A noite de sexta-feira, 27, trouxe muitas discussões nas redes sociais em Palmas, tudo por conta do resultado final do processo de escolha de diretores escolares. Com 82 unidades educacionais participando do modelo misto de seleção, várias escolhas da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) destoaram do que a comunidade escolar votou, gerando debates acalorados e um sentimento de frustração em muitos.
Para quem não conhece, o modelo usado aqui em Palmas é chamado de processo misto. Funciona assim: primeiro, a comunidade escolar – que inclui pais, alunos maiores de 12 anos e servidores – vota nos candidatos inscritos para diretor. Os três mais votados formam o que chamam de “lista tríplice”. Essa lista vai para a prefeita, que é quem decide quem será o diretor da escola ou CMEI.
Menos de 10 mil pessoas participaram das eleições nas 82 unidades educacionais da Capital, entre escolas regulares, CMEIs e escolas de tempo integral, em um universo de 65 mil pessoas aptas a votarem. Não obstante, além da fraquíssima participação popular, a atual gestora tomou algumas decisões que, para muita gente, pareceram ignorar os votos da comunidade.
Alguns exemplos
O que mais chamou atenção foram os casos de maior disparidade. Na Escola de Tempo Integral Caroline Campelo Cruz da Silva, o terceiro colocado, com apenas 33 votos, foi escolhido, enquanto o primeiro havia conquistado 206 votos. Outra situação emblemática foi na Escola Municipal Lúcia Sales Pereira Ramos, onde o terceiro colocado, com apenas 15 votos, foi nomeado, mesmo com o primeiro lugar obtendo 83.
Esses casos ilustram uma prática que, embora legal, parece ignorar a escolha majoritária da comunidade, gerando insatisfação e colocando em dúvida a legitimidade do processo.
Agora, é importante dizer: a prefeita tem o direito legal de fazer essas escolhas. Essa decisão final é prevista no processo. A ideia é que a gestão municipal também avalie outros aspectos, como competência técnica e alinhamento com as políticas educacionais. O problema é que, sem explicações claras, essas escolhas podem parecer arbitrárias – e é isso que deixa a comunidade escolar frustrada.
Quando a população se mobiliza, participa e vota, ela espera que sua voz seja ouvida. Quando isso não acontece, a percepção é de que o processo é apenas uma “fachada democrática”. Esse sentimento pode enfraquecer a confiança das pessoas no modelo, que deveria ser uma forma de aproximar gestão e comunidade.
O que aconteceu nesta edição do processo de escolha de diretores deixa algumas lições. Primeiro, a necessidade de mais transparência. Se a prefeita tem critérios técnicos para as escolhas – como, por exemplo, experiência em gestão ou resultados anteriores –, é importante que isso seja explicado publicamente.
Segundo, o processo precisa ser repensado para que a comunidade escolar se sinta realmente parte dele. Afinal, uma gestão educacional de qualidade é feita de parcerias, e não de distância entre quem decide e quem participa.
Por fim, Palmas tem uma oportunidade de transformar esses debates em melhorias. Que as próximas edições possam valorizar ainda mais a voz da comunidade, sem perder de vista a qualidade da educação que todos desejam para a cidade.
RAMON FLAUBERT MACEDO
É jornalista e professor efetivo do município de Palmas