O único confronto direto entre os candidatos a governador do Tocantins, promovido pela TV Anhanguera no final da noite dessa terça-feira, 2, foi muito chato. Altamente recomendado para quem sofre de insônia. Sem o governador Mauro Carlesse (PHS), a conversa ficou naquelas propostas desconectadas da realidade orçamentária, dentro dos planos da utopia da gestão perfeita.
Nas duas horas de programa houve apenas dois confrontos: um interessante, logo na primeira pergunta do candidato da Rede, Márlon Reis, sobre a moralidade do governo Carlos Amastha (PSB), em Palmas; e outro entre César Simoni (PSL) e Bernadete Aparecida (Psol), sobre o maniqueísmo esquerda-direita.
[bs-quote quote=”Debate não é uma conversa de varanda entre vizinhos, mas uma mistura de jogo de xadrez e MMA para, com frases e palavras bem contextualizadas, colocadas em momentos oportunos, levar o oponente às cordas e deixá-lo sem ter para onde correr e até como respirar” style=”default” align=”right” author_name=”CLEBER TOLEDO” author_job=”É jornalista e editor do CT” author_avatar=”https://clebertoledo.com.br/wp-content/uploads/2018/02/CTAdemir60.jpg”][/bs-quote]
Depois da primeira pergunta, Amastha evitou de toda forma pisar em campo minado, ou seja, perguntar para Márlon, e elegeu Simoni como seu preferido, e os dois mantiveram diálogos altamente cordiais e civilizados, a ponto de que nada do que diziam se destacava ou se se retinha na memória dos telespectadores.
O candidato do PSL e também Bernardete, como é comum a candidatos iniciantes, não entenderam que debate não é uma conversa de varanda entre vizinhos, mas uma mistura de jogo de xadrez e MMA para, com frases e palavras bem contextualizadas, colocadas em momentos oportunos, levar o oponente às cordas e deixá-lo sem ter para onde correr e até como respirar.
No confronto que mais interessou, na abertura do debate, ao responder Márlon, Amastha, sempre com retórica impecável, voltou a escamotear a verdade sobre o PreviPalmas num jogo de palavras e numa mentirinha deslavada.
No jogo de palavras, o ex-prefeito de Palmas insiste em dizer que deixou um volume de recursos no fundo de Previdência dos servidores públicos do município muito maior do que quando assumiu. Isso é óbvio. Ele recolheu mês a mês, durante cinco anos, de 11 mil funcionários e repassou a contribuição patronal. Claro que esse fundo cresceria geometricamente. Não é esta a questão. O problema, que ele não responde de jeito nenhum, é por que sua gestão tirou R$ 50 milhões, bem seguros na Caixa ou no Banco do Brasil, e enfiou praticamente a fundo perdido no tal Cais Mauá, de Porto Alegre (RS). Os especialistas garantem que esse dinheiro do servidor de Palmas nunca mais será visto.
Se não é verdade, peçam para Amastha conversar com sua sucessora, Cinthia Ribeiro (PSDB), e com o presidente do PreviPalmas para que retirem esses R$ 50 milhões dos fundos Cais Mauá e Tercon, cuja administradora é a Icla Trust, a mesma NSG Capital que já tinha gerado prejuízos ao Instituto de Gestão Previdenciária do Estado (Igeprev). Assim acabam todos os problemas e questionamentos. Simples. Essa dinheirama volta para os cofres do instituto do servidor palmense e tudo está resolvido.
Tentaram isso de todo jeito. Houve várias reuniões em São Paulo, quando a verdade estourou aqui na Capital. E não conseguiram, e não vão conseguir. Esse dinheiro está retido lá e por lá ficará.
O relatório da comissão designada pelo próprio PreviPalmas para apurar danos causados por essas aplicações de risco afirma que Amastha e ex-auxiliares de sua gestão são os “principais responsáveis” pelos prejuízos “atuais e futuros” desses investimentos.
Outro ponto foi uma mentirinha contada pelo candidato do PSB, quando disse que foi ele quem pediu a instalação da CPI do PreviPalmas na Câmara. Essa comissão é resultado de um requerimento do vereador de oposição Júnior Geo (Pros). O que a bancada de Amastha no Legislativo fez foi se sentar sobre ele por mais de um ano. Geo apresentou o requerimento com as assinaturas necessárias em abril do ano passado. Em fevereiro deste ano, na abertura dos trabalhos legislativos, a Mesa Diretora da Câmara se comprometeu a instalar a CPI, e nada.
Todos se lembram do bolo de aniversário de um ano que Geo levou à Câmara para comemorar o primeiro aniversário de enrolação da bancada do ex-prefeito para evitar que a CPI saísse do papel. O vereador tentou levar esse bolo à sessão de renúncia de Amastha em 3 de abril e houve até princípio de confusão. A comissão só pôde iniciar os trabalhos quando o vice-presidente do Legislativo, Léo Barbosa (SD), da oposição, assumiu por uns dias a Câmara e instalou os trabalhos, isso quando o agora candidato já era ex-prefeito.
Outro fato marcante do debate dessa noite foi a evocação dos ausentes. Bernadete, com o bordão “Marielle vive!”, levou à lembrança de todos, em várias ocasiões, a vereadora do Rio Marielle Franco (Psol), assassinada este ano; Simoni ressaltava a cada frase seu presidenciável, Jair Bolsonaro; Amastha não tirava o governador Carlesse do pensamento e da boca; e Márlon Reis, digamos, animista, invocava com frequência a Ficha Limpa.
Fora isso, o último e único debate destas campanhas foi só canseira e enfado, evento meramente protocolar e que em quase nada contribuirá para a decisão do eleitor.
CT, Palmas, 3 de outubro de 2018.