Existem fatos e pessoas que não podem ser esquecidos nos arquivos da história. O antigo Norte de Goiás, hoje Estado do Tocantins, sempre foi pródigo em homens de valores incontestáveis e incomparáveis, haja vista as dificuldades que à época enfrentavam. Se não bastasse a falta de recursos financeiros, faltavam recursos humanos e até o acesso às cidades era dificultado pela quase inexistência de estradas.
Mas nada disso foi empecilho para algumas pessoas que traziam consigo a vontade de ajudar a nossa esquecida região e marcar seu nome de forma definitiva para todos nós. Sem cometer injustiça com outros verdadeiros desbravadores, tenho o dever e a honra, como filho de Dianópolis, de citar aqui um fato de suma importância e que não é suficientemente conhecido pelas novas gerações: No início da década de cinquenta, mais precisamente no ano de 1953, um jovem de boa estatura, de pele clara, com aspecto de europeu, embora fosse de Patos de Minas, filho do nordestino e querido tio Zeca Piauí, natural de Serra Talhada e de minha tia Amelinha, uma das irmãs Póvoa, pessoas que deixaram em nós gostosas lembranças da infância, principalmente pela amizade que dedicavam a todos que delas se acercavam.
Aquele jovem chegava em nossa terra trazendo consigo a determinação de implantar nas proximidades da cidade uma escola agrícola profissionalizante para abrigar e educar crianças e jovens órfãos e carentes da região. Ali estariam alunos internos do sexo masculino, sendo prioritários os que fossem órfãos de pai e mãe.
Um caminhão chevrolet, depois de mais de trinta dias de viagem originada no Sul do então Estado de Goiás, adentra em nossa pequenina cidade trazendo como carga principal a esperança para muitos conterrâneos e de cidades vizinhas. E assim começava uma nova história para toda região. No princípio um rancho de palha e grandes canteiros de hortaliças. Foi a partir daí que conhecemos verduras e legumes que até então não sabíamos que existiam: rabanetes, beterrabas, belos pés de alface, imensas plantações de tomates, várias qualidades de feijão e muita lavoura de arroz e um imenso pomar. Iniciava-se a implantação do Instituto Profissional São José. Seu idealizador e fundador: Hagahús Araújo e Silva, aquele descrito logo acima, que embora não assinasse Póvoa, é sobrinho do meu inesquecível pai, Pery Costa Póvoa.
Residiu em nossa casa por um bom período, onde por muito tempo tínhamos um cômodo denominado de “o quarto de Hagahús.” Determinado, vinha do Rio de Janeiro, onde adquiriu experiências com obras sociais, disposto a colocá-las em prática em nossa terra.
Por muito tempo dirigiu aquela instituição, contando com o auxílio da fiel companheira Josa e do querido casal, Dr. Wilson Araújo Póvoa e Dª Celeste, que, também, dedicaram trinta anos de suas vidas à vida dos mais necessitados.
Foram profissionalizados sapateiros, pedreiros, carpinteiros, lavradores, mecânicos, motoristas, cozinheiros, entre outras profissões. Além dos que depois seguiram em frente e concluíram até o curso superior. Essas abnegadas pessoas, com o auxílio de muitos outros colaboradores, já cumpriram grande parte da missão que só as pessoas boas têm e sabem fazer sobre a terra nesta vida.
Neste momento e nestas palavras presto uma homenagem especial, fazendo cumprir a justiça e reconhecendo um trabalho que por vezes passou despercebido por muitos. Mas nunca é tarde e, agora, junto-me aos conterrâneos para dizer a esses batalhadores, em especial ao “conterrâneo” Hagahús, um autodidata com curso superior na faculdade das experiências da vida, pós graduado e doutorado em auxiliar os humildes e deserdados da riqueza material, do sincero reconhecimento dos dianopolinos, aqui fazendo voz e vez de muitos que gostariam de dizê-lo pessoalmente, principalmente dos jovens que por aquela escola passaram, todos bem encaminhados na vida, quando até sua chegada sequer vislumbravam um futuro, e hoje, com certeza consideram-se filhos seus e guardam no coração e na alma a certeza de que ele é uma pessoa iluminada e já inseriu sua história nos anais do hoje Estado do Tocantins, que numa justa homenagem, têm a dizer: os homens não ficam na história pelo que avantajam de bens materiais, mas pelas obras realizadas em prol dos que mais necessitam. Que Deus cubra esse homem de luz e paz, juntamente com sua família, amigos e todos da minha querida terra natal.
“Quem tem ouvidos que ouça, quem tem olhos que veja!”
JOSÉ CÂNDIDO PÓVOA
É poeta, escritor e advogado; membro-fundador da Academia de Letras de Dianópolis.
candido.povoa23@gmail.com