O Carnaval no Brasil é um dos maiores e mais lucrativos eventos do país, movimentando anualmente bilhões de reais e impulsionando diversos setores da economia, como turismo, hotelaria, alimentação, transporte, moda, entretenimento e produção cultural. Embora os valores possam variar, estimativas indicam que a festa gera entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões de dólares por ano, o equivalente a aproximadamente R$ 11 bilhões a R$ 15 bilhões, dependendo da cotação do dólar.
Apesar de ser uma celebração genuinamente brasileira e profundamente enraizada na cultura nacional, o Carnaval tem se tornado, em parte, um verdadeiro “negócio da China”. Isso ocorre porque uma parcela significativa das fantasias, adereços e itens decorativos utilizados durante o evento são importados da China, país que domina a produção global de artigos de baixo custo e grande escala. Dados do comércio exterior apontam que entre 70% e 80% desses produtos são de origem chinesa, evidenciando a crescente dependência do mercado brasileiro em relação às importações.
Se, por um lado, essa realidade beneficia os consumidores ao oferecer produtos mais acessíveis, por outro, impacta negativamente a indústria nacional. Pequenas e médias empresas brasileiras que fabricam fantasias e adereços enfrentam dificuldades para competir com os preços baixos dos produtos importados, levando muitas delas ao fechamento ou à redução da mão de obra no setor.
Esse cenário levanta uma reflexão importante sobre a sustentabilidade da indústria cultural do Carnaval. Embora o evento simbolize a identidade brasileira, sua crescente dependência de produtos estrangeiros destaca desafios relacionados ao fortalecimento da economia doméstica e à valorização da produção local. Enquanto os chineses lucram, os produtores nacionais enfrentam dificuldades para manter sua competitividade. Entendo que caberia ao BNDES, banco de desenvolvimento econômico e social, intervir e criar linhas de crédito específicas para o setor industrial voltado à fabricação de fantasias e adereços, dentro da Nova Indústria Brasileira (NIB).
Ainda assim, o Carnaval continua sendo um poderoso motor econômico, responsável pela geração de aproximadamente 1 milhão de empregos sazonais diretos e indiretos. Desde costureiras que confeccionam fantasias até profissionais de segurança, produção de eventos e transporte, o impacto econômico do Carnaval se reflete em diversas camadas da sociedade.
O Carnaval movimenta diversos setores da economia, sendo o turismo e a hospedagem alguns dos mais impactados. A festa atrai milhões de turistas, tanto brasileiros quanto estrangeiros, para centros urbanos onde a concentração de pessoas em busca de diversão é intensa. O setor hoteleiro e de hospedagem, incluindo pousadas e plataformas como o Airbnb, movimenta aproximadamente entre US$ 500 milhões e US$ 600 milhões durante o período.
Bares, restaurantes, food trucks também registram um aumento significativo nas vendas. Estima-se que esse setor movimente entre US$ 300 milhões e US$ 400 milhões.
O setor de transporte também se beneficia consideravelmente, com passagens aéreas, ônibus, táxis, aplicativos de transporte e aluguel de carros em alta demanda. Projeções indicam que o setor movimenta entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões.
O segmento de moda e fantasias, conforme já mencionado, gera aproximadamente US$ 200 milhões, sendo que uma grande parte desses produtos é importada da China.
O entretenimento e a produção cultural são outro grande destaque. Shows, blocos de rua, desfiles de escolas de samba e eventos privados geram receitas significativas, movimentando entre US$ 400 milhões e US$ 500 milhões.
No setor de publicidade e patrocínios, empresas investem pesadamente no apoio a blocos, trios elétricos e escolas de samba, além de campanhas publicitárias. Esse segmento movimenta cerca de US$ 100 milhões a US$ 150 milhões.
Por fim, o comércio informal, representado por vendedores ambulantes que comercializam desde bebidas até adereços carnavalescos, também possui uma parcela significativa na movimentação financeira do evento. Estimativas apontam que esse setor gere entre US$ 100 milhões e US$ 150 milhões durante o período carnavalesco.
Os valores mencionados são estimativas baseadas em relatórios de entidades setoriais, órgãos governamentais, consultorias especializadas e estudos de mercado. Como o Carnaval envolve uma grande parcela de economia informal (como vendedores ambulantes e pequenos produtores), muitos dados não são totalmente capturados em estatísticas oficiais. Além disso, os números podem variar de ano para ano, dependendo de fatores como a situação econômica do país, investimentos em publicidade e até mesmo condições climáticas.
Mais do que uma festa, o Carnaval é um fenômeno econômico e social que movimenta bilhões e impulsiona inúmeras atividades. No entanto, para garantir um desenvolvimento mais equilibrado, é essencial discutir maneiras de fortalecer a produção nacional e reduzir a dependência de insumos importados. Dessa forma, o Brasil pode continuar celebrando sua maior festa popular sem deixar de lado o fortalecimento de sua economia e não apenas fazer festa para gringo sambar e lucrar às nossas custas.
FRANCISCO VIANA CRUZ
É mestre em Desenvolvimento Regional, doutor em Economia e professor do IFTO.