As campanhas eleitorais de 2022 terão o maior número de candidatos a governador desde 1988. Oito nomes estão na disputa pela principal cadeira do Palácio Araguaia. Com tantos concorrentes, muitos já garantem que o Tocantins terá um segundo turno numa eleição ordinária depois de 32 anos.
A última vez que isto ocorreu foi em 1990, quando havia três candidatos de peso – Moisés Avelino (MDB), Moisés Abrão (PDC) e Ary Valadão (PDS) –, além do hoje deputado federal Célio Moura (PT). Naquele ano, Avelino e Abrão disputaram na segunda fase da eleição e o emedebista venceu.
Também acredito que é bem possível que o Estado passe por outro segundo turno em 2022. No entanto, volto a insistir no modelo de relação de forças que domina a política tocantinense. Repito: somos um Estado pobre em que a dependência do poder público é muito elevada. Isso reduz drasticamente a autonomia do eleitor de decidir por si só em quem votar.
Sei que é repetitivo, mas necessário insistir nesta questão. Nas cidades onde há um desenvolvimento econômico maior, a dependência é muito menor das ações do poder público e, consequentemente, as pessoas dispõem de muito mais autonomia político-eleitoral. Para suprir as condições objetivas de suas vidas contam com bons empregos e salários, e não precisam mendigar o apoio financeiro e de assistência social da classe política. O resultado disso é que podem decidir por si mesmos em quem votar e em quem não votar.
Diferente das cidades onde o cidadão depende totalmente do líder local para a sua sobrevivência. Nesses municípios ficam cerca de 50% dos eleitores tocantinenses. O emprego é escasso e a vida é muito difícil. As desigualdades são abismais, e essa precariedade da vida é o que concentra o poder político nas mãos de muitos poucos.
Considerando ainda um momento em que os municípios receberam uma enxurrada de verbas federais, via transferências e emendas parlamentares, os prefeitos vivem um excelente momento. Eles mesmos comemoram uma média de aprovação das gestões em torno de 70%.
Assim, se sua força já era grande em eleições passadas, o que sempre fez deles indispensáveis cabos eleitorais, agora é muito maior. Com alta popularidade, esses líderes municipais conseguem levar a maioria dos votos para onde quiserem.
O que se quer dizer com isso é que o resultado das eleições de 2022 passarão necessariamente pelo apoio maciço dos prefeitos tocantinenses, sobretudo do interior mais profundo. Isoladamente, uma pequena cidade significa muito pouco para o resultado de eleição estadual. No entanto, no seu conjunto, esses pequenos municípios são determinantes para a definição do processo eleitoral.
Lembro-me das conversas com o então candidato a governador Carlos Amastha (PSB), em 2018, quando ele teimava que venceria as eleições considerando os votos apenas dos 13 maiores colégios eleitorais do Estado. Eu tentava explicar para ele este modelo de relações de força que aqui descrevo quase toda a semana. Mas ele insistia que venceria da forma como pensava. Então, foi surpreendido ao ser arrancado do segundo turno da eleição suplementar justamente pelos menores municípios tocantinenses.
Sempre afirmei que a votação dos candidatos nos colégios maiores são mais ou menos bem divididos. Um será melhor votado em Palmas, por exemplo, e outros em Araguaína, Gurupi, Porto Nacional e Paraíso. No entanto, não haverá concentração maciça de votos para um candidato apenas.
Já nas pequenas cidades, o poder é concentrado e, consequentemente, os votos também. Dessa forma, quem tiver o apoio da força política local levará para si a maioria absoluta dos eleitores.
Sobre a dúvida inicial, se haverá segundo turno ou não em 2022, esse debate passa por outra questão: como vão se dividir as forças dos municípios.
O maior desafio da oposição ao governador Wanderlei Barbosa (Republicanos) é impedir que o Palácio concentre em seu palanque a maioria mais do que absoluta dos prefeitos. Se ela conseguir isso, provocará o segundo turno, sem dúvida.
E é um trabalho hercúleo. Veja que na convenção do governador havia nada menos que 91 dos 139 prefeitos tocantinenses. Alguns questionam este número, considerando aqueles chefes de executivo locais que apoiam este ou aquele candidato a senador. É um erro muito simples de explicar: um prefeito pode muito bem apoiar o candidato a senador de um lado e, de outro, estar no palanque do Palácio. Isso, inclusive, é muito comum e ocorreu em praticamente todas as eleições.
Dessa forma, se teremos ou não segundo turno em outubro é uma questão que será resolvida quando ficar claro para que lado essas forças municipais vão pender e, principalmente, se estarão bem divididas entre os principais palanques, ou se ficarão concentradas em apenas um.
CT, Palmas, 12 de agosto de 2022.