Dois fatos decorrentes do segundo turno não vão ser mudados, e podem espernear o tanto que quiserem: Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o presidente eleito do Brasil e tomará posse em 1º de janeiro de 2023 para um mandato de quatro anos. As cenas tragicômicas que estamos assistindo desde a vitória de Lula no dia 30 são uma prova cabal da tendência autoritária da elite brasileira, que não se conforma até agora com a derrota.
É parada militar à la “Trapalhões”, choradeira e orações nos “Muros das Lamentações” que se tornaram as entradas de quartéis do Exército por todo o País, gente tentando parar caminhão em bloqueio e sendo levado pendurado no para-brisa. Enfim, um show de horrores que revela a mais completa mentalidade medieval de parte dos brasileiros.
A era Bolsonaro fez ataques sistemáticos às instituições, mas elas resistiram bravamente, e, depois de tudo que passaram, não vão ceder neste gran finale, quando poderão comemorar a mais completa vitória sobre as maiores e mais perversas agressões contra a democracia desde seu reinício, em 1985. Passamos por provas duras antes, como o impeachment de Fernando Collor, em 1992, pouco depois da primeira eleição presidencial; e de Dilma Rousseff em 2016, mas nem de longe representaram qualquer risco ao Estado Democrático de Direito.
Bolsonaro, sim, atacou sem parar as bases da democracia, nossas instituições, sobretudo Judiciário e imprensa, que foram os principais bastiões de resistência ao neofascismo de extrema direita implantado no Brasil em 2019. Sobrevivemos e vencemos, e essa intensa batalha nos aperfeiçoou, ainda que as cicatrizes perdurem, contudo, sempre que as olharmos nos sentiremos mais fortes.
O próprio presidente derrotado já deu sinais de que acabou. Nomeou a equipe de transição do presidente eleito Lula sem esperneio e negociou seu “dia seguinte” com o partido, o PL. Garantiu para 2023 um bom salário, mansão em Brasília e os custos de seus processos por conta da sigla. Mantém-se em silêncio porque quer continuar negociando imunidade com o novo governo e com o Judiciário. Está morrendo de medo do que vai ocorrer a ele quando terminar o poder da caneta. (O que levou os filhos Eduardo e Flávio a pedirem cidadania à embaixada italiana?)
Só os cidadãos de classes média e alta inconformados que continuam nas ruas e ainda não acordaram para a realidade. Mas assim funciona a democracia e é sua beleza: um grupo que perde, se reestrutura e volta a disputar o poder quatro anos depois.
Não haverá nenhuma intervenção das Forças Armadas, que têm consciência de seu papel constitucional e são defensoras da democracia, ainda que alguns agentes delas, cooptados por polpudos salários na máquina federal, usem o nome da instituição para tentar intimidar a sociedade. Não metem medo em ninguém. Podem fabricar o relatório que quiserem contra as eleições. Repito o que afirmei no início: Luiz Inácio Lula da Silva é o presidente eleito do Brasil e tomará posse em 1º de janeiro de 2023. Isso é irreversível.
Há trabalho a fazer, boletos a pagar, vida para tocar e sonhos a realizar. Voltem para suas casas, se reconciliem com seus filhos, amigos, irmãos e pais – é um absurdo o que o bolsonarismo, que diz defender as famílias, fez com elas. Não se deixem ser usados de massa de manobra por quem quer apenas negociar imunidade para os crimes que cometeu.
O Brasil acima de tudo são famílias unidas, as pessoas trabalhando pelo desenvolvimento do país e paz reinando na sociedade.
Afinal, foi para isso que o amor venceu o ódio.
CT, Palmas, 9 de novembro de 2022.