Há poucos dias em conversa com um amigo de muitos anos, empresário, já com seus bem sucedidos setenta e poucos anos de idade, perguntei porque após a sua participação ativa, tanto com ideias como com auxílio financeiro, em campanhas políticas, não participava e nunca participou da administração pública, em qualquer nível? Ele, do alto de sua sabedoria, fez uma explanação interessante:- São poucas as exceções, mas na correria e sufoco da campanha, os(as) candidatos(as) se fazem povo, se aproximam do povo, ombreiam e repartem com os correligionários e amigos todos os problemas, dificuldades, dúvidas e esperanças. Tapinhas nas costas, abraços, muitos falsos…
Momento da eleição, votos nas urnas. Apuração, expectativas. Isso, ainda, compartilhado com todos que até ali os(as) acompanharam. Alegria do anúncio da vitória, festas e comemorações. Todos ainda juntos.
Formação das equipes de governo. Das Câmaras Municipais até a presidência da República. Agora em salas reservadas com a participação de poucos remanescentes do início da campanha. Posse. Raríssimas presenças de companheiros e amigos de outrora. Até aquele momento acreditava eu que os(as) nossos(as) candidatos(as) eleitos(as), ainda trouxessem na memória alguns companheiros e amigos. Ledo engano. A partir do momento que receberam o diploma de eleitos, ouviram o Hino Nacional em deferência aos parlamentares eleitos ou a corneta que anunciava a passagem da tropa em revista, que enfileirada prestava continência e reverência aos(às) novos(as) governantes, certamente já vislumbravam em suas mentes que o poder era somente deles(as). Todos lhe deviam subserviência, amigos ou não. Primeiro dia em seus gabinetes de trabalho, certamente, também, em algum lampejo ou restinho de inteligência e humanidade, talvez perpassassem pelas suas memórias alguns amigos que os(as) ajudaram a estarem ali e que sem eles jamais chegaria aonde chegou.
Mas a distância, a frieza dos gabinetes, a subserviência de vassalos os(as) impedia de assim entenderem com mais clareza, apenas contribuindo para a concretização do sentimento de que o verdadeiro valor das suas vitórias se devia única e exclusivamente ao seus potenciais, prestígios e sabedorias. O poder político os(as) dominavam minuto à minuto e à passos largos. Dia após dia, chegavam à conclusão que, realmente, aos seus extremos valores e perspicácias unicamente pessoais, eles(as) deviam o poder que chegara às suas mãos. Portanto, não existiam companheiros, amigos leais, ajuda de quem quer que seja, isso era apenas a antítese do maquiavelismo. O poder se exerce com dor, não com amor. Maquiavel os(as) havia dominado por completo. Não lhes restou ninguém para dizer-lhes a verdade que dói. Acostumaram com o consentimento acanhado dos que nutrem a aproximação pelos cargos que ocupam.” Diante dessas colocações, faço um paralelo com o seguinte aforismo: “As feras verdadeiras vivem nos lugares mais povoados. Ser inacessível é o vício daqueles(as) que não conhecem a si próprios(as) e mudam os humores conforme as honras. Não é irritando os outros logo de início que se alcança a estima. Imagine um desses(as) monstros intratáveis, sempre a ponto de ficar furioso(a) e impertinente! Os pobres criados o(a) abordam como se fosse um tigre, cautelosamente e com receio. Para galgar a posição elevada, agradam a todos e, agora que estão onde querem, desforram-se maltratando a todos. Dada a posição, deveriam entender a todos, mas a aspereza e a soberba fazem que não entendam a ninguém. Um castigo sutil, adequado a eles(as): ignore-os(as) por completo. Aplique sua sabedoria em outros(as).” (Baltasar Gracian – 1601/1658).
A propósito dos trechos acima transcritos, tenho certeza absoluta que políticos dessa estirpe passarão todo mandato buscando um porto seguro e justificativas para os seus erros, esquecendo-se do que disse o grande sábio Confúcio, quando um governante lhe questionou: – Mestre, como posso saber se meu governo está bem? E o mesmo lhe respondeu: “- Basta analisar quantos amigos ainda estão com você!” E aquele empresário seguiu o conselho do grande pensador espanhol e está aplicando sua sabedoria em outros.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com