Enfim, depois de meses de especulações, toda a dúvida foi dissipada e os candidatos a governador estão postos. Excelentes nomes, uma baixa importante, da pré-candidatura do deputado federal Osires Damaso (PSC), que seria também uma opção de qualidade, mas, infelizmente, a traição faz parte da política. Um dos motivos pelos quais sempre digo que não avalio a política pela lente da moralidade. Ela é amoral.
O resumo da leitura do que vi na quinta, 4, e na sexta-feira, 5, é que a candidatura à reeleição do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) se mostrou com muita musculatura e a oposição começa a campanha fragmentada e raquítica. Quer dizer que as eleições estão decididas? Não, porque não existe vitória antes da votação. Quer dizer que o Palácio entra com enorme vantagem competitiva e a oposição com o desafio hercúleo de retirar forças da candidatura governista e se fortalecer no processo.
Quando falo em musculatura não é a público presente em convenção que me refiro. Afinal, governo é governo, uma ordem e comissionados e contratados são obrigados a comparecer. Ônibus e mais ônibus são alugados e lotados de militantes.
O que importa é força política demonstrada. A convenção de Wanderlei colocou no Centro de Convenções Arnauld Rodrigues 91 prefeitos, mais de mil vereadores e grande parte dos deputados estaduais. Isso é o que dimensiona a potência de uma candidatura.
Duas candidaturas da oposição ainda pecam por terem se deixado contaminar pela polarização tóxica nacional. Paulo Mourão (PT) exibe com orgulho o rótulo do lulopetismo e Ronaldo Dimas (PL), sobretudo nas últimas semanas, se colocou no campo do bolsonarismo, com legitimidade total, por ter em seu palanque da convenção, além do líder do governo Jair Bolsonaro (PL) no Congresso, o senador tocantinense Eduardo Gomes (PL), o filho 01, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Como a coluna já defendeu, e insisto nessa leitura, a rotulação com essa polarização nacional tóxica reduz o teto de aceitação, e isso pode atrapalhar, e muito, as candidaturas de Mourão e Dimas. Com a figura de Lula colada ao candidato do PT no Tocantins, duvido muito que um bolsonarista radical ou mero simpatizante do presidente vai votar no ex-deputado. Como não acredito que um petista, simpatizante ou quem tem horror à figura excêntrica de Bolsonaro dará o seu voto a Dimas.
Alguém pode dizer que o partido de Wanderlei, o Republicanos, também é da base de Bolsonaro. Porém, uma coisa é você ser do partido do presidente amalucado, outra é colocar a figura esdrúxula em seu palanque, peças de campanha, etc.
Claro que há quem diga que essa polarização tóxica contribuirá com as candidaturas estaduais, uma vez que o eleitorado vai se dividir entre um populista e outro. Ouso discordar. Não houve uma só eleição em que essa contaminação ocorreu, inclusive a já radicalizada de 2018. Lembrando que o então governador Mauro Carlesse (Agir) sequer citou o nome de Bolsonaro e nem no segundo turno foi para a campanha do presidente. A transferência é mínima e os prejuízos — pelo rebaixamento do teto de aceitação — são muito maiores do que os benefícios.
Numa campanha regional, o que vai contar são os interesses locais da população, o contexto político próprio em que a eleição ocorre. Todas as disputas anteriores mostram que o eleitorado separa muito bem a eleição estadual da nacional.
Ao se rotular, as campanhas de Dimas e Mourão só aumentam o seu desafio que já é muito grande: tirar musculatura do governo para que possa evitar a vitória do Palácio no primeiro turno. Fragmentada como está, os oposicionistas só terão alguma chance de vitória se conseguirem dividir o apoio maciço que o governo mostrou com os líderes “donos” do votos em seu palanque e jogar a definição destas eleições para o segundo turno.
O desafio das campanhas menores, sem apelo popular, é um verdadeiro muro, extremamente alto. Como sempre devem ficar abaixo dos 3%.
Já a campanha de Irajá (PSD) vai ter que provar que não é o que parece ser. Com o apoio de apenas os “puxadinhos” Avante e PRTB e poucos prefeitos efetivamente envolvidos — uma vez que os gestores vão mesmo é pensar na dependência que têm do governo para o sucesso de seus mandatos –, o que aparenta é que a candidatura do senador é mero diversionismo para desviar o foco da tentativa da mãe, a senadora Kátia Abreu (PP), na sua dura campanha pela reeleição.
É óbvio que a campanha de Wanderlei não venceu ainda, está muito longe disso, porque há players, como Gomes, que sabem jogar muito bem. Mas a oposição não terá vida fácil. É o que claramente transpareceu do que vi nas últimas e mais importantes convenções.
CT, Palmas, 8 de agosto de 2022.