Já escrevi que o maior desafio político de 2024 do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) é eleger o prefeito de Palmas. No ano que vem fará 24 anos que o Palácio não sabe o que é vencer na Capital. O último vitorioso por aqui foi o governador Siqueira Campos em 2000, com Nilmar Ruiz, um período, como a coluna abordou nesta semana, de contas estáveis, liquidez e muito investimento público.
Em 2004, já sob os abalos sísmicos que varreriam a União do Tocantins a partir do ano seguinte, o Palácio, com Marcelo Miranda no comando, não conseguiu reeleger Nilmar. Apesar do excelente momento do PT – que, com o presidente Lula extremamente fortalecido, fez prefeitos em algumas das principais cidades do Estado, como a Capital (Raul), Porto Nacional (Paulo Mourão), Guaraí (Padre Milton), Dianópolis (José Salomão), entre outras –, talvez a principal razão da derrota da ex-gestora foi o racha de seu grupo político. Siqueira e o então senador Eduardo Siqueira Campos desapareceram e os líderes e seguidores utistas não sabiam o que fazer: entravam ou não na campanha?
Em 2008, ainda sob o governo Marcelo, Palmas impôs outra derrota ao Palácio, que, de novo, apoiou Nilmar. Depois dos excessos para reeleição em 2006, o Estado já começava sua situação de penúria fiscal. Sem a liquidez de cinco anos antes, a segunda gestão de Marcelo patinava na falta de recursos para investimentos e, em outra frente, a combalida UT ameaçava tirar-lhe o mandato com o Recurso contra Expedição de Diploma (Rced) que corria no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Toda dia se anunciava que a cassação ocorreria na semana ou no mês seguinte, o que só acabou se concretizando em setembro de 2009. Também havia muitas denúncias pesando sobre a gestão.
Dessa forma, desgastado pela falta de liquidez e pela movimentação intensa dos opositores, o Palácio viu sua candidata amargar a terceira colocação. Raul foi reeleito e Marcelo Lelis surpreendeu, terminando em segundo lugar.
Em 2012, no quarto governo Siqueira Campos, a crise fiscal já era um fantasma que não só assustava, mas que se tornara palpável. No final de 2010, depois da derrota, o governo Carlos Gaguim usou da bondade com Poderes e órgãos (Defensoria, MPE e TCE), elevando os índices de repasses de todos eles. Já estava em curso, desde maio de 2009, o acordo para pagar a indenização de R$ 183.397.890 em 96 suaves prestações para os policiais militares, por conta do aumento dado apenas ao comandante-geral no governo Moisés Avelino (1991-1994). Além disso, os Planos de Cargos, Carreiras e Salários (PCCSs) concedidos na luta contra o próprio Siqueira, na gestão Marcelo, pesavam sobre as contas públicas.
Foi diante desse quadro que houve a “genial” ideia de juntar a já finada UT com seu arqui-inimigo MDB nas eleições de 2012, tendo àfrente a grande surpresa de 2008, o então deputado estadual Marcelo Lelis. Claro, o palanque desmoronou. A manobra desagradou a gregos e troianos, ou melhor, utistas e seus inimigos emedebistas. Com a outra chapa composta também por líderes tradicionais da política, encabeçada pela então deputada estadual Luana Ribeiro – todos nossos coronéis bastantes desgastados –, um novato e showman, o empresário Carlos Amastha, debutou com sucesso na política estadual e se tornou prefeito da Capital.
Em 2016, de novo sob comando de Marcelo, a crise fiscal estava no seu ápice: servidores com salários pagos no dia 12 de cada mês, fornecedores sem receber ou recebendo com muito atraso, Plansaúde com frequente atendimento suspenso por clínicas e hospitais e o Estado sem a mínima capacidade de investimento. Essa foi a receita do fracasso de outra tentativa do Palácio de eleger o prefeito de Palmas. Mais uma vez, a candidata governista – a época a então vice-governadora Cláudia Lelis – naufragou até a terceira colocação. Amastha foi reeleito, com o segundo lugar para o ex-prefeito Raul Filho, cuja elegibilidade era questionada diariamente.
Em 2020, o fantasma da crise fiscal já havia sido exorcizado pelo então governador Mauro Carlesse, mas ele não passou impune e também pagou o preço do desgaste de enxotar essa assombração. Para ajustar as contas, a partir de 2018, Carlesse cortou gastos, controlou movimentação de frota, uso de celulares, renegociou dívida com fornecedores e, sobretudo, congelou data-base e progressões. Numa cidade administrativa, como é Palmas, isso não tem como passar despercebido.
O Palácio chegou a impor as mãos sobre a cabeça do deputado e pastor Eli Borges, mas preferiu não ir a público clamar por seu escolhido. Carlesse optou por percorrer o interior e se fixar mais em Gurupi, seu território e onde travou uma verdadeira batalha ao lado da então candidata Josi Nunes, vencida na base da cabeça a cabeça, contra o hoje deputado estadual Guiterres Torquato e o então prefeito Laurez Moreira.
Palmas coube ao vice-governador da época, Wanderlei Barbosa, que indicou o candidato a vice de Eli, o empresário Joseph Madeira. A chapa meio governista ficou também em terceiro lugar, como em 2016 e 2008. A segunda colocação foi do deputado estadual Júnior Geo, que fez um campanha tímida, com a prefeita Cinthia Ribeiro reeleita em meio a 12 candidatos.
Hoje as contas públicas estão sob controle, o governo recuperou em boa parte sua capacidade de investimento, pagou retroativos de servidores, os salários são quitados antecipadamente e os fornecedores não sofrem mais as agruras de tempos atrás. Pesquisas mostram que Wanderlei goza de enorme popularidade e ainda pode dar até um tiro de misericórdia nos opositores se conseguir implementar na folha do funcionalismo os 25% conquistados pela categoria junto ao Supremo Tribunal Federal.
Essa vitória em Palmas, caso ocorra, se tornará o marco mais evidente do novo tempo do Estado e dará ainda mais força para os projetos eleitorais governistas de 2026.
O Palácio, nessas mais de duas décadas, nunca teve tantas condições políticas de quebrar o tabu que completará 24 anos. A questão hoje, portanto, não é se o governo tem condições de ajudar seu candidato, mas quem poderia ser encampado por Wanderlei.
A questão é delicada, mas, com a crise fiscal vencida, é a única vital para o sucesso do governo nas eleições de 2024.
CT, Palmas, 4 de outubro de 2023.