A declaração do deputado federal Ricardo Ayres (Republicanos) ao programa CT Entrevista dá pistas robustas dos rumos que o Palácio Araguaia deve seguir nas eleições de 2024. Os pontos mais elucidativos da fala do parlamentar:
— “O Republicanos terá candidato próprio a prefeito de Palmas em 2024”;
— “Para ser candidato do Wanderlei, antes a gente tem que ser candidato da cidade”.
O presidente regional do Republicanos é o próprio governador Wanderlei Barbosa. Assim, alguém acredita que o diretório metropolitano do Republicanos lançará um candidato, mas o governador vai se insurgir e apoiar outro? Sem a menor chance.
Alguém pode questionar a fala do deputado Ricardo Ayres, que, de repente, não estaria em sintonia com o que pensa o governador e presidente estadual da sigla. Será possível? Não acredito. O parlamentar recebeu de Wanderlei há poucos dias o comando do Republicanos em Palmas. Isso, por si só, diante de um processo eleitoral estratégico para o Palácio como este da Capital, já diz muita coisa.
O governador não entregaria a legenda a alguém que não estivesse em plena sintonia com seu pensamento, que não fosse de sua extrema confiança e que não tivesse competência para conduzir o Republicanos numa eleição tão importante para o partido. Dessa forma, o que Ricardo Ayres falou no programa é, sim, endossado pelo presidente estadual da sigla. Tanto é que, passadas 24 horas da entrevista, não houve qualquer manifestação contrária.
Então, a questão passa a ser outra: quem será o candidato do Republicano. Ayres mesmo disse ao CT Entrevista que é pré-candidato, mas que o partido tem outros nomes. Um dos mais expressivos, devidamente não citado por ele, é o do deputado estadual Valdemar Júnior, que já havia tentado emplacar sua candidatura em 2020, mas o MDB (seu partido na época) decidiu apoiar a reeleição da prefeita Cinthia Ribeiro (PSDB). Valdemar tem toda sua história política em Palmas, onde foi vereador, e possui imensa capilaridade, por ser um radialista talentoso e competente.
De outro lado, Ricardo Ayres também construiu sua história política na Capital, onde ocupou o cargo de secretário do Desenvolvimento Urbano do governo Carlos Amastha (PSB), com um intenso trabalho na área de regularização fundiária, um grave problema social do município.
Diante de dois quadros com capacidade para disputa, além de outros que eventualmente possam surgir, a segunda frase marcante da entrevista ganha também enorme significado: “Para ser candidato do Wanderlei, antes a gente tem que ser candidato da cidade”. Ou seja, o nome do Palácio será do Republicanos, mas a escolha não se dará na base de mero capricho do governador. Os interessados precisarão construir a musculatura para se consolidar. Isso significa conquistar o maior número de aliados de peso no processo e a maior pontuação possível nas pesquisas de opinião pública.
Quem atender esses dois critérios conseguirá, enfim, ser o “candidato do Wanderlei”, porque mostrou ser “o candidato da cidade”.
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Aproveito esta data infame de 31 de março, dia do imoral golpe militar contra o Estado Democrático de Direito no Brasil, para exaltar a democracia nas palavras do dr. Ulysses Guimarães, que ecoarão para sempre:
“A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca.
Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério.
Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o Estatuto do Homem da Liberdade e da Democracia bradamos por imposição de sua honra.
Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo”.
(Discurso histórico na promulgação da Constituição, em 5 de outubro de 1988)
Democracia sempre!
CT, Palmas, 31 de março de 2023.
Assista o programa CT Entrevista com Ricardo Ayres: