Excelente prefeito, Levi Teixeira (SD), de Santa Rosa, foi o primeiro gestor do Tocantins a anunciar apoio à reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL), ainda no primeiro turno. Neste segundo round reforçou que está com Bolsonaro, em vídeo gravado, de forma entusiasmada, pelo segundo suplente de senador, Maurício Buffon (PTB), ex-presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado (Aprosoja-TO).
O prefeito era vice do antecessor, Aílton Araújo (Cidadania), outro brilhante gestor, e antes havia também sido secretário no governo de seu aliado. Sob o comando dos dois, Santa Rosa deu um “boom” econômico, fortaleceu seu comércio, atraiu empresas, se estruturou e as contas da prefeitura são de fazer inveja a municípios bem maiores.
Apesar disso e do apoio do prefeito e do ex-gestor, o desempenho de Bolsonaro na cidade foi um fiasco no primeiro turno. Uma taca monstra: 69,59% para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e apenas 26,84% para Bolsonaro. Não é culpa eles. Mas por que será? Tenho a minha tese.
Estamos numa eleição polarizada desde o ano passado. Nenhum nome da terceira via conseguiu se destacar, e a disputa se dá, desde sempre, entre Lula e Bolsonaro. Isso torna o processo eleitoral extremamente passional, o que faz com que a possibilidade de alguém mudar o voto nesta altura do campeonato seja muito baixa.
Não é por outro motivo que as pesquisas mostram que em torno de 95% dos eleitores dos dois lados afirmam que não mudam mais de rumo, e essa rigidez está muita clara no engessamento dos resultados de todos levantamentos eleitorais feitos neste segundo turno. Os números são praticamente os mesmos que saíram das urnas no dia 2.
Contribui determinantemente para isso a falta de um engajamento mais intenso dos líderes com o processo. Primeiro porque mobilizar eleitores é caro, custa muito dinheiro, que não existe mais uma vez que os candidatos a governador, senador, deputado federal e estadual já ganharam ou já perderam, e na sua maioria está endividada ou sem mais nenhum centavo para pôr na campanha presidencial. E por que iriam pôr?
As direções nacionais dos partidos envolvidos também não têm interesse em investir num colégio de pouco mais de 1 milhão de votos. Querem gastar com São Paulo e Minas Gerais, onde estão o maior contingente de eleitores do país.
Conversando com alguns prefeitos ficou claro para mim que a passionalidade do processo gerou ainda um impasse que, se não tiverem sabedoria, pode prejudicá-los nas eleições que lhes interessam de verdade: as municipais de 2024. Na maioria absoluta das cidades do interior, o ex-presidente Lula venceu com índices bem superior a 50% (em alguns casos chegou a mais de 70%) e Bolsonaro amargou resultados minúsculos, quase sempre na casa dos 20%.
Como um prefeito, que é candidato à reeleição ou que pensa em mostrar força política e fazer o sucessor, vai se desgastar pedindo um voto que contraria a vontade da maioria mais do que absoluta do seu povo? Quem se sente à vontade para virar as costas para seus eleitores são os políticos que conquistaram mandato no dia 2, escondendo quem eram seus candidatos a presidente. Passado o primeiro turno, deram de ombros para quem votou neles, mostraram as garras e acompanharam os que fazem doações gordas para as suas campanhas.
Ignorando a vontade da maioria do povo tocantinense, eles dizem concordar com o que pensa seu candidato a presidente, Bolsonaro, quando afirmou: “Só tem uma utilidade o pobre no nosso país: votar. Título de eleitor na mão e diploma de burro no bolso”. Acho que essa gente que traiu seu eleitorado assina embaixo.
O prefeito não tem como virar as costas para seus eleitores, ou entrará numa onda de desgaste tão forte, que pode não conseguir reverter até 2024. Dessa forma, fazem corretamente: sob a pressão dos poderosos que enfiam neste momento a faca nos seus pescoços, dizem que estão com eles, dão um sorriso de simpatia e voltam a seus afazeres.
Claro, e pensam no dito popular: eles que são grandes e fortes que se entendam; e também neste outro: papagaio que acompanha joão-de-barro vira ajudante de pedreiro, como apregoa meu amigo Vicentinho Alves.
CT, Palmas, 25 de outubro de 2022.