“Isso não é de admirar, pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz.” (2CO 11:14)
“Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mateus 7:21)
Tenho visto muitas pessoas saindo em definitivo das igrejas, sobretudo evangélicas, pela porta oposta à que entrou o novo messias delas. Não mais Jesus Cristo, o Filho de Deus, mas Jair Bolsonaro. Esses fiéis não estão se voltando contra seu Mestre, mas obedecendo sabiamente o que Ele disse: “Ninguém pode servir a dois senhores; pois odiará um e amará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro” (Mateus 6:24).
A desculpas mais corriqueiras para a adesão cega, e muitas vezes odiosas, das igrejas ao bolsonarismo são as pautas de costumes e ideológicas. Nessa última, temem “a volta” do socialismo ou do comunismo ao Brasil. Hã? Isso mesmo, para grande parte dos que temem os regimes totalitários de esquerda, o país já os experimentou num passado recente, com os governos de Fernando Henrique Cardoso (tido pela esquerda como neoliberal) e petistas, que fizeram no Brasil gestões de centro, garantindo ganhos estratosféricos aos banqueiros (que socialistas, hein?). Na verdade, esse temor infantilizado do socialismo e do comunismo só confirma o que afirmei nessa terça-feira, 18: essa gente não faz ideia do que se trata.
O outro argumento para se engajar ao bolsonarismo é a pauta de costumes. Acreditam que, vencendo, o ex-presidente Lula vai liberar as drogas, legalizar o abordo, impor banheiros unissex e a tal “ideologia de gênero” nas escolas. É o pacote de fake news que os “tiozões do zap”, “jovens klans” da vida e demais redes de desinformação bolsonaristas disseminam o dia todo. Assim que surgem esses fantasmas.
Como descriminalizar drogas e aborto com o Congresso mais conservador da história da nossa recente – e em risco de terminar a partir do dia 30 – democracia? Sim, porque apenas o Legislativo pode fazer isso. Não é o presidente quem define. O bolsonarismo foi o grande vitorioso da eleição para a nova composição do Congresso que tomará posse em fevereiro. Ainda que Lula vença Bolsonaro, não poderá fugir da necessidade de dialogar com essa base extremamente conservadora, que nunca vai aceitar a aprovação de pautas progressistas.
Sobre banheiro unissex, trata-se tão somente de fake news. Não está em nenhum programa de governo e ainda que alguém fosse pensar nisso enfrentaria a fúria de pais, vereadores e do Congresso altamente conservador. Portanto, a possibilidade disso se tornar realidade é zero.
Já a pauta da tal “ideologia de gênero” – a “doutrinação comunista para a sexualização de crianças nas escolas” – é uma dessas mentiras que colam porque encontram terreno fértil em mentes dogmáticas e preconceituosas. Ninguém quer ensinar menino a ser menina e vice-versa. O que qualquer pessoa minimamente de bom senso defende é que o país precisa, sim, discutir educação sexual com crianças e adolescentes, de forma séria, científica e didática. Só olhar os números da gravidez precoce, do machismo e da misoginia que geram a violência doméstica que mata e aterroriza mulheres diariamente; dos abusos silenciosos contra crianças em lares de famílias “cristãs e de homens de bem”, sem que a vítima saiba como reagir e denunciar; e, sim, a necessidade de se aprender a respeitar a diversidade de orientações sexuais.
Com três coisas, o ser humano terá que lidar na vida até sua morte: sexo, dinheiro e alimento. Assim, defendo não só a educação sexual séria, científica e didática; como ainda a introdução das disciplinas de finanças pessoais e nutrição. Claro, esses tempos obscuros me convenceram de que é preciso ainda ensinar a Constituição, para que nossos alunos cresçam aprendendo amá-la, bem como à democracia, para que ambas jamais sejam ameaçadas novamente.
O que se esconde por trás do medo da educação sexual – não “ideologia de gênero”, que não existe – é o preconceito altamente dogmático, que leva a pessoa a dar mais atenção à pauta moral de 2 mil anos atrás, que é transitória, por estar inserida no costume de uma época atrasada e da prevalência da ignorância; e ignorar solenemente as leis cristãs perenes e nas quais Jesus focou todo seu ensinamento. Veja esse trecho:
“Um doutor da Lei estava aí e ouviu a discussão. Vendo que Jesus tinha respondido bem, aproximou-se dele e perguntou: ‘Qual é o primeiro de todos os mandamentos?’ Jesus respondeu: ‘O primeiro mandamento é este: Ouça, ó Israel! […] Ame ao Senhor seu Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força. O segundo mandamento é este: Ame ao seu próximo como a si mesmo. Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois.” (Mc 12:28-30)
Faço questão de ressaltar a última frase: “Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois”. Ou seja, amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. O resto é perfumaria. Orientação sexual, se é de direita ou esquerda, se é negro, branco, amarelo ou vermelho, de religião A ou B, não importa. Você é cristão de verdade? Então, amigo, ame ao próximo como a si mesmo.
Mas alguém, “querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?” (Lucas 10:29)
Está em dúvida? Vamos lá. O Mestre, então, contou a parábola do bom samaritano, membro de um povo do qual o judeu tinha raiva e asco. Mas Jesus fez questão de colocá-lo como bom em sua história justamente por isso. O samaritano dos nossos dias pode ser o homossexual, o fiel de religião afro-brasileira ou um esquerdista, para citar os principais alvos dos fariseus de nossa época. Na parábola de Jesus, passam religiosos veem o sujeito caído após ser atacado por ladrões, mas não param porque têm compromissos no templo. Quem socorre a vítima é o “desprezível” samaritano.
Gosto especialmente do que Jesus disse após a parábola a quem lhe dirigiu a pergunta, porque ilustra, sem margem a dúvida, quem é o próximo: “Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele [quem perguntou ao Mestre] disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira”. (Lucas 10:36,37)
Por fim, os cristãos bolsonaristas tacham de “comunista” todos que têm preocupação social. Suas vítimas são os autênticos seguidores de Jesus: pastores, padres, bispos e arcebispos católicos, ONGs, filantropos, todos, enfim, os que amam o próximo como a si mesmos. Então, vou deixar de novo Jesus responder em outra parábola:
“Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo;
Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me;
Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.
Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber?
E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos?
E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te?
E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. (Mateus 25:34-40)
Você é verdadeiramente cristão, daquele tipo que segue a Jesus Cristo, o Filho de Deus, e não a satanás disfarçado de anjo de luz ou todo aquele que diz “Senhor, Senhor”? Então haja como o Mestre agiria e te pede que faça.
No dia 30 teremos a eleição mais importante de nossa curta democracia. Definiremos, antes de mais nada, quem somos: anticristãos por disseminarmos ódio, defendermos armas, cheios de preconceito e ignorância; ou se da paz e do amor, como verdadeiros cristãos.
Assim, fica um último texto bíblico, do que Jesus disse no sermão da montanha, para você refletir e orar muito a Ele antes de mostrar nas urnas do que está cheio o seu coração:
“Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra;
Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia;
Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus;
Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus” (Mateus 5:5-9)
CT, Palmas, 19 de outubro de 2022.