pronto. O que significa educação para você? Para mim, educação é a soma de esforços para que as gerações possam satisfazer suas necessidades independente de outros países ditarem as regras. Educação não é somente o conhecimento de leitura, matemática e ciências. As opções são múltiplas e regionalizadas.
Como ter um excelente resultado em educação se temos um país de dimensões continentais, com sérias dificuldades econômicas e sociais, atreladas à políticas públicas paternalistas pautadas em costumes e crenças tradicionais?
O que dizer de um transporte escolar caindo aos pedaços e com veículos conduzidos por pessoas despreparadas e sem o mínimo de educação? O que dizer da merenda escolar dos pequenos municípios das regiões norte e nordeste? O que dizer do desinteresse de muitos educadores que não estão nem um pouco preocupados com os resultados que estão sob sua responsabilidade?
A educação pública ainda está inserida em contrapontos políticos. Pessoas influentes culpam o partido político “A” ou “B” pelo resultado da nossa educação. Será possível que um único partido político consegue estar presente ao mesmo tempo em todas as escolas públicas do Brasil? É uma desculpa indecente.
Estamos acompanhando os Projetos de Lei, as tais PECs, e tantas outras Leis sendo aprovadas no Congresso Nacional, seja por iniciativa do Poder Executivo, seja por iniciativa dos próprios parlamentares, que tratam da reforma da previdência, reformar fiscal, reforma trabalhista e tantas outras que buscam o equilíbrio econômico. O equilíbrio social deixou de ser prioridade.
Bons resultados em educação estão atrelados à qualidade vida do educador, do professor, mas principalmente, das famílias brasileiras. As mesmas escolas que existem hoje são as mesmas das décadas de 60 e 70, com a diferença que as responsabilidades são totalmente diferentes. Naquela época quem estudava em escola particular era quem não conseguia ser aprovado na escola pública. Por que será que mudou? Interesses sociais ou econômicos? Os filhos dos ricos estudam em escola particular e os dos pobres em escolas públicas de péssima qualidade, ou seja, os governantes que são ricos vão se preocupar com os filhos dos pobres?
A piza que estamos levando é de governos irresponsáveis de todas as esferas, medíocres e tolerantes que não se preocupam com o fracasso dos nossos jovens que não conseguem sair do círculo vicioso da pobreza e da falta de políticas públicas responsáveis e permanentes.
A piza que levamos no Pisa, no ano que vem vai se transforma em pizza.
Educação é responsabilidade de todos nós, mas principalmente dos governantes. E não é só dinheiro não, tem muitas outras questões a serem discutidas.