A eleição para o governo do Tocantins segue em céu de brigadeiro para o Palácio Araguaia, como, aliás, ocorre desde a pré-campanha. Até agora a oposição não foi capaz de provocar arranhaduras que incomodassem a candidatura à reeleição do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos). Claro, é preciso considerar que o processo ainda está no começo, mesmo que não se veja, por enquanto, nenhuma ação no horizonte com força para indicar uma possibilidade de reversão da tendência que as pesquisas de consumo interno das campanhas e aquelas divulgadas têm mostrado. Se continuar nesse ritmo, como a coluna já apontou anteriormente, a definição destas eleições ainda no primeiro turno não será surpresa, por mais que esta não seja a aposta inicial.
Já a eleição para a vaga de senador promete ser a mais acirrada do ano. Na média das pesquisas internas que circulam um poucas mãos, e mesmo aquelas divulgadas segundo o protocolo da Justiça Eleitoral, a corrida pelo Senado tem dois pelotões claramente definidos. Um pouco à frente, e bem emboladas, as duas mulheres mais competitivas deste processo, a atual “dona” da vaga, Kátia Abreu (Progressistas), e Dorinha Seabra Rezende (União Brasil).
O segundo pelotão é composto pelos senhores, o ex-prefeito de Palmas Carlos Amastha (PSB), o ex-senador Ataídes Oliveira (Pros) e o ex-governador Mauro Carlesse (Agir). Na média dos números que a coluna tem visto, os três também embolados. Na maioria das pesquisas, uma leve vantagem nesse segundo pelotão para Amastha e Carlesse; mas, em outros levantamentos, Ataídes também se destaca.
O fato é que a questão não está decidida. Muito pelo contrário. Como muitas vezes ocorre numa maratona, o primeiro pelotão tende a se cansar, após tanto esforço, e ser alcançado pelo segundo. É lógico que aqui não estamos tratando de desgaste físico, como numa corrida de longa distância, mas de limites de ascensão de cada competidor.
Esse limite parece ser maior em relação à senadora Kátia Abreu. Ela vem enfrentando, como a coluna já afirmou em outras oportunidades, um desgaste ao longo desses 16 anos de dois mandato, de um lado, por conta do tempo de exposição em si, o que naturalmente contribui para o esgarçamento da relação política; e, de outro, pelo jeito de ser próprio de Kátia. Ela protagonizou confrontos desnecessários com líderes tocantinenses, além das posições que tomou contrárias a seu eleitor mais engajado, o do agronegócio. Exemplo claro foi seu empenho para tentar impedir o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Dorinha é um nome leve nesta campanha, com certeza, o menos desgastado e aquele que está em maior da ascenção, depois do excelente desempenho da deputada federal na sua luta em prol da educação. Está em campanha pelo Senado oficialmente desde o início do ano, mas seu nome vem sendo cogitado há bem mais tempo. O fato de estar agregada ao palanque governista gera algum desgaste, como os atritos de pré-campanha para decidir para onde se mover. Tudo isso é sempre um rebaixador de teto de crescimento. A questão é saber até que ponto esses fatos poderão atrapalhar sua campanha, ou se terá um bom desempenho, apesar deles.
Já os três senhores destas eleições conquistaram fôlego para a disputa mais recentemente, ainda que os nomes de Ataídes e Carlesse, muito mais do que Amastha, sempre estivessem cogitados como possibilidades para o Senado. O ex-governador seria difícil de ser vencido se tivesse se mantido no comando do Palácio Araguaia. Com o afastamento, perdeu o bom vento da máquina soprando a seu favor.
De toda forma, Carlesse não é um nome a ser menosprezado. A coluna já afirmou algumas vezes, para gostos e desgostos, que o ex-governador fez, sim, uma excelente gestão, quando confrontada com aquelas desastrosas que ocorreram antes dele, desde 2007. Ajustou as contas do estado, deu liquidez ao Tesouro e iniciou obras importantes nos municípios. O que significa que Carlesse tem efetivamente o que mostrar ao eleitorado. Se ele conseguir superar o desgaste natural do seu processo de afastamento, não há dúvida de que será um forte concorrente na reta final.
Ataídes fez um movimento inteligente ao buscar o apoio de vereadores de todo o Tocantins, que, segundo diz, já somam mais de 800. São eles que estão na ponta, no contato direto e atendendo as pessoas. Se o ex-senador realmente fidelizar todo esse grupo em sua campanha, terá muito fôlego para a chegada.
Paralelo a esse movimento eleitoral, é preciso considerar ainda que Ataídes foi um excelente senador. Teve participação muito atuante em CPIs de grande repercussão nacional, na discussão de temas bastante pertinentes ao país e na destinação de recursos para o Tocantins, sobretudo no setor de habitação.
Carlos Amastha é um homem que mudou o patamar da gestão pública municipal no estado, ao lado de ex-prefeitos como hoje o candidato a governador do PL, Ronaldo Dimas, em Araguaína; e o candidato a vice-governador do PDT, Laurez Moreira, em Gurupi. O ex-gestor de Palmas transformou a imagem da cidade, deu qualidade à saúde à educação, construiu obras estruturantes importantíssimas e resgatou o orgulho do cidadão por sua cidade. Isso não é pouca coisa para oferecer ao eleitorado. Como possível ponto de desgaste neste momento, Amastha tem essa relação estranha de PSB, aliado do ex-presidente Lula, e PL, do presidente Jair Bolsonaro. Não há dúvida de que, dependendo do nível de contaminação do Tocantins pela radicalização tóxica nacional, o ex-prefeito da capital pode ter alguns arranhões. Porém, a expectativa geral é de que Amastha seja um finalista altamente competitivo nessa disputa pela vaga de senador.
Como se vê, Kátia e Dorinha têm, ainda neste momento, as maiores chances de ficarem com a vaga, mas, sem dúvida alguma, os três homens desta competição darão muito trabalho a essas duas senhoras.
CT, Palmas, 25/08/2022.