Neste meu recesso ocorreu algo inédito: não abri meu computador uma só vez. Tanto que na minha volta, nesta quinta-feira, 4, tive que carregar o teclado sem fio e o magic trackpad porque, sem energia, sequer estava conseguindo acessar minha tela de trabalho. Significa que, realmente, eu me desliguei nesses 12 dias de descanso. Propositalmente não assisti nenhum noticiário pelo YouTube ou TV e não acessei sites, ainda que uma notícia ou outra chegasse a mim pelas redes sociais, das quais não temos como fugir. Mas procurei ignorá-las, mesmo que algumas delas me incomodem muito, caso do assassinato em massa de palestinos na vingança cruel executada por Israel e agora uma CPI na Câmara de São Paulo que tem como alvo o padre Júlio Lancellotti, que faz gigantesco trabalho humanitário com a população de rua e é um verdadeiro cristão, não um mercador do templo como estamos acostumados a ver por aí.
Essa CPI faz parte dos sinais do tempo de obscurantismo e desumanidade que vivemos, e coloca em xeque a seriedade do Legislativo paulistano. Ao padre Júlio, toda a minha solidariedade, admiração e respeito. Sou muito pessimista quanto à humanidade, aos rumos da democracia e República brasileiras, contaminadas pela marcha da insanidade da extrema direita obscurantista. Cada vez mais minha fé diminui, não acredito nas religiões, que vejo como criações humanas (com todas as suas imperfeições), não divinas. O que tenta acender alguma fagulha com embaciados traços de esperança em mim são justamente seres humanos especiais como padre Júlio. Vê-lo sendo atacado por fazer o bem ao próximo, sem nada em troca, só pelo amor fraterno, me confirma que perdemos realmente o rumo e caminhamos a passos largos para um abismo.
Do mais, nadei, corri e comi e bebi muito, cercado de amigos, família — inclusive minha tia e madrinha Darci Toledo Teodoro, que veio de Araçatuba (SP) para passar o final de ano em casa. Ou seja, um ano que terminou perfeito, como foi ao longo dos meses. Pessoalmente, não tenho nada a pedir. Só agradecer.
Contudo, não sei viver longe do trabalho, e os primeiros sinais da saudade de meu templo sagrado, a Redação, vêm quando durmo. Só sonho correndo atrás de notícias. Brinco sempre que tenho um expediente de dia e outro à noite. Levanto-me de madrugada, vou ao banheiro, volto a dormir e retomo minhas criações oníricas, muitas vezes do ponto de onde foram interrompidas pela premência da bexiga.
Assim, é hora de recomeçar, e estou muito feliz por estar de volta num ano que será de muita agitação política. Queremos ficar de olho nas movimentações eleitorais das maiores cidades, mas sem perder de vista as menores. Sou apaixonado — como jornalista e escritor — por essas disputas acirradas que ocorrem nos pequenos municípios. São matérias-primas para meu jornalismo e minha literatura, e me levaram à política.
Minha primeira campanha foi como cabo eleitoral no interior de São Paulo, nas eleições municipais de 1982. Meu pai, seu Heitor, arrumou para a gente fazer boca de urna (na época era legal) para um amigo do trabalho, candidato a vereador. Com apenas 12 anos, arrumei minha primeira confusão política. Quase apanhei do candidato a prefeito adversário e, como não poderia deixar de ser, ainda tomei um calote e fiquei sem receber pelo dia de serviço.
Mas ali começou minha paixão pela política e desde então me envolvi como cabo eleitoral, mesário e, principalmente, jornalista em todas as eleições nesses 42 anos que se seguiram. Em 2024 não será diferente. Participarei no papel que mais gosto: registrador da história, o que, no fundo, nós jornalistas somos. Escrituramos a história em tempo real, enquanto ela é realizada por homens e mulheres que formam nossa sociedade.
Espero que todos vocês acompanhem mais esse importante capítulo da epopeia brasileira e tocantinense pela Coluna do CT como quem vê os intragáveis realities shows, sem perder uma cena sequer. Mas, ao contrário das futilidades e baixarias da vida que a TV nos mostra, o das eleições é fundamental porque define nossa vida para melhor ou para pior. Nosso papel é mostrar os fatos e analisá-los para que todos possam formar sua opinião e decidir como usar, da melhor maneira possível, a principal arma do cidadão: o voto.
Queremos que nossa cobertura jornalística cumpra essa missão.
Feliz ano novo a todos e todas!
CT, Palmas, 4 de janeiro de 2024.