A polêmica criada pelo Ministro da Economia quando comparou os servidores públicos com parasitas e o governo como seu hospedeiro causou revolta por todo o país. Quando generalizou a comparação, o ministro cometeu uma injustiça irremediável.
Na Constituição de 1937 foi prevista a criação de um órgão para organizar e racionalizar o serviço público brasileiro. Em 1938 foi criado o Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP), diretamente subordinado à Presidência da República e tinha como objetivo aprofundar a reforma administrativa necessária iniciada antes por Getúlio Vargas.
A “racionalidade” da administração e a “irracionalidade da política” não podiam continuar a caminharem juntas, e com o DASP pretendia se estabelecer uma maior integração entre os diversos setores da administração pública e promover a seleção e o aperfeiçoamento do pessoal administrativo por meio da adoção do sistema de mérito, o único capaz de diminuir as injunções dos interesses privados e político-partidários na ocupação dos empregos públicos.
[bs-quote quote=”Parasitas são organismos que vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro, um processo conhecido por parasitismo. Isto na biologia porque quando falamos da administração pública quem é o prejudicado não é o hospedeiro mas sim milhões de pessoas que não conseguem receber serviços públicos de qualidade” style=”default” align=”right” author_name=”Tadeu Zerbini” author_job=”Economista, professor e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/TadeuZerbini180.jpg”][/bs-quote]
Por décadas o DASP desenvolveu muito bem seu papel, mas infelizmente não conseguiu implementar a política do mérito, uma vez que não foi apoiado pelos governantes. Com o tempo, a gestão de pessoal foi descentralizada e as carreiras foram implantadas sem nenhuma preocupação com o futuro da nação e muito menos com as condições econômicas e sociais do país.
Os famosos “trens da alegria”, que consistia em dar estabilidade a funcionários contratados sem concurso público, eram comuns e com isto a máquina pública das três esferas de governo produziu uma despesa crescente que culminou nesta aberração com dinheiro público. São milhares de servidores que hoje estão estrangulando a previdência e a folha de pagamento da União, Estados e Municípios sem terem feito concurso.
Resumindo, desde 1937 se tenta proteger o serviço público da irracionalidade política e até agora, mais de 80 anos depois, a situação é muito pior.
Parasitas são organismos que vivem em associação com outros dos quais retiram os meios para a sua sobrevivência, normalmente prejudicando o organismo hospedeiro, um processo conhecido por parasitismo. Isto na biologia porque quando falamos da administração pública quem é o prejudicado não é o hospedeiro mas sim milhões de pessoas que não conseguem receber serviços públicos de qualidade.
Na realidade, os hospedeiros são os poderes executivo, legislativo e judiciário da União, dos Estados e dos Municípios. Os salários no Senado e na Câmara dos Deputados são verdadeiros prêmios mensais de loteria. No judiciário, nem se fala. Juiz ganhando até R$ 500.000,00 em um único mês. Auxílios de todas as formas. Viagens para qualquer lugar e a qualquer hora. Alimentação, escola, saúde, veículo e combustíveis por conta dos contribuintes. Férias 2 vezes por ano e quando não conseguem tirar as duas, são indenizados sem descontar qualquer imposto.
Mas a grande maioria dos servidores públicos trabalham muito. Quem atende nos hospitais públicos? Quem responde pela segurança pública? Quem está em salas de aulas de universidades e escolas públicas? Quem é responsável por arrecadar os impostos? São muitos servidores públicos que cumprem seus deveres com zelo e dedicação e que nós, muitas das vezes, não os valorizamos como deveríamos. São eles os responsáveis diretos pelo bem estar da população, principalmente daquela menos favorecida.
Se alguém tem culpa, não é o “dito” parasita, mas sim o hospedeiro que criou as condições ideais para que houvesse a proliferação de parasitas. A proliferação de assessores que não trabalham no legislativo é culpa de quem? Estamos acompanhando o que andam falando sobre “rachadinha”. Por que não trabalham e ganham muito bem? Quais os reais interesses nesses parasitas? Quantos parasitas estão nos hospedeiros por conta da troca de votos?
Os hospedeiros tratam seus parasitas muito melhor do que tratam os brasileiros que pagam seus impostos.
O Ministro que falou enorme bobagem deveria se preocupar com os hospedeiros e não com os que ele chama de parasitas.
Vamos aguardar a dita “reforma administrativa”. Depois podemos sorrir ou chorar.
Parasita é a …….!
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br