Ao completar mais um ano de vida, do espírito incontáveis anos; socialmente setenta e seis que vim à luz, ou seja, do meu nascimento; e, biologicamente, setenta e seis anos e nove meses quando fui gerado, portanto, daqui a três meses completarei 77 anos.
Grande parte desse tempo e, agora, já vivendo pelas benesses do Criador, pois a vida média do brasileiro está estimada em 75 anos, percebo que os verdadeiros luxos são o tempo, a saúde, a boa companhia, fiéis amigos, mente calma e a liberdade de escolher o que quero fazer, isso fortalecido pela fé que trago comigo desde a infância. E durante todo esse tempo venho buscando o Deus do tudo ou do nada e chego à conclusão que o que mais se aproxima do que penso, sinto e vivo, está no texto denominado “Deus falando com você” que transcrevo abaixo, “ipsis litteris”, de autoria do filósofo Spinoza que viveu no Século XVII:
“Pare de ficar rezando e batendo no peito. O que eu quero que faças é que saias pelo mundo, desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que eu fiz para ti.
Pare de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nas praias. Aí é onde eu vivo e expresso o meu amor por ti. Pare de Me culpar pela tua vida miserável; eu nunca te disse que eras um pecador. Pare de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos de teu filhinho… não me encontrarás em nenhum livro.
Pare de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem me incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. Pare de me pedir perdão. Não há nada a perdoar.
Se Eu te fiz… Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre arbítrio. Como posso te castigar por seres como és, se sou eu quem te fez?
Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos os meus filhos pelo resto da eternidade porque não se comportam bem? Que tipo de Deus pode fazer isso? Esqueça qualquer tipo de mandamento, são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.
Respeite o teu próximo e não faças aos outros o que não queiras para ti.
A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida; que teu estado de alerta seja o teu guia. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Pare de crer em mim… crer é supor, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho de mar.
Pare de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Expresse tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. Pare de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. Não me procures fora! Não me acharás. Procure-me dentro, aí é que estou, dentro de ti.”
Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: – “Acredito no Deus de Spinoza que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe e não no Deus que se interessa em premiar ou castigar os homens”.
Muitos têm no Deus de Spinoza um Deus para honrar de verdade, pois pode se assegurar que científica e filosoficamente ele existe já que somos parte dele, bem diferentemente de outros “deuses” – criados da imaginação e dos terrores ao longo da história da Humanidade – que serviram e vêm servindo a aproveitadores como cruel instrumento de intimidação e coação mental para se manterem no poder e, assim, fruírem de sua importância.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com