Aprendi desde criança em meu lar, que a gratidão é um dos sentimentos mais nobres que o ser humano pode exercer. E a vida tem me ensinado que é, realmente, assim.
Vejamos desde quando esse tema vem sendo destacado, sem contar os mais antigos: Enquanto viajava da Galileia para Jerusalém, Jesus curou dez leprosos. Apenas um dos que foram curados voltou para agradecer. Esta lição pode ajudar-nos a sentir e expressar gratidão ao Pai Celestial, a Jesus Cristo e a outras pessoas.
É comum ouvirmos falar de ingratidão, que é a antítese da gratidão. Existem “amigos” que depois de longo tempo voltam-se contra quem lhes abriu o coração e o lar.
Basta uma pequena contrariedade, uma questão política, um ponto de vista diferente para determinar a quebra de confiança e de amizade de muitos anos, em especial quando se trata de problemas que envolvam questões financeiras.
Tudo é jogado no esquecimento: os benefícios recebidos, os abraços, as alegrias compartilhadas, as dificuldades vencidas em comum e tantos outros acontecimentos.
Esse tipo de comportamento demonstra como ainda necessitamos crescer para nos considerarmos verdadeiros participantes da humanidade dentro do projeto para o qual fomos criados e aceitamos desde que chegamos e estamos aqui na Terra.
Recordemos de uma antiga lenda Judia que fala de um homem condenado à morte por apedrejamento: “Os carrascos lhe jogaram grandes pedras. O réu suportou o terrível castigo em silêncio. Na sua condição, compreendia que a desgraça havia caído sobre ele e que seus gritos de nada serviriam. Então, passou por ali um homem que havia sido seu amigo. Pegou uma pequena pedra e atirou na direção do condenado.
O pobre condenado, atingido pela diminuta pedra, deu um grito estridente.
O rei, que a tudo assistia, ordenou que um de seus servos perguntasse ao réu porque ele gritara quando atingido por aquela pequena pedra, depois de haver suportado as grandes, sem nenhuma reclamação.
O condenado respondeu: – As pedras grandes foram atiradas por homens que não me conhecem. Por isso me calei. Mas o pequeno seixo foi jogado por um homem que foi meu companheiro e amigo. Lembrei de nossa amizade nos tempos da nossa felicidade. E, agora, vi sua felicidade quando me encontro na desgraça.
O rei compadeceu-se e ordenou que o pusessem em liberdade, dizendo que mais culpado do que ele era aquele que abandonava o amigo no infortúnio e nos momentos mais difíceis.”
A lenda nos dá o sentido do quanto dói a ingratidão de um amigo! Naturalmente, quanto mais estimamos e confiamos em alguém, mais nos atormentará a sua ingratidão e distanciamento.
É importante, pois, examinarmos nossas próprias ações, observando se não somos ingratos, principalmente com os que estão mais próximos de nós e sempre nos estenderam as mãos e, em especial, com aqueles que nos presentearam com a preciosidade da amizade, por longos e longos anos.
Não sejam alguns desentendimentos que nos permitam agredir, de forma cruel, os que ontem nos sustentaram ou pelos menos nos acompanharam nas lutas do dia a dia e nos serviram de apoio nos momentos que mais necessitamos.
Ingratidão. Sentimento que floresce somente nos corações doentios e apegados, ao extremo, a bens materiais e que em conjunto com a doença da alma, chamado inveja, se torna uma moléstia do caráter que requer o remédio da compaixão.
Se alguém lhe retribui com a ingratidão o bem que doou, não se entristeça. É melhor receber a ingratidão do que exercê-la em relação ao próximo.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com