É bastante reveladora a afirmação do vereador Marilon Barbosa (UB) em plena tribuna da Câmara de Palmas de que seu irmão e governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) não está com “esse amor todo” pela prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB) e que as críticas que o parlamentar faz à gestão municipal é com anuência de seu brother. Indica, do ponto de vista eleitoral, que o Palácio deve sondar muito esmiuçadamente o cenário antes de se decidir por um projeto para a sucessão municipal em 2024 na Capital, onde, aliás, não vence desde 2000, quando o então governador Siqueira Campos elegeu a ex-prefeita Nilmar Ruiz (PL). Depois disso, o governo do Estado perdeu todas as disputas seguintes em Palmas.
Para quebrar esse jejum que fará 24 anos, o governador Wanderlei terá duas opções: ou constrói uma candidatura de muita competitividade do nada (ou quase nada), ou se alia a um player já bem colocado no tabuleiro da pré-campanha. Se optar por um projeto próprio, uma boa possibilidade seria mesmo se unir à prefeita Cinthia e, assim, Paço e Palácio bancarem um nome à sucessão.
Dois problemas aí: a vitória poderia embaçar a presença do governador no palanque, já que estaria dividido com Cinthia. Como a disputa é municipal e Wanderlei deve ser convocado para entrar em campo por todo o Estado, a prefeita seria a figura mais presente na Capital e a que mais ficaria com os louros dessa conquista.
Além disso, quem seria um nome para bater de frente com pré-candidatos naturais e já liderando a preferência da opinião pública? Alguns têm se insinuado, caso do presidente da Câmara, José do Lago Folha Filho (PSDB), e agora até o secretário da Governadoria, ex-prefeito de Pedro Afonso e ex-presidente da ATM, Jairo Mariano (PDT), chega a ser especulado. O deputado Valdemar Júnior (Republicanos) estaria entre Palmas e Porto Nacional, onde tem boa presença para eleições proporcionais.
São quadros de serviços prestados e com penetração junto ao eleitorado palmense, mas longe de se vislumbrar neles, neste momento, a competitividade para fazer frente aos principais pré-candidatos. Claro, podem surpreender. Agora a história tem mostrado que os eleitores não misturam Estado e município. Apoio de governador, se bem avaliado, pode ajudar, mas os debates de temas locais e o perfil pessoal têm sido preponderantes na decisão do voto. Assim, se essas pré-candidaturas ainda desconhecidas decolam ou não, isso só será visto após serem aprovadas no teste do tempo, com muitas ações positivas e com os ataques naturais que virão de seus adversários.
O mais vantajoso para o Palácio seria colar num pré-candidato que já conta com a força da opinião pública. Estão relativamente blindados dos ataques que já recebem, o apoio do governador, que vive um bom momento de popularidade, pode dar mais impulso, e serão sempre gratos a Wanderlei pelo resultado.
Três nomes se destacam na fotografia de hoje na corrida pela Prefeitura de Palmas: o ex-prefeito Carlos Amastha (PSB) e os deputados estaduais Júnior Geo (PSC) e Janad Valcari (PL). O Palácio tem deixado claro que o primeiro não tem chances. Amastha contou com o apoio do então deputado estadual Wanderlei Barbosa em sua primeira eleição em 2012, mas os dois se desentenderam logo em seguida. No ano passado, o ex-prefeito, candidato ao Senado, apoiou a candidatura a governador de Ronaldo Dimas (PL). Mas é rejeitado não por isso, propriamente, dizem os aliados palacianos, mas alegam que não há mais entrosamento político entre Amastha e Wanderlei.
Os dois deputados fizeram acenos de boa relação com Wanderlei em suas posses em 1º de fevereiro. Geo, que era a única oposição ao ex-governador Mauro Carlesse (Agir), já avisou que não irá se oporá à atual gestão, e elogiou Wanderlei e sua família. Ao programa CT Entrevista ressaltou a amizade com o deputado Léo Barbosa (Republicanos), filho do governador. Ou seja, ainda que o foco de Geo tenha sido sua relação parlamentar com o Executivo, indica que não haveria empecilho caso o governador quisesse construir com ele um projeto para 2024.
Com a deputada estadual Janad Valcari não foi diferente. Em sua posse também se colocou como fiel aliada do governador e na sua postura no processo da eleição da mesa diretora, em que havia uma preocupação com ela por parte do Palácio, se mostrou totalmente integrada à base.
No discurso que também fez na posse dos deputados, Wanderlei respondeu com elogios a Janad e Geo. A diferença que o governo teria que lidar com os dois é que a deputada é parte da base e, nesse sentido, tende a manter uma relação mais afinada com todos os projetos do Palácio. Geo, com uma postura de independência, seguirá caminho próprio, alinhando-se ao governo apenas naquilo que entender coincidir com seus projetos.
A questão agora passa pela forma como os dois deputados e pré-candidatos construirão suas pré-candidaturas rumo a 2024 e também como o governo poderá receber essa possibilidade de se unir a um dos dois. Mas que se aliar a nome já bem consolidado no cenário seria muito mais vantajoso para Wanderlei, quanto a isso, não resta dúvida.
CT, Palmas, 3 de março de 2023.