Caros Janad e Eduardo,
A campanha está chegando ao fim, e até que não foi das piores, ainda que muita coisa tenha ocorrido neste segundo turno, acusações de lado a lado, críticas as mais diversas. Porém, tudo dentro da normalidade nada cômoda da segunda etapa da eleição, quando ninguém mais aguenta uma disputa que nunca acaba e os eleitores estão loucos para que a agonia termine logo e possam se focar no rame-rame da vida de sempre: trabalhar pelo menos oito horas, pagar contas, ver se sobra algum para a cerveja do final de semana, chegar cansado em casa à noite e dormir para que, descansado, tudo se repita no dia seguinte.
É isso: a vida continua do mesmo jeito e será assim após as eleições. Sem solavancos, as dificuldades, tristezas e alegrias de sempre. Com o propósito de aliviar essa pasmaceira cotidiana, a população elege alguém que possa reduzir os desconfortos do dia a dia. Para facilitar seu acesso ao trabalho, com ruas e sinalizações que otimizem a movimentação pela cidade; garantir segurança e uma formação de qualidade aos filhos nas escolas; fazer obras que impeçam que surjam “rios” em plena Teotônio, NS-2, NS-10 e NS-4 e a deixe com o carro no prego na temporada de chuva, na ida e volta do trampo. Ainda que assegure um atendimento médico rápido, respeitoso e qualificado, num ambiente higienizado, e não em verdadeiras pocilgas, ao se levantar de madrugada com o filho febril.
Ou seja, o que vocês propõem para dar isso aos cidadãos é o que eles querem ver no debate que a TV Anhanguera vai promover já no final da noite desta sexta-feira. Não estão interessados em saber se uma é a “Pisadinha” e se o outro é o “Igeprev”. Deixa eu falar uma coisa para vocês dois: na cabeça no povo, nesse “cabaré” não tem um ser puro sequer. Analiso a política e as eleições há muitos anos e se tem uma coisa de que estou convencido é que, para as pessoas — expostas a tantas denúncias de corrupções, desvios, etc., diariamente –, essa discussão sobre moralidade na vida pública não tem peso na decisão do voto. Não estou normalizando essa situação, e ela me choca. Mas não sou afeito a brigar com os fatos. Pragmaticamente, o povo julga que, do ponto de vista moral, todos se equivalem e o que ele quer é saber quem vai resolver seus problemas objetivos. Que os desencontros morais, os políticos resolvam com a polícia e a Justiça. Essa é a visão clara que as pessoas têm de seus agentes públicos.
Assim, ficar se xingando publicamente para vender uma aura de santidade para si e rotular o outro disso e daquilo não vai virar voto. Como escrevi esta semana, só será uma espécie de injeção de endorfina, dopamina, serotonina e ocitocina para que a militância desvairada prossiga cega e alegremente pelos dois dias seguintes atrás dos eleitores. Afirmei também esses dias, e reafirmo agora, que debate não decide eleição. Mas o que vocês podem fazer para tentar levar o eleitor indeciso a optar por suas candidaturas é justamente oferecer alternativas viáveis e atrativas para aliviar a dura vida cotidiana de nossa pobre gente. Fora isso, é gastar saliva e tempo à toa.
Saudações democráticas,
CT