A última vez que o Palácio elegeu o prefeito da Capital – na verdade, a prefeita –, foi em 2000, com a vitória de Nilmar Ruiz (PL), no terceiro governo Siqueira Campos. Depois disso, foi uma sequência de derrotas. Em 2004, com a finada União do Tocantins já agonizando, o então governador Marcelo Miranda não conseguiu a reeleição de Nilmar, que perdeu para o na época petista Raul Filho.
Em 2008, o Palácio já naufragava na crise fiscal que se aprofundaria nos anos seguintes, o que levou a um desgaste enorme do governo junto aos críticos eleitores da Capital. Apesar disso, Raul até buscou o apoio de Marcelo à sua reeleição, mas o governador decidiu insistir com Nilmar. O resultado foi a terceira colocação, já que o então deputado estadual Marcelo Lelis (PV), apadrinhado pelo principal líder da oposição na época, o senador João Ribeiro, surpreendeu e ficou com a segunda colocação.
Em 2012 foi a vez de Siqueira Campos ver seu candidato, o mesmo Marcelo Lelis, novamente ser derrotado. Desta vez para um estreante, o empresário Carlos Amastha, naquelas eleições membro do conservador Progressistas. Os caciques da política tocantinense se dividiram entre os palanques de Lelis e Luana Ribeiro. O profundamente desgastado governo Siqueira ainda teve a genial ideal de misturar alhos com bugalhos – os remanescentes da já sepultada UT com o arqui-inimigo histórico do grupo, o MDB, se aliaram.
Conseguiu com isso desagradar os dois lados, ex-utistas e emedebistas. Na época se dizia, com razão, que essa combinação fez o palanque de Lelis cair. A mistura indigesta somada ao desgaste cada vez mais profundo do governo – a crise fiscal se tornava incontrolável – levou Lelis a perder novamente. Amastha saiu de quase traço nas pesquisas para se tornar prefeito.
Em 2016, o Palácio, já de novo com Marcelo Miranda de inquilino, insistiu em outra Lelis, a então vice-governadora Cláudia. De novo a conta dos abusos fiscais de anos se impôs e a candidata palaciana voltou a amargar a terceira colocação. Amastha foi reeleito e Raul, já pelo então PR (hoje PL), ficou em segundo.
Em 2020, a crise fiscal já havia sido abrandada com os ajustes feitos pelo então governador Mauro Carlesse (Agir), que, diferente de seus antecessores – convidados a não aparecer em alguns municípios como forma de ajudar seus candidatos –, passou a ser chamado para os palanques. Contudo, Carlesse preferiu não entrar na disputa da Capital e coube ao seu vice, Wanderlei Barbosa (Republicanos), um discreto apoio ao candidato Eli Borges (PL), que também encerrou a corrida eleitoral na terceira colocação.
Assim, vencer as eleições de Palmas no ano que vem é importante para o governador Wanderlei. Não apenas como uma conquista pessoal ou mera quebra de um tabu que completará 24 anos. Mas para sinalizar, clara e inequivocamente, que o Palácio vive um novo momento, de aprovação popular da gestão e de seu gestor. Isso, obviamente, vai ter reflexo em 2026, quando, nas eleições estaduais, Wanderlei e seu grupo voltarão a campo – ele, provavelmente, em outra posição, de olho numa das duas vagas do Senado, mas querendo fazer o sucessor.
Por isso, como eleição intermediária, a disputa de Palmas – cujos significados políticos sempre se refletem por todo o Estado – terá valor simbólico muito além da vitória de um candidato a prefeito em si. Será a demonstração plena de que o governo do Estado efetivamente superou sua crise fiscal de 15 anos, recuperou sua boa imagem perante um eleitorado diversificado do ponto de vista geopolítico – já que é composto por cidadãos de todo o País, mas também de todo o Tocantins – e, sobretudo, que conta novamente com a confiança da população mais crítica às ações da administração estadual.
E, chovendo no molhado, tudo isso desembocará em 2026.
CT, Palmas, 7 de março de 2023.