Caro presidente Amélio Cayres,
Durante toda essa quinta-feira recebi inúmeras ligações e mensagens de alguns de seus colegas de Parlamento e de muitas importantes personalidades tocantinenses que, como eu, estão preocupados com outra operação envolvendo o uso das emendas parlamentares dos membros da Casa presidida pelo senhor. Tivemos há poucas semanas uma ação policial que mostrou a possibilidade de esses recursos terem irrigado um suposto esquema de desvio milionário na compra de cestas básicas para pessoas famintas impedidas de trabalhar pela covid-19. Assim, por conta da pandemia, prisioneiras nas próprias residências. De coração, espero que tudo seja esclarecido e que nada disso seja verdade. Porque, se se confirmar, trata-se de um crime hediondo, de dimensões humanitárias.
Agora tivemos a operação da Polícia Civil que investiga supostos crimes contra a administração pública, lavagem de dinheiro e organização criminosa, também envolvendo emendas parlamentares que alimentaram um instituto, através das Secretarias da Cultura, do Turismo e do Esporte e Juventude. Isso ocorreu entre 2015 e 2019 e contaria com emendas destinadas por deputados atuais, outros já sem mandato e, segundo se comenta, alguns que ascenderam na vida pública. No passado, presidente, tivemos a operação ONGs de Papel, de 2019, também da nossa Polícia Civil, que, como agora, apurava o uso de dinheiro de emendas parlamentares para eventos supostamente superfaturados.
O que está ocorrendo? É muita operação, muitas suspeitas. O Legislativo estadual precisa, presidente, dar uma resposta à sociedade, que vê milhões de reais que poderiam ir para algo útil — como estradas, escolas e segurança — aparentemente sendo jogados num ralo de esquemas com entidades suspeitíssimas, com shows e eventos a preços exorbitantes. Quais deputados (atuais e ex) estão enviando recursos para esses institutos, ONGs ou seja o que for? Eles precisam ter os nomes colocados a público e dar explicações. Se enviaram, esses parlamentares têm a responsabilidade de acompanhar a aplicação e denunciar, se detectarem irregularidades. Se não estão fazendo isso, por quê? São cúmplices? Essas questões precisam ser respondidas com urgência, porque essa espada de Dâmocles balança sobre a cabeça dos 24 membros da Assembleia, o que, concordo, não é justo.
Sou franco com o senhor: torço muito para uma operação da PC e da PF chegar ao Legislativo estadual. Faz tempo que essa Casa carece de se abrir integralmente à sociedade e mostrar suas entranhas para que possamos separar o joio do trigo. Não tenho dúvida de que existem aí deputados da mais alta envergadura moral. Mas aqueles que forem homens públicos minúsculos devem ser extirpados do meio de vocês. Não cabe nessa hora corporativismo para acobertar quem supostamente lesiona todo o Tocantins com esses possíveis esquemas para se favorecer e a terceiros.
E, me perdoe, presidente, mas tem ocorrido operações demais envolvendo emendas parlamentares e explicações de menos por parte da Assembleia, que finge que nada está acontecendo. Mas está, e nós nos encontramos, toda a sociedade, muito preocupados.
Saudações democráticas,
CT