Para quem está envolvido direta ou indiretamente, seja como político ou nós, jornalistas, as disputas eleitorais começaram muito antes de 2 de outubro, ou mesmo muito antes das convenções, e ainda muito antes também da pré-campanha. Na verdade, a eleição estadual começa após o término da municipal e vice-versa. Por isso, políticos, jornalistas e operadores da política em geral estamos há quase dois anos enfiados no desenrolar do processo que vai definir o próximo governador.
Enfim, o desfecho desta grande guerra que é uma eleição está muito próximo. Faltam apenas 19 dias, e os desafios colocados para cada player disposto no tabuleiro estão muito claros. A campanha do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) se esforça para liquidar a fatura já no dia 2. A oposição se debate para empurrar a definição para 30 de outubro, data do segundo turno.
Ao contrário da análise feita pelo senador Eduardo Gomes (PL) à coluna Em Off, não estou convencido de que teremos um segundo round destas disputas. As diversas pesquisas, as divulgadas e as de consumo interno, mostram um avanço em ritmo cada vez mais acelerado da campanha palaciana. Pode se repetir o que ocorreu no segundo turno da eleição suplementar e também na eleição ordinária de 2018, com o então governador Mauro Carlesse, quando os líderes viram que a vitória dele era inevitável e fizeram uma revoada para o seu palanque, independente das perspectivas de poder para as eleições municipais de 2020. Afinal, eles não querem ficar com candidato que perde.
Se não houver algo muito forte favorável aos oposicionistas nestes 19 dias, o mesmo fenômeno vai mesmo ocorrer como o governador Wanderlei, se é que já não começou. Ou seja, em massa, prefeitos e vereadores que não se definiram vão optar pelo palanque palaciano e muitos dos que já haviam se definido neste processo abandonarão suas escolhas iniciais para ficar bem na foto com aquele que acreditam que vencerá as eleições no 2 de outubro.
Para liquidar a fatura no primeiro turno, a campanha governista só precisa não errar. Voa em céu de brigadeiro e vem somando à sua campanha líderes importantes e estratégicos, como o empresário Edison Tabocão, homem considerado da maior proximidade de Irajá (PSD) e Kátia Abreu (Progressistas), e de tremenda força política, sobretudo na região do Bico do Papagaio.
Como se vê, o desafio da oposição nestes 19 dias restantes é hercúleo, e o grande problema é que quando uma candidatura segue em ritmo tão intenso, em que o crescimento toma a forma de avalanche, fica muito difícil colar qualquer fato negativo a ela.
Muitos oposicionistas, desde a convenção, apostavam numa operação da Polícia Federal totalmente exterminadora de candidatura. Pelo que diziam, seria contundente em tal magnitude que possivelmente Wanderlei não terminaria o processo eleitoral sentado na cadeira palaciana.
Não ocorreu.
O que houve foi a operação desta terça-feira, 13, com uma tradicional e já normalíssima busca e apreensão de documentos, que, a despeito fotos e imagens que possibilita das viaturas à porta da Secretaria da Estadual da Saúde, gera poucos efeitos eleitorais favoráveis aos adversários.
Nesses 30 anos de jornalismo político mais errei do que acertei, porque minhas avaliações do processo eram contaminadas pela emoção. Os erros me ensinaram muito, principalmente a colocar o coração no freezer e racionalizar os fatos. Com isso, nos últimos anos ando acertando bastante. Uma importante correção de rota que fiz nas minhas análises foi relativizar o peso de denúncias e operações policiais numa campanha eleitoral.
Quase todos os eleitos a governador do estado, a prefeito de Palmas e a presidente da República foram alçados ao Poder em meio a uma saraivada de denúncias e operações policiais. O que tudo isso fez foi normalizar a “policialização” da política, o que tirou o peso das denúncias da decisão do voto do eleitor. Trocando em miúdos, na cabeça do votante político “é tudo ladrão”, por isso, denúncias e ser acordado pela PF não são mais considerados para a escolha do candidato, mas, sim, o que o político oferece em troca – propostas de melhoria de qualidade de vida, emprego para familiares, entre outras benesses ou políticas públicas republicanas consideradas essenciais.
Para reverter este resultado fatídico do dia 2 de outubro, a oposição ao governador Wanderlei vai precisar muito mais do que uma busca e apreensão de documentos. Um segundo turno é possível, sem dúvida, considerando o peso eleitoral e a história de cada um dos candidatos oposicionistas. No entanto, só isso também não basta. Precisarão produzir fatos que convençam o eleitor a interromper a crescente transferência de votos para o Palácio e revertê-los para os adversários.
Se a oposição não for bem-sucedida nisso, acredito que as eleições do Tocantins terminarão no dia 2.
CT, Palmas, 13/09/2022.