“A política ama a traição e odeia o traidor.”
Do gigantesco Leonel Brizola
O senador Irajá (PSD) tem toda legitimidade para ser candidato a governador. Mostrou-se um político sagaz quando teve o senso certeiro de oportunidade e conquistou a vaga no Senado em 2018; e é muito organizado, o que o levou a construir um grupo forte de prefeitos nas eleições de 2020 e depois dela. Não é esta a questão, portanto, que está em debate. Não se discute o conteúdo, mas a forma.
Desde quando o senador anunciou sua composição com o pré-candidato a governador do PSC, Osires Damaso, que vem as especulações de que, em algum momento, ele assumiria o lugar do aliado e disputaria a sucessão estadual. Damaso sempre negou prontamente que houvesse um plano B e avisou que manterá seu nome até o fim. Irajá submergiu num silêncio sepulcral sobre o tema. Nunca tentou pôr fim em definitivo a essas especulações com a manifestação firme e conclusiva de que Damaso era seu candidato a governador, de forma maiúscula, inquestionável.
Na semana passada essas especulações se tornaram muito fortes, deixaram as rodas de fuxico e grupos de WhatsApp para ganhar espaço em alguns sites e jornais do Estado. De novo, Damaso negou que pense em desistir, à Coluna do CT falou que essas conversas não tinham fundamento e que eram “desespero de adversário”. Irajá permaneceu mudo.
A expectativa era de que o senador pusesse fim aos comentários na reunião do PSD dessa segunda-feira, 1º, ou que confirmasse que seria mesmo candidato a governador. Se dissesse que não iria disputar, então, esperava-se que Irajá ressaltasse em alto e som que Damaso era o candidato do grupo e que todos trabalhariam duro pela vitória dele. Se anunciasse sua pré-candidatura, aí era Damaso que teria que se manifestar se desistiria da corrida sucessória para apoiar o senador ou outro nome; ou ainda se se manteria no seu projeto sem Irajá.
Os dois cenários fazem parte do processo democrático. Nada obriga Irajá a apoiar Damaso e vice-versa.
Não ocorreu nada disso. O senador não confirmou sua pré-candidatura, mas não disse que Damaso era seu nome na disputa e que, por isso, iria trabalhar pela vitória do aliado. Ao invés de dissipar dúvidas, Irajá jogou mais mistério no ar com a figura futebolística: “Há jogadores na reserva que podem entrar se o time não estiver ganhando o campeonato”, afirmou a seus pré-candidatos do PSD e correligionários.
Tudo isso dificulta Damaso de ver sua pré-candidatura crescer (seria esse o objetivo para depois alegar que, por isso, o senador é quem deveria disputar?). Como os líderes do Estado podem pelo menos considerar um apoio ao pré-candidato do PSC se o principal aliado dele insinua que pode “entrar em campo” e não demonstra a mínima empolgação com projeto a que se diz ter abraçado?
Numa tentativa de transpor essa falta de empatia de Irajá com a sua pré-candidatura e a postura totalmente dúbia do senador na reunião de seu partido, Damaso emitiu uma nota à noite para assegurar que não vai desistir. “Só Deus para me tirar dessa disputa!”, avisou.
A Coluna do CT pediu uma manifestação do senador e a resposta foi uma ratificação de toda sensação de ambiguidade deixada na reunião do PSD à tarde. Nela, Irajá sequer fala da pré-candidatura de Damaso e, nas entrelinhas, se sugere no projeto como possibilidade de disputa. Confira:
“Eu e Damaso estamos no mesmo time e projeto pela transformação do Tocantins.
E unidos venceremos esta eleição ao lado dos tocantinenses. Confio no Damaso, na sua competência e capacidade de gestão!
Irajá
Senador”
Ok, mas quem é o candidato? A nota não diz. Era o momento de o senador, se assim o desejasse, colocar fim a toda especulação: ou assumindo sua pré-candidatura — reforço, o que é totalmente legítimo —, ou colocando toda sua aposta numa vitória de Damaso, como é comum dos aliados.
Veja o que o senador Eduardo Gomes (PL) tem feito por seu pré-candidato Ronaldo Dimas (PL). Mesmo que as pessoas digam que Dimas não vai conseguir agregar prefeitos e vereadores de todo o Estado em sua campanha, Gomes o defende e garante a quem quiser ouvir que seu pré-candidato vai vencer.
Também o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em relação a seu pré-candidato a governador Paulo Mourão (PT). Lula sempre que ouvido assegura que Mourão estará no segundo turno e vai ganhar as eleições.
Não sei se Gomes e Lula acreditam mesmo nisso. Mas, como aliados, incorporados num projeto, cumprem o que é sua obrigação: defender de corpo e alma seu pré-candidato.
Não é o que Irajá faz. E passa uma mensagem à sociedade de extrema fragilidade daquele que parece — nessa altura tenho sérias dúvidas disso — ser seu pré-candidato na disputa. Em todas essas semanas em que a relação do senador e de Damaso vem sendo posta em xeque, não houve uma sequer manifestação definitiva de Irajá de que seu suposto aliado é realmente seu nome para a disputa e que vai trabalhar para elegê-lo. Nada. Nenhuma única linha a respeito. E isso alimenta de forma crescente as especulações, que nos últimos dias chegaram como avalanche, “fritando” Damaso em fogo baixo perante líderes e à opinião pública.
Alguém me disse no domingo, 31, que é uma jogada bem ensaiada dos dois. Como poderia se Damaso, neste teatro, está se chamuscando totalmente? Não acredito nisso.
A questão que está colocada neste momento é se Damaso vai mendigar por esse apoio dúbio e questionável de Irajá ou se vai fazer o que se espera de um líder da envergadura dele, que tem luz própria, e seguir seu caminho e ser candidato, apesar de todo esse jogo de máscaras em que está envolvido.
Afinal, com um aliado como Irajá, Damaso não precisa de adversário. Já basta esse para derrotar seu projeto.
CT, Palmas, 2 de agosto de 2022.