Caros janadistas e eduardistas,
Amigos simpatizantes de ambos os lados me acionaram logo após o debate da TV Norte/SBT para ouvir minha avaliação. É a de sempre. Há muito tempo que vejo esses confrontos como mera injeção de ânimo nas torcidas organizadas de candidatos. Raramente um debate influi decisivamente num processo eleitoral. Ainda mais como o dessa segunda-feira, em que os ataques se sobrepuseram às propostas. Um eleitor indeciso que assistiu o programa não sabe dizer o cada um tem de solução para a saúde, a educação e o transporte público. Viu apenas agressões desferidas de lado a lado, que colocam em êxtase a militância, mas pouco contribuem para o cidadão descobrir quem está mais preparado para administrar a cidade e resolver os problemas mais urgentes de sua vida.
É muito raro um debate reverter o cenário eleitoral. Sinceramente, não saberia dizer nenhum, nesses meus mais de 32 anos de cobertura política, que produziu um efetivo resultado favorável e assegurou a vitória do candidato. Em 1989, houve uma influência do confronto entre Fernando Collor de Mello e Luiz Inácio Lula da Silva, mas não por conta do debate em si, mas pela edição feita pela Globo para favorecer o fajuto “Caçador de Marajás”. Numa época sem internet, o poderio dos telejornais da emissora era muito maior que hoje e ela repetiu à exaustão a edição favorável a Collor. Seria o equivalente aos cortes de hoje para as redes sociais, que podem produzir mais efeito, mas é um recurso ao alcance de ambas as campanhas.
Importante ainda ressaltar que o debate só teria força para alterar o resultado eleitoral num cenário de empate técnico, com números muito próximos, naquela corrida cabeça a cabeça. Num placar elástico é muito pouco provável que influencie, diria até impossível. Talvez — e olhe lá — se o desempenho de um dos concorrentes for o mais completo desastre. No máximo, com um desempenho fantasticamente superior, um candidato poderia reduzir um pouquinho a diferença.
Para alguém dizer que saiu vencedor do debate três coisas são necessárias: 1) que o adversário fique nas cordas a ponto de não ver saída, não conseguir claramente responder minimamente ao questionamento (esses confrontos são avaliados pelo público mais pela aparência do que pela essência, o conteúdo propriamente dito); 2) ser pego claramente mentindo, e em um tema muito sensível à sociedade; 3) ou falar algo que choque profundamente o eleitor. Nada disso ocorreu nessa segunda-feira com nenhum dos candidatos. Janad Valcari conseguiu disfarçar o constrangimento da acusações que recebia com um sorriso fixo e Eduardo Siqueira Campos não pôde escamotear o desconforto e estava visivelmente contrariado. No entanto, nenhum tropeço crasso como esses elencados foram cometidos por eles.
Assim, o que mais pesa para vitória eleitoral é o cenário da disputa — distribuição de forças e reação do eleitorado a ela –, e as estratégias adotadas no decorrer da campanha. Numa reta final, é importante considerar se a diferença é muito ampla ou apertada. Debate mesmo é alimento para torcida organizada se empolgar e ir em busca de votos. Mais nada que isso.
Saudações democráticas,
CT