Embora muito útil, infelizmente as redes sociais e seus resumos de mensagens, vêm afastando muitas pessoas da tradicional leitura. Mesmo assim, insisto em trazer neste espaço temas que embora pareçam prolixos, mas que buscam, se não esclarecer, pelo menos atenuar muitas dúvidas e o tema reencarnação é um deles, em especial para muitos que se assentam nos conceitos e preconceitos estabelecidos por seguimentos religiosos e diante disso, esquecem-se ou se acomodam sem pesquisar, estudar e aprofundar sobre o mesmo nos anais da história e de verdades incontestáveis que por mais que queiram fazê-las inverídicas, os fatos assim não demonstram. Então vejamos:
Foi no Concílio Ecumênico de Constantinopla, 553 d.C. que a reencarnação foi retirada do Cristianismo pelo imperador Justiniano e sua esposa Teodora. Essa história da influência de Justiniano e Teodora no citado concílio, de um modo geral, não é abordada pelos historiadores, certamente, para evitarem conflitos com a Igreja, pois isso seria desagradável para ambos.
Na verdade, o que foi condenado nesse concílio não foi bem a reencarnação, mas a doutrina da preexistência do espírito, ou seja, a existência do espírito antes da concepção do corpo no útero materno, o que é contra a Bíblia. “Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te conheci, e antes que saísses do ventre da madre, te consagrei e te constituí profeta das nações” (Jeremias 1: 5). Está provada, pois, pela Bíblia, essa doutrina da preexistência do espírito antes da concepção do corpo. Ora, se o espírito existe antes do corpo ser criado, ele já pode ter vivido encarnado em outro corpo aqui na Terra ou em outro mundo. “Na casa de meu Pai há muitas moradas” (João 14: 2). A casa do Pai é o universo. O próprio homem Jesus deixou também isso bem claro. “Em verdade, em verdade eu vos digo: Antes que Abraão existisse, eu sou” (João 8: 58).
Talvez tenha havido uma distração dos bispos desse concílio ou condenaram erradamente muito conscientemente essa doutrina da preexistência, pois sem ela, não poderia existir a reencarnação
Não foi o Papa Virgílio daquela época que convocou o citado concílio, mas o próprio imperador Justiniano. Aliás, os primeiros concílios da Igreja eram sempre convocados pelos imperadores romanos.
Geração e nascimento (“gênesis” em grego) na Bíblia, não são apenas materiais, consanguíneos, mas também do espírito, pois pode ser nova geração, novo nascimento ou nova reencarnação do espírito. Daí a palavra palingenesia (“palingenesias” em grego). “” em grego significa novo. Logo, “palingenesias” em grego quer dizer nova geração ou novo nascimento do espírito em outro corpo. Esse é o significado literal e verdadeiro de “palingenesias” em grego, palingenesia ou reencarnação em português (Tito 3:5 – Mateus 19:28). As traduções de “palingenesias” nas duas referências mencionadas por “regeneração” estão, pois, erradas e com o objetivo escandaloso de esconder a reencarnação ou nova geração do espírito.
Os mais experientes espiritualistas ensinam que os espíritos tendem para a perfeição e o Grande Arquiteto do Universo, fonte de toda Luz e Energia, faculta-lhes os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova. Se assim não fora, não haveria equidade e não estaria de acordo com a bondade do Criador; se condenasse para sempre os que talvez haja encontrado obstáculos ao seu melhoramento, oriundos do próprio meio onde foram colocados e alheios à vontade que os animava. Se a sorte do homem se fixasse irrevogavelmente depois da morte, não seria uma única a balança em que Deus pesa as ações de todas as criaturas e não haveria imparcialidade no tratamento que a todas dispensa.
A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão assim indica e os Espíritos a ensinam.
O homem, que tem consciência da sua inferioridade, extrai da consoladora esperança na doutrina da reencarnação. Se crê na justiça de Deus, não pode contar que venha a achar-se, para sempre, em pé de igualdade com os que mais fizeram do que ele. Sustém-no, porém, e lhe reanima a coragem, a ideia de que aquela inferioridade não o deserda eternamente do supremo bem e que, mediante novos esforços, dado lhe será conquistá-lo. Quem é que, ao cabo da sua carreira, não deplora haver tão tarde adquirido uma experiência de que já não mais pode tirar proveito? Entretanto, essa experiência tardia não fica perdida, o Espírito a utilizará em nova existência. Caso assim não fosse, todos nasceríamos iguais, teríamos os mesmos desejos e as oportunidades seriam iguais para todos nesta passageira vida terrestre. Diante de tudo isso só me resta crer que a reencarnação é uma questão de justiça universal.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com
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