Muitos pensadores estão preocupados com o futuro do Brasil. Os nossos dirigentes estão confundindo igualdade social com comunismo. Pessoas importantes andam dizendo por aí que a democracia atrasa o desenvolvimento do país. Quem pensa diferente de quem está no poder é bombardeado por pessoas desequilibradas que não respeitam as diferenças.
Médici dividiu seu governo em três áreas: militar, econômica e política. Foi o comando presidencial mais repressivo da história brasileira.
[bs-quote quote=”Precisamos lutar pela democracia e pela nossa liberdade de expressão e não deixarmos que brasileiros de extrema direita definam os rumos do nosso futuro como se pertencêssemos a eles. Não somos gado” style=”default” align=”right” author_name=”TADEU ZERBINI” author_job=”É economista e consultor” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2019/09/TadeuZerbini180.jpg”][/bs-quote]
Os direitos fundamentais do cidadão estavam suspensos. Qualquer um podia ser preso se fosse desejo do governo. Nas escolas, nas fábricas, na imprensa, nos teatros, a sociedade brasileira sentia a mão de ferro da ditadura. O governo gastava milhões de “cruzeiros” em propagandas destinada a melhorar sua imagem junto ao povo. Um dos slogans dessa propaganda dizia: “Brasil, ame-o ou deixe-o”. Os meios de comunicação e as atividades culturais eram vigiados pela polícia. Tudo o que desagradava ao governo era severamente censurado. A ditadura não admitia críticas, nem ao menos oposição pacífica.
Desigualdade, democracia e inclusão passou a ser coisa de comunista. Como pode um país retroagir assim?
Os ganhos sociais do período pós-ditadura não são uma conquista só do Partido dos Trabalhadores. Foi uma conquista do povo brasileiro, aliás, da maioria do povo brasileiro. Os menos favorecidos estão pagando caro pelas coisas erradas protagonizadas por integrantes do governo e do Congresso Nacional. Por meio de pagamentos de impostos, sustentamos os caríssimos Poderes constituídos que, por sua vez, não retribuem ao povo o que lhe é de direito.
Moradia, emprego, saúde e educação são um desastre. Como pode um país continental que gera receitas fenomenais, gastar quase tudo para pagar servidores públicos dos três poderes? Como pode uma previdência chegar ao fundo do poço se existe a contribuição do empregado e, maior ainda, a contribuição patronal. Lógico que é questão de gestão.
Por andava o TCU os TCEs, a Controladoria Geral da União e tantos outros órgãos de fiscalização que custam tão caro aos bolsos dos contribuintes e que não detectaram nada de errado e muito menos apuraram tanto abuso de poder. São servidores públicos que não cumpriram seus deveres e receberam mensalmente seus salários e vantagens que são desproporcionais à situação social do país. Será que não entendem que recebem seus salários pagos pelos impostos imputados ao povo brasileiro para pelo menos desempenhar suas atividades com responsabilidade.
É democrático deixar de ajustar o salário mínimo pelo índice de inflação e aumentar os valores dos recursos que são transferidos aos partidos políticos? Quanta aberração para um país com, aproximadamente, 43 milhões de brasileiros em situação de pobreza, representando 21% da população. Quem está preocupado com isto?
As relações internacionais, o comércio exterior e a ajuda humanitária deve ser um dos princípios básicos do governante de qualquer país. A falta de educação, a falta de paciência e a soberba, nunca foram ingredientes que levasse um país ao desenvolvimento social e econômico. O Brasil precisa de equilíbrio emocional para lidar com outros países. Nem sempre os objetivos ou ideais são compartilhados da mesma forma. Mas a teoria do ganha-ganha é muito melhor da perde-ganha. Intolerância em relações internacionais é o mesmo que destinar o país ao atraso e à insegurança humanitária.
Desde 2014 o Brasil não cresce. Este ano temos uma inflação insignificante e uma taxa de juros baixíssima, mas temos um PIB vergonhoso, 12,5 milhões de desempregados e juros do cartão de crédito absurdos. Desta forma, nunca seremos um país respeitado. O desalento está estampado nos rostos do povo brasileiro. O país está estagnado e ainda falam do retorno da CPMF e nunca avançam na reforma fiscal que é muito mais importante que a previdenciária.
Nosso país não pode retroceder nos ganhos democráticos. Nosso país não pode conviver mais com o autoritarismo. Nosso país não pode conviver mais com representantes que não estejam à altura das relações diplomáticas. Nosso país não pode mais conviver com brasileiros que não aceitam a opinião dos outros. Nosso país não pode mais conviver com tanta miséria. Nosso país não pode mais conviver com tanta violência. Nosso país não pode mais conviver com o caos na saúde. Nosso país não pode mais conviver com a péssima qualidade do ensino público. Nosso país não pode mais conviver com a discriminação das minorias.
Precisamos lutar pela democracia e pela nossa liberdade de expressão e não deixarmos que brasileiros de extrema direita definam os rumos do nosso futuro como se pertencêssemos a eles. Não somos gado.
Os mais necessitados não querem saber desta história de direita e esquerda, eles querem saber é de políticas sociais e econômicas que permitam ao menos que eles tenham um pequeno lugar ao sol.
O retrocesso civilizatório está acontecendo em nosso país e muitos acham que este é o caminho correto. Triste assim.
TADEU ZERBINI
É economista, especialista em Gestão Pública, professor e consultor
ctzl@uol.com.br