As campanhas eleitorais no Brasil começam legalmente nesta terça-feira, 16, apesar de os candidatos estarem na estrada já há alguns meses. Não defendo o abuso do poder econômico, que, na prática, ocorre mesmo antes do período permitido pela legislação. Mas 45 dias de debates sobre as necessidades do país e do estado não são suficientes para o pleno conhecimento dos candidatos e de suas propostas. Porém, o Brasil tem vocação para o farisaísmo. Gostamos muito de parecer rigorosos nas leis e no cumprimento delas, ao mesmo tempo em que fingimos não ver que a vida ocorre a despeito do que diz a legislação.
Para não dizer da frieza que impuseram às campanhas eleitorais brasileiras. Lá atrás a desculpa para proibir showmícios, camisetas, bonés, chaveiros, etc., era tornar as eleições mais baratas e, consequentemente, dar condições de competitividade aos candidatos com menos recursos para a disputa. Tudo balela. Nunca os processos eleitorais foram tão caros, mesmo na época dos gigantescos showmícios. Apenas as tornaram insossas, afastaram as pessoas ainda mais do debate político e garantiram que aqueles que podem cooptar mais líderes vençam com mais facilidade.
Tenho muitas saudades dos bons tempos de showmício, de ver as pessoas, aos milhares, chegando alegres para acompanhar os discursos e, claro, com a expectativa de ouvir e dançar uma boa música. Elas acabavam se envolvendo muito mais com as campanhas, que tinham muito engajamento popular.
O falso moralismo destes tempos acabou com tudo isso e ainda não resolveu o eterno problema das eleições, essa desigualdade com que os candidatos entram para competir. Quem tem mandato conta com financiamento público de campanha nos quatro anos em que está no governo ou no parlamento. Afinal, é com o dinheiro do contribuinte que viaja por todo o estado e envia recursos para os municípios, via emendas ao orçamento, com as quais amarram os prefeitos em seus palanques.
Quem é rico banca fartamente sua movimentação eleitoral, toda a estrutura de campanha e a cooptação de líderes. Aqueles candidatos, que são a maioria, sem recursos para a disputa vivem da bondade dos caciques partidários, que liberam recursos públicos, diga-se, de acordo com a sua conveniência. O papel nas eleições atuais dos candidatos sem mandato e sem riqueza é tão somente servir de escadinha para os ricos e poderosos.
De toda a forma, é o que temos aí. As campanhas de 2022, enfim, estão nas ruas e a falta dos atrativos do passado continuará a dificultar o engajamento da população no processo eleitoral, o que aprofunda ainda mais a descrença do cidadão na política. Isso é muito bom para aqueles que veem na representação popular um grande e lucrativo negócio.
Sinto muita saudade das eleições dos velhos tempos, de muita alegria, de muita festa e de quando as pessoas efetivamente participavam da campanha eleitoral. Hoje assistem um movimento anódino, que não veem a hora de terminar.
É nisso que os fariseus dos tempos modernos transformaram as eleições. Uma grande pena.
CT, Palmas, 16/08/2022.