Diante da pressão que tenho assistido contra o Palácio Araguaia, me vem a pergunta: por que o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) deveria apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) neste segundo turno? Só porque todo o poderio econômico do Tocantins está do lado do atual presidente? Se é isso, vem outra questão: por que o governador deveria acompanhar a vontade dos ricos tocantinenses e ignorar à da maioria do povo do estado?
Sim, é preciso lembrar que o ex-presidente Lula venceu no dia 2 no Tocantins, inclusive, com uma diferença proporcional de votos superior à nacional. Mais que isso: se dependesse só dos votos dos tocantinenses, Lula já estaria eleito em primeiro turno, afinal, recebeu do estado 50,4% dos votos contra 44% para Bolsonaro. No resultado geral do país, o ex-presidente teve 48,4% contra 43,2% para o atual dirigente do Brasil.
Assim, se a definição de apoio de Wanderlei levasse em consideração somente a vontade da maioria, o governador iria às ruas neste segundo turno pedir voto para Lula e não para Bolsonaro. Então, não dá para entender, do ponto de vista democrático e republicano, essa pressão, até agressiva, que está sendo feita contra o Palácio, pelo poderio econômico do estado, para que Wanderlei entre na campanha do atual presidente. Reforço: sem qualquer respaldo das urnas.
Chegou até a coluna no final de semana que esses ricos e poderosos querem, inclusive, o governador como coordenador-geral da campanha de Bolsonaro no Tocantins. Mas não vejo essa movimentação como uma forma de reverência à figura do chefe do Executivo estadual. Na verdade, com Wanderlei no comando da campanha de Bolsonaro, os ricos do Tocantins querem é elevá-lo como um troféu sobre suas cabeças para mostrar quem manda aqui.
Ou seja, o governador, na campanha de Bolsonaro, como coordenador-geral, simbolizaria o império da vontade daqueles que detêm o poder econômico. Este símbolo visar mandar a mensagem a todo o estado de que ninguém deve ousar se insurgir contra quem tem a força do dinheiro.
Wanderlei, então, não seria o grande líder pedindo votos para Bolsonaro, mas escravo da vontade de poucos e levado “no beiço” para a campanha, repito, contrariando a decisão da maioria dos tocantinenses, que, como provam as urnas, quer Lula presidente e não Bolsonaro. Isso não é opinião, é um fato mensurável a partir do resultado da eleição do primeiro turno no estado. Está lá no site oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Quem tiver dúvida, que acesse e confira.
Agora, defendo que Wanderlei declare seu apoio a Lula? Não! O governador, pelo histórico resultado obtido numa eleição para o cargo, saiu das urnas como maior líder do Tocantins. Mais de 58% da população o reelegeu para quatro anos de mandato. É uma vitória maiúscula e inquestionável. Assim, a dimensão de Wanderlei neste segundo turno se tornou ainda maior, para além até da importância natural do posto que ele ocupa.
Se Lula foi o vencedor da eleição presidencial no Tocantins no primeiro turno, de outro lado, é verdade também que o estado saiu muito dividido, como todo o país. Olhando por esse prisma, o papel do governador neste momento não é de ser cabo eleitoral deste ou daquele candidato, mas, pela envergadura que conquistou com a vitória acachapante do dia 2, é muito superior a isso. Como alguém responsável por reconduzir o estado aos trilhos do desenvolvimento, a primeira missão dele é evitar que esse racha na sociedade prossiga após o segundo turno.
O papel inicial que Wanderlei deve assumir para si nesta hora de grande turbulência é o de conciliador, para mostrar aos dois lados beligerantes que o futuro do Tocantins exige a unificação do nosso povo, que todos estejamos focados no mesmo objetivo, que é a recuperação definitiva do nosso estado, o fortalecimento das nossas instituições, da nossa economia e o resgate da cidadania e da dignidade de centenas de milhares de irmãos tocantinenses que são vítimas de injustiças sociais e desigualdades abismais e históricas.
Não cabe ao governador este papel minúsculo, diante da confiança que lhe foi depositada, de sair em defesa de um candidato só para atender os caprichos de ricos e poderosos do Tocantins, ou mesmo da parte que optou por outro nome. Wanderlei deve honrar a imensa votação no estado se mostrando um governante à altura de nossa grandeza: altivo, de elevado espírito público e de uma compreensão clara de que sua missão é muito maior do que ser um reles cabo eleitoral.
Por isso, o maior líder do Tocantins neste momento deve se preocupar com o planejamento do seu segundo mandato e de já estabelecer excelentes relações com próximo condutor do governo federal, seja ele quem for.
Afinal, como já disse num outro editorial, seja Lula ou seja Bolsonaro, qualquer que for o eleito no dia 30, a despeito das nossas divergências ou convergências, democrática e republicanamente, deverá ser recebido por toda a sociedade como o presidente da República de todos os brasileiros.
É dessa forma grande, com visão de estadista, que o governador precisa avaliar este momento, sem ceder à vontade de qualquer grupo de pressão, seja ele qual for.
CT, Palmas, 10 de outubro de 2022.