No cotidiano da escola, nos acostumamos a falar e cuidar do bem-estar dos estudantes, eles são e devem ser prioridade. Porém, como cuidar de quem cuida, de quem educa?
A rede estadual de ensino do Tocantins possui, atualmente, 25.788 profissionais da educação, destes, mais de 12 mil professores atuam em sala de aula e no administrativo, que atendem quase 135 mil estudantes, convivendo diariamente nas 502 escolas, dos 139 municípios. Desde a implementação do Programa de Fortalecimento da Educação (PROFE), em 2023, a busca por ferramentas e estratégias de enfrentamento dos desafios estruturais, pedagógicos e emocionais no ambiente escolar das escolas públicas tem sido uma ação permanente e urgente.
Nesta véspera do Dia dos Professores, além de celebrar a data, quero compartilhar mais um grande passo que o Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado da Educação, está dando para cuidar de quem educa. A partir do dia 15 de outubro, começa a vigorar a Política de Bem-estar Profissional, voltada aos profissionais da educação, o ProBem.
O ProBem é mais que uma política institucional, é um convite para o abraço. É reconhecer as dores, poder contar com o outro, celebrar as alegrias, se sentir amparado e pertencente a uma instituição que sabe o valor de cada indivíduo, nessa nossa grande rede coletiva.
Para além da reestruturação de uma nova proposta para o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração (PCCR), que também é um aspecto de impacto na qualidade de vida, o ProBem vem com o intuito de melhorar o clima organizacional na educação. Enfrentar essa realidade é reconhecer um cenário preocupante, com demandas e necessidades para serem superadas.
Os dados da pesquisa realizada pela Gerência de Atenção ao Bem-Estar, ligada à Superintendência de Gestão e Desenvolvimento de Pessoal, alertam para uma realidade que afeta e impacta todos nós. Detectamos que 45% dos 17.635 profissionais da educação que responderam ao Questionário Diagnóstico em 2023 afirmam que sofrem de alguma doença adquirida ou acentuada por meio do exercício da docência. Segundo o levantamento, ansiedade, depressão e pressão alta lideram o ranking de enfermidades, que causaram cerca de 13% de licenças médicas, só em 2024.
Essa pesquisa destaca a necessidade de abordar o tema com seriedade, reconhecendo-o como um fator crucial e prioritário para avançarmos nas ações em favor do bem-estar dos educadores e para a melhoria da qualidade do ensino.
Um cenário que tenho percebido durante as minhas visitas às escolas, em diversos municípios, tem me orientado nas minhas tomadas de decisões. Uma delas, tão desafiadora quanto às demais, é implementar uma política voltada para o bem-estar dos profissionais por meio do acolhimento e da valorização, com foco na qualidade de vida no trabalho.
Sou professor efetivo da rede estadual de ensino e quando assumi a gestão da Secretaria de Estado da Educação, me deparei com um dos maiores desafios da minha vida. Ao longo de quase três anos, pude compreender muitas circunstâncias que a educação tocantinense (sobre)vivia, com altas taxas de rotatividade, faltas, afastamentos, aposentadorias precoces, entre outras questões que geram sérios prejuízos para a educação. O período de 14 anos sem oxigenar o quadro de professores efetivos é surpreendente, imagina para a escola que não contava com a estabilidade de um quadro de professores. Os prejuízos são incalculáveis.
A minha primeira decisão, validada pela gestão do governador Wanderlei Barbosa, foi garantir o direito das progressões e datas-bases, atrasados desde 2014. Em 2021, foram destinados R$ 265 milhões para a liquidação dos passivos e progressões, posteriormente, mais de R$ 64 milhões para a quitação dos direitos dos profissionais da Educação.
Era só o início da gestão, pois promover melhorias na educação é enfrentar diversas realidades estruturais, pedagógicas e orçamentárias, sem perder o foco na qualidade do ensino/aprendizagem. Jamais deixamos de considerar a chama que aquece a escola, os professores e professoras.
Muitas ações já foram realizadas e agora chegou a vez de implementar o ProBem, como o primeiro passo para dar condições e assegurar que os profissionais da educação usufruam de ferramentas, formações e estratégias que proporcionem um ambiente confortável, harmônico e seguro para exercer uma das mais belas e desafiadoras profissões, ser professor ou professora. Como bem diz o mestre Rubem Alves, “sem o educador o sonho da escola não se realiza”.
Se sentir bem e manter a saúde mental, depois de uma pandemia e nessa rotina corrida, é essencial para nós que escolhemos a missão de educar, enfrentando diariamente o desafio de ensinar e transformar vidas, lidando com as complexidades de crianças e adolescentes. Se sentir bem para ser referência, para transmitir conhecimento, cultivar o afeto, celebrar cada conquista dos estudantes, ver o conhecimento ocupando seu espaço, os sonhos tomando forma e saber que fez parte dessa trajetória.
Nada pode ser mais satisfatório para um professor do que ver o conhecimento que transforma. Sim, nossa jornada é árdua, sempre soubemos, porém a coragem e o desejo de transformar indivíduos por meio da educação são ainda maiores.
A todos que acreditam no poder transformador da educação, especialmente aos professores e professoras do Tocantins, sintam-se especialmente abraçados.
Feliz Dia dos Professores!
FÁBIO VAZ
É professor e secretário da Educação do Tocantins
@fabiopereiravaz