Entre bilhões de seres neste nosso conturbado planeta, existem os que se destacam nas suas respectivas atividades humanas, quer política, profissional, literária e por aí em diante. De uma forma ou de outra, demonstram claramente a que vieram e porque estão no nosso meio. Mas existem aqueles que superam os que aqui estão apenas por estarem e que irão daqui sem saber a missão que o outro mundo lhes confiou, pois não conseguiram descobrir o seu dom que afinal cada um tem o seu ou os seus.
Mas os diferentes são aqueles que conseguem utilizar a inteligência, um dom concedido apenas aos seres humanos dentre tantos outros vivos, pois a inteligência vem do espírito que impõe a cada um a forma de encarar a missão de viver nesta vida passageira, sendo feliz aquele que a utiliza para exercer com garra, vontade e determinação tudo que faz.
E para ilustrar esse meu pensamento, vem a minha mente uma pessoa que enquanto estava entre nós sabia aliar virtude com prática. Convivi com ele desde minha infância quando despertou minha admiração, embora um pouco mais velho do que eu.
Cometeu alguns equívocos, a exemplo de qualquer ser humano? Isso não cabe a nenhum de nós julgar ou analisar. Passemos ao que de positivo nos legou:
Quase no centro da nossa pequena cidade natal, Dianópolis, então Nordeste de Goiás, hoje Sudeste do Tocantins, naquela época poucas eram as ruas que não faziam parte do setor central, se assim posso dizer e lá existia uma mina de ouro explorada pelos americanos (dos Estados Unidos mesmo!), cuja fundição localizava-se em frente ao nosso colégio, o que nos proporcionava nas horas dos recreios ou finais das aulas, a oportunidade de assistirmos o precioso metal sendo transformado em barras reluzentes que eram levadas do nosso Brasil, repetindo um ritual realizado desde o ano de 1500 pelos nossos colonizadores.
Um determinado adolescente descobrindo que muitos ou quase a totalidade daqueles “gringos” ao chegarem em nossa cidade não pronunciavam nenhuma palavra em português, tratou de aprender o idioma inglês, por conta própria e com isso faturava seus dólares na condição de intérprete daqueles homens esquisitos e cheios de interesses materiais.
Era o início da arrancada daquele menino por essa vida afora que em Belo Horizonte, MG, continuou os estudos e se inseriu no meio literário e depois ocupou alguns cargos públicos de destaque, dentre outros o de diretor no Ministério da Educação em Brasília. Foi redator de páginas literárias no Diário de Minas Gerais, cidade onde publicou o seu primeiro livro, depois inserido para estudos na rede estadual de ensino daquele Estado. Concluiu o curso de Direito, advogou por curto período em nossa cidade, época em que foi aprovado no concurso para Juiz no Estado de Goiás, sendo designado para exercer a magistratura na cidade de Taguatinga, hoje no Estado do Tocantins.
Nomeado desembargador, compôs a primeira turma do Tribunal de Justiça do então recém criado estado do Tocantins, além de ter sido Governador interino por alguns dias. Deixou dezenas de livros publicados em variados gêneros. Só quem conheceu sua trajetória pode fazer uma análise isenta da sua pessoa. Só quem teve o privilégio de sua convivência pôde absorver a alegria e simplicidade que lhe era peculiar. Foi uma pessoa muito interessante. Sua imaginação superava a nossa mesmice. Tudo que fazia era recheado de criações novas. Tinha a capacidade de escrever um livro em quatro dias, quando não dois ao mesmo tempo.
Aos menos avisados ou não observadores, tenham a certeza que no Estado do Tocantins e porque não dizer em Goiás que é o nosso berço natal, viveu essa pessoa que a nossa cultura, que muitos outros rincões gostariam de tê-lo tido como filho. Um ser que colocava sua inteligência à serviço da cultura do nosso povo.
Escrevo este artigo em sua memória e em sã consciência, mesmo porque nossa ligação se prendia não apenas ao sobrenome e a amizade de infância e adolescência e dos acontecimentos das nossas vidas em nossa terra natal e sabendo que as amizades forjadas no desinteresse pessoal e nos tempos difíceis nunca são esquecidas. E mesmo que assim não fosse, como goiano/tocantinense sinto-me na obrigação de alertar meus compatrícios para que não esqueçam o seu nome: José Liberato, (não deve ser por acaso a rima com literato) o Póvoa.
Quem duvida basta procurar por seus livros, artigos e crônicas publicados e verão que nada fica a dever para os grandes escritores, tanto regionalistas como nas demais áreas da literatura, que são tão abrangentes e exigem inteligências superiores.
Um justo tributo antes que ocorra como em outros vários casos, lembremos sempre que a cultura e a inteligência em nossos estados de Goiás e Tocantins, têm e devem passar por essa pessoa.
“Quem tem ouvidos que ouça; quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com