Caro governador,
Primeiramente cumprimento-o pelo expressivo resultado que obteve nas urnas no domingo. Indubitavelmente, uma vitória maiúscula. Como escrevi no meu editorial logo após as eleições, a mim não surpreendeu. Primeiro, governador, por sua habilidade política, baixa rejeição e facilidade que tem no trato com os líderes e as demais pessoas. Segundo, não há como negar, o poder da máquina é grande. Claro, o senhor soube operá-la bem.
Mas, governador, o dia seguinte chegou, agora será preciso administrar o estado. A vantagem do senhor neste momento é que pega um Estado mais azeitado do que vocês encontraram em 2018, quando era vice de Mauro Carlesse. O Tocantins estava na UTI e respirava por aparelhos. O Tesouro estadual gastava 58% de sua receita corrente líquida com folha de pessoal, contava-se moedas para pagar os salários, os fornecedores, para receber, tinham até que interromper os serviços ou entrega de produtos, após meses de espera; e não havia um centavo para investimento. Depois de um árduo trabalho de ajuste feito pela gestão Carlesse e continuada pelo senhor, vimos esse índice cair para 39,14% no primeiro quadrimestre deste ano.
Claro que vieram as eleições e esse percentual subiu no segundo quadrimestre para 42,05%. Governador, este mísero aumento representou um custo adicional, segundo calculei, de R$ 587.703.971,40 com folha. Ainda que esteja bastante abaixo do limite de alerta, de 44,1%, sempre gera uma preocupação.
A expectativa é de que agora, com o fim das eleições, haja um enxugamento desses gastos e que o Tocantins seja mantido dentro dos rigores fiscais para que o lamaçal de um passado não tão distante não venha atolar novamente a máquina e, no efeito dominó, toda a nossa economia, ainda tão dependente do poder público.
Como observador há duas décadas dos rumos deste estado e alguém que torce por todas as administrações – afinal, delas todos dependemos, os que acreditamos num Tocantins pujante –, gostaria de pontuar algumas questões que me incomodam. Espero que não leve a mal a intromissão. Só um ou outro palpite que, não agradando, o senhor deve solenemente ignorar.
O que de mais importante precisamos pensar sobre o estado, na minha visão, é justamente como tirar nossa economia e nossa gente dessa dependência perversa do poder público. Tenho insistido faz alguns anos que esse objetivo só será alcançado a partir do momento em que o governante tiver a sabedoria e a humildade de juntar as cabeças pensantes do estado – e elas são muitas e altamente preparadas – para planejar o que queremos para os próximos 20 ou 30 anos.
Temos que acabar, caro governador, com essa mania dos políticos do Tocantins de só olhar para a próxima eleição. E é isso que tem acontecido nos últimos 20 anos, pelo menos. Não se pensa o estado no todo, nem a curto, médio e longo prazos. Como saberemos onde chegar se sequer imaginamos para onde ir? Ataca-se por pontos geradores de votos e não estruturalmente, de forma a nos preparar para o futuro.
Pontualmente, caro amigo – se assim me permite chamá-lo, uma vez que nossa relação vem ainda da época em que o senhor era presidente da Câmara de Palmas e eu colunista de política do Jornal do Tocantins, e lá se vai quase 20 anos –, quero repetir o que eu já escrevi algumas vezes sobre a questão da malha viária do estado, um enorme problema para o escoamento da produção e para a segurança dos tocantinenses. Não dá mais para ficar pensando em recuperação asfáltica só quando os buracos tomam conta da estrada. É um absurdo que não tenhamos um programa permanente de conservação, com recursos obrigatoriamente incluídos anualmente no orçamento do estado. Se existe, desculpe-me, é muito mal feito, porque o problema está aí, e as fotos e vídeos nas redes sociais não me deixam mentir.
Especialistas já me disseram, governador, que essa conservação precisa ser feita a cada cinco anos. Se temos estradas implantadas ou reformadas em períodos diferentes, então, é possível pensar um sistema de rodízio de tal forma que anualmente haverá um grupo de rodovias passando por manutenção. Isso pode reduzir custos, aumentar nossa competitividade e salvar vidas.
É preciso, governador, fazer com que o processamento da nossa produção agropecuária ocorra aqui, no Tocantins. Não é possível que o estado continue a cruzar os braços e se conformar em ser tão somente um corredor de matéria prima. Temos a nosso favor uma boa produção, que está em franca expansão, e nossa posição geográfica, com certeza, nosso maior diferencial competitivo.
Se houver planejamento, profissionalismo e seriedade na implantação de política de atração de plantas agroindustriais, não tenho a menor dúvida de que poderemos tirar sobretudo o interior do Tocantins da dependência da mendicância oficial e transformar nossas pequenas cidades em grandes geradoras de postos de trabalho e renda.
Governador, o nosso potencial turístico é formidável! Um absurdo que não tenhamos uma política audaciosa para atrair brasileiros e estrangeiros para conhecer nossas belezas. Aonde se vai no Tocantins se encontra um atrativo encantador. E esse mercado exige baixo investimento, proporcionalmente, e é um investimento extremamente inclusivo e desenvolvimentista, porque aplicado diretamente na comunidade local, em treinamento, pavimentação de ruas, recuperação de prédios históricos, conservação das atrações e linhas de crédito para restaurantes e pousadas.
Mas, caro amigo, com todo o respeito à classe política deste estado, mas sempre faltou foi vontade de fazer, de levar a sério o turismo. Não me refiro a discursos eleitoreiros, como tem sido feito ao longo das décadas. O turismo, governador, pode, sim, ser o fator que vai mudar em definitivo a vida dos tocantinenses, grande parte deles com renda baixíssima, dependente dos coronéis locais, usados como massa de manobra em eleição, encarecendo, inclusive, o custo da máquina pública, que precisa socorrer nosso povo com o mínimo do mínimo. Com emprego e renda gerados pelo turismo, nossa população terá a sua dignidade resgatada e viverá por suas pernas, sem essa chaga do favor feito por políticos em troca de votos.
Caro governador, concluo esta carta desejando todo o sucesso à sua gestão, acreditando no compromisso que o senhor tem feito publicamente com o equilíbrio das contas. Afinal, nenhuma dessas humildes sugestões nem os projetos que o senhor tem serão possíveis com um estado com despesas fora de controle e sem capacidade de investir.
Vejo-o muito bem acompanhado por um vice-governador como Laurez Moreira, um político sábio e experiente, um gestor muito bem-sucedido, e, dessa forma, capaz de auxiliá-lo na missão que o senhor acabou de receber de quase 60% dos tocantinenses.
Boa sorte, sucesso e viva o Tocantins!
Saudações democráticas,
Cleber