Se tem algo que me irrita em todo o processo eleitoral do Tocantins é quando a disputa descamba para atacar o próprio estado, confundindo-o, deliberadamente, com o inquilino do Palácio, que, em verdade, com ou sem cassação, renúncia e afastamento, é sempre “tampão”. Afinal, mesmo que governe por quatro ou oito anos, sua passagem é transitória e logo teremos um novo governador. Já o Tocantins é maior que o ocupante do seu cargo mais importante. Quem diz ter grandeza para liderar precisa, antes de mais nada, absorver esse pressuposto.
Primeiro reforço que acho que não só um direito, mas também um dever da oposição ingressar com ações quando constata qualquer possibilidade de abuso de quem está comandando o governo e disputa a reeleição. Não é só uma questão de lisura do processo eleitoral, mas também de zelo pela coisa pública, que é de interesse de todo o povo tocantinense.
Isso é uma coisa. Outra totalmente diferente é utilizar possíveis abusos eleitorais para disparar contra a imagem do Estado. Ou seja, o interesse não é denunciar a quem pode agir, isto é, à Justiça Eleitoral, a suposta falta de paridade de armas ou mesmo os prejuízos financeiros do estado. No fundo, o que se quer mesmo é tão somente captar votos, ou, na impossibilidade disso, cavar “um terceiro turno” mais à frente, ainda que seja necessário comprometer mais a credibilidade já combalida do estado nacionalmente.
Isso ocorre quando começa a “plantação” de notícias em veículos nacionais, muitas vezes pagando-se a publicação – o que é mais do que comum, mas rotineiro. Ora, estamos diante de um fato que ainda será alvo de muita investigação, o que exigirá ouvir testemunhas, coletar documentos, fazer perícias, até que se tenha uma conclusão de que se realmente houve ou não abuso por parte do candidato palaciano. Em resumo, o que se tem até agora é mera denúncia, e que precisa mesmo ser feita e apurada.
O uso eleitoral sem qualquer preocupação com a imagem do estado mostra, na verdade, o mesmo descomprometimento com Tocantins que se denuncia contra o inquilino do Palácio. Qual a diferença desses dois lados, se realmente há abuso da máquina? Para mim, nenhuma. Se um pode estar usando de todos os recursos públicos de que dispõe para se eleger, o outro aposta numa imagem negativa que o Tocantins já tem por conta do mau comportamento dos seus agentes políticos para se favorecer. Isto é, o que se faz quando procura-se ampliar desmedidamente esse tipo de denúncia – e não passa disso por enquanto, denúncia – é lançar todas as fichas na produção de mais instabilidade política, jurídica e econômica do estado para se dar bem eleitoralmente. E só.
Parte-se daquela filosofia política de que, em eleição, a única coisa que não se pode fazer é perder. Dane-se o estado, o que importa é ganhar votos. Lamento, mas é como vejo esta onda de denuncismo que marca esta reta final de eleição, como, aliás, nossos políticos fazem em todo processo eleitoral quando se veem derrotados. Isso é, acima de tudo, jogar contra o Tocantins.
Sempre tenho dito que é a maior carência do Brasil de hoje, e, óbvio, que também do estado, é de líderes de grandeza para conduzir o seu destino. Esse tipo de postura descomprometida de atacar o próprio Tocantins, numa atitude desesperada de quem antevê uma derrota no domingo, 2, só confirma esse meu pensamento de falta de lideranças à altura do nosso povo.
Não é contra as denúncias, que precisam mesmo ser feitas na instância apropriada, de forma séria e não eleitoreira. Como já registrei em outras oportunidades, se alguém cometeu abusos que seja rigorosamente punido, independente de partido ou corrente política.
Mas não é justo se aproveitar de uma fragilidade de imagem que o Tocantins já tem diante do país para tentar virar a eleição.
Quem faz isso, não tenho a menor dúvida, não tem compromisso com o estado, apenas consigo mesmo e seus interesses menores.
CT, Palmas, 29/09/2022.